FUTEBOL

Série D: Ceilândia bate o Água Santa com gol no fim e vai às oitavas

Gato Preto vence por 1 x 0, graças à visão do meia Tarta em cobrança de falta, quebra jejum de times do DF contra paulistas e mantém vivo o sonho do acesso à terceira divisão. Próximo adversário será o Barra-SC

Sinergia entre torcida e jogadores foi fundamental para o avanço do Ceilândia às oitavas da Série D do Brasileiro -  (crédito: Diller Abreu/FFDF)
Sinergia entre torcida e jogadores foi fundamental para o avanço do Ceilândia às oitavas da Série D do Brasileiro - (crédito: Diller Abreu/FFDF)

Muitos fantasmas rondavam o Ceilândia antes do duelo que valia vaga nas oitavas de final da Série D do Campeonato Brasileiro. Desde 1989, nenhum clube do Distrito Federal eliminou um adversário paulista em competições nacionais. Foram 17 tentativas. Todas frustradas. A última vitória de um candango sobre um time do estado de São Paulo foi em 2020, quando o Brasiliense desbancou o Mirassol por 2 x 0 no jogo de volta da fase entre os 16 melhores da quarta divisão, após perder por 4 x 0 na ida. Neste sábado (9/8), o time da região mais populosa do DF quebrou esse tabu ao bater o Água Santa por 1 x 0, com gol de Tarta, e avançar ao segundo mata-mata, contra o Barra-SC.

Havia outro temor pairando sobre o Abadião: a lembrança amarga de 2023, quando o Gato Preto caiu nos pênaltis, em casa, para o Caxias, no penúltimo passo antes do acesso. Após ceder o empate fora de casa para o Água Santa na semana passada, neste sábado sábado, o alvinegro do DF aproveitou a chance de transformar o ambiente e, enfim, exorcizar os fantasmas do passado.

Adelson de Almeida montou uma arapuca para prender o Água Santa no "Desertinho" que é o Estádio Abadião. O ataque tinha Regino como referência no centro, Kennedy pela direita – apagado durante boa parte do primeiro tempo – e Romarinho aberto como um ponta pela esquerda, setor em que fazia boa dobradinha com o lateral Lucas Piauí.

Tarta, o camisa 10 à moda antiga, distribuía o jogo com passes curtos. Sem a bola, o Gato Preto não dava trégua. Marcava alto, travava o meio e bloqueava as opções de passe. O time paulista ficava encurralado na bem postada marcação. Tamanho domínio, no entanto, não foi convertido em boas oportunidades. As finalizações de Tarta e Kennedy de fora da área até contavam com um truque do gramado — um pedaço gasto na pequena área que fazia a bola quicar estranha, como se tivesse vida própria. Mas os chutes saíram mansos, fáceis para Luan Ribeiro segurar.

O nervosismo ceilandense aparecia em detalhes: passes errados, domínios atrapalhados e escolhas apressadas, quase sempre punidas com um contra-ataque paulista. A melhor chance do Água Santa nasceu em cobrança de falta. O goleiro Sucuri, precisou de reflexo para defender de manchete, tal qual um líbero no vôlei. A válvula de escape dos paulistas era Luan Santos – substituto do artilheiro João Guilherme, autor do gol no jogo de ida e expulso na mesma ocasião.

Rápido e abusado, o camisa 7 tentava acelerar pelo lado direito e arrancar espaços na defesa do Ceilândia. Sem grandes chances durante todo o primeiro tempo, a emoção, curiosamente, surgiu numa cena digna de várzea, relembrando as raízes do time de São Paulo. Regino e Eduardo se estranharam na lateral e terminaram com as mãos no pescoço um do outro. Amarelo para ambos.

Kennedy, apagado durante a primeira etapa, tornou-se peça fundamental após o retorno do vestiário. Provavelmente, resultado dos gritos ecoados por Adelson de Almeida antes do término do primeiro tempo. O treinador gritava para o jogador “acordar pra vida”. Funcionou, e ele voltou para o segundo tempo como outro jogador.

Na primeira chegada da parcela final, Lucas Silva soltou um petardo e obrigou uma grande defesa do goleiro paulista. Ele espalmou para dentro da área, mas Kennedy chegou atrasado para finalizar. Praticamente no lance seguinte, o camisa 7 fez boa jogada pela direita e cruzou em profundidade para Romarinho aparecer sozinho dentro da área. A bola veio à meia altura e o atacante improvisou um voleio, mas isolou. Ao menos, agora o Ceilândia mostrava mais ímpeto no setor ofensivo. 

Seguiram as chances desperdiçadas do Ceilândia. Romarinho era inteligente para despistar a marcação e aparecer livre na área. Desperdiçou outras duas oportunidades, antes de ser substituído por cansaço. O jogo caminhava para os tão temidos pênaltis no Abadião. Na marca de 41 minutos, o ar de tensão pairava sobre o estádio até o instante em que Tarta foi derrubado por Eduardo Ribeiro rente à linha lateral. O jogador paulista já tinha amarelo devido à confusão no primeiro tempo e tomou o segundo: expulso.

Com um a mais, as esperanças aumentaram ainda mais. O "pacto" do futebol popular diz que quem sofre bate. O camisa oito assumiu a responsabilidade da cobrança e, mesmo de longe, mandou direto. Luan Ribeiro, goleiro do Água Santa, se precipitou e saiu para “catar borboletas”. A bola encobriu o arqueiro e morreu no fundo da rede para garantir a classificação ceilandense e exorcizar velhos traumas.

O meia Tarta comemora o gol que classificou o Ceilândia às oitavas da Série D
O meia Tarta comemora o gol que classificou o Ceilândia às oitavas da Série D (foto: Diller Abreu/FFDF)

Próximo desafio

O Ceilândia retorna a campo na próxima semana. A equipe do Distrito Federal abrirá o confronto contra o Barra-SC em casa. A volta será em Balneário Camboriú (SC), devido aos catarinenses terem melhor campanha. Datas e horários serão confirmados pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Na segunda fase, a equipe da região Sul desbancou o Cascavel-PR por 4 x 0 no placar agregado.

Ficha técnica

Ceilândia 1 x 0 Água Santa
Série D do Campeonato Brasileiro (2ª fase, jogo de volta)
Local: Estádio Abadião, Ceilândia (DF)
Árbitro: Diego Fernando Silva de Lima
Público e renda: Não informado 

Ceilândia — 1 Edmar Sucuri; Paulinho (Bolt), Euller, Lagoa (Júnior Timbó), Badhuga; Kennedy, Tarta, Lucas Piauí; Regino (Valter Bala), Lucas Silva, Romarinho (Edson Reis). Técnico: Adelson de Almeida
Cartões amarelos: Euller, Tarta, Regino, Edson Reis e Júnior Timbó.
Gol: Tarta (41’) 

Água Santa — 0 Luan Ribeiro; Eduardo Ribeiro, Joilson, Gabriel Vidal, Villian; William Bahia Luan Santos (Rodrigo Carioca), Cesinha; Lucas Duni (Marquinhos), Felipinho (Alison), Bruno Vinicius. Técnico: Allan Dotti
Cartões amarelos: Eduardo Ribeiro (2), Gabriel Vidal, Rodrigo Carioca 

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postado em 09/08/2025 18:20 / atualizado em 09/08/2025 18:28
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