
José Reinaldo de Lima comemorou 255 gols em 475 partidas com a camisa do Atlético-MG e se orgulha de ser o maior artilheiro da história do clube de 117 anos. Durante a ditadura militar no Brasil (1964 a 1985), foi corajoso ao erguer o punho cerrado, gesto político inspirado pelo movimento militante Panteras Negras nos Estados Unidos como resistência aos regimes militares e ao racismo. Dono da maior média de gols numa única edição do Campeonato Brasileiro, com 28 marcados em 18 partidas na edição de 1977, foi perseguido durante o período sombrio no país, impedido de disputar a Copa do Mundo de 1982 pela Seleção. Ontem, recebeu perdão da Comissão de Anistia Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) e teve concedida indenização de R$ 100 mil em parcela única.
Focada no compromisso com a memória, a verdade e a justiça, a Comissão de Anistia se reuniu em Brasília para a 10ª sessão e analisou pela manhã 20 pedidos para reconhecimento do perdão. A decisão pela reparação com Reinaldo foi unânime. Emocionado, o ex-jogador relembrou o período em que foi monitorado pelo Sistema Nacional de Informações (SNI), órgão ligado ao regime e braço de prisões e torturas.
"Talvez, vocês se lembrem da minha trajetória nos campos, mas pode ser que não saibam da luta, muitas vezes silenciosa, que tive que enfrentar. Todos nós sabemos dos horrores da ditadura que tiraram a vida de tantos brasileiros, mas a repressão do Estado foi muito além dos porões e das celas e não usava só a violência física. Eles criavam campanhas de difamação, verdadeiras operações para acabar com a reputação e a vida social das pessoas que eles consideravam inimigos ou ameaças; era uma máquina de propaganda e mentiras que agia nas sombras com resultados terríveis na vida real", relatou, durante o pronunciamento.
Natural de Ponte Nova (MG), Reinaldo foi revelado pelas categorias de base do Atlético-MG e estreou profissionalmente em 28 de janeiro de 1973 e venceu 289 dos 475 jogos pelo clube. Os principais títulos do "Rei", como foi carinhosamente apelidado pela torcida, são as Taças de Minas Gerais de 1975 e 1976, além dos oito troféus do Campeonato Mineiro (1976, 1978, 1979, 1980, 1981, 1982, 1983 e 1985). No Brasil, também defendeu Palmeiras, Rio Negro-AM e Cruzeiro. Também teve breve passagem pelo BK Hacken, da Suécia, e encerrou a carreira do Telstar, da Holanda, em 1988.
Pela Seleção, o centroavante de 1,72m disputou 29 partidas e balançou as redes 11 vezes. Disputou a Copa do Mundo de 1978, a Copa América de 1975. Antes do Mundial de 1978, realizado na Argentina em plena ditadura, Reinaldo foi advertido pelo general Ernesto Geisel e pelo presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD, atual CBF), Heleno de Barros Nunes, para evitar manifestações. A ordem, porém, foi desacatada. Na estreia contra a Suécia, Reinaldo marcou o gol que evitou a derrota para a Suécia, no empate por 1 x 1, e ergueu o punho cerrado.

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