
Gabriela Gonçalves Dias Moreschi tinha 19 anos de idade e três de carreira no handebol quando viu a Seleção Brasileira alcançar o patamar mais alto da modalidade ao conquistar, pela primeira vez, o título do Campeonato Mundial Feminino de 2013, na Sérvia. Certamente, inspirou-se nas goleiras Babi Arenhart e Mayssa e em outras peças importantes daquela campanha na Sérvia. Doze primaveras depois, a paranaense de Maringá nutre o sonho de uma campanha dourada. Embora tenha participado das últimas três edições do torneio (2017, 2019 e 2023), ainda não havia alcançado as quartas de final, como nesta temporada. Nesta terça-feira (9/12), às 13h15, ensaia fechar o gol contra a Alemanha, em Dortmund e recolocar o Brasil entre os quatro melhores da badalada competição. SporTV2 e Cazé TV (YouTube) transmitem.
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O Brasil não disputa uma semifinal de Mundial Feminino justamente desde a participação vitoriosa em 2013. Portanto, há uma motivação maior em eliminar uma das anfitriãs da competição — a Alemanha organiza ao torneio ao lado da Holanda. A Seleção Brasileira está equilibrada sob o comando do técnico Cristiano Rocha, com cinco vitórias em seis partidas. Há, claro, mérito da comissão de frente, com 178 gols marcados, mas a consistência defensiva e o protagonismo de Gabi Moreschi assegurou triunfos importantes, como o inédito contra a Suécia, na primeira fase. O desempenho coloca o país como oitava melhor defesa do torneio, que começou com 32 equipes.
"Nossa defesa está melhor a cada dia. A cada campeonato, estamos nos conhecendo um pouco mais. As meninas estão trabalhando muito para que esse resultado aconteça" Gabi Moreschi, goleira da Seleção Brasileira de handebol
"Sempre digo que as goleiras não são nada sem uma boa defesa. Elas estão fazendo um trabalho incrível, de muita troca, muita conversa. Estamos conversando muito antes dos jogos, durante os jogos, para tentar melhorar, para tentar ser melhor contra os nossos adversários. Esse conjunto é o diferencial", analisa em entrevista ao Correio.
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A Seleção Brasileira é uma mescla entre experiência e juventude. Cinco das 18 jogadoras chamadas disputam pela primeira vez o torneio. A maior novidade na lista foi o retorno de Alexandra. A ponta-direita esteve presente na campanha do título inédito do Brasil em 2013. Também há espaço para um brasiliense. Aos 21 anos, a armadora Kelly Rosa disputa a competição pela segunda vez e com a experiência de uma Olimpíada, em Paris.
"É uma menina incrível, com uma família maravilhosa que apoia ela bastante. Eu acho isso muito bonito de ver, muito esforçada. Sempre treinando muito, treinando extra. Muito dedicada nos treinamentos, no vídeo, nos jogos. E ela é uma peça muito importante para nós. Fico muito feliz de ver que essa geração, mesmo bem novinha, ela tem a cabeça muito boa no lugar", compartilha Gabi.
A retaguarda brasileira será exigida nesta terça. A Alemanha é uma das quatro seleções invictas no torneio e dona do quarto melhor ataque, com 202 marcados. Embora as alemãs tenham o favoritismo na partida e o fator casa, Gabi Moreschi e companhia tem motivos para crer na vitória. Em 13 de julho do ano passado, a companhia verde-amarela desbancou as europeias justamente em Dortmund, por 36 x 31, em amistoso antes dos Jogos Olímpicos de Paris-2024, com a paranaense em quadra.
E, por falar em Olimpíada, a versão francesa dos Jogos no ano passado elevou o patamar de Gabi Moreschi e a colocou em evidência. Paredão verde-amarelo na campanha na fase de grupos, viralizou, sobretudo, pelas intervenções na estreia contra a Espanha. O Brasil venceu por 29 x 18, com 14 defesas da goleira em 31 arremessos adversários.
"Fico muito feliz com tudo que aconteceu na Olimpíada e na minha carreira. Eu recebo muitas mensagens de pessoas falando que começaram a acompanhar o handebol depois dos Jogos Olímpicos. Trabalhei por muitos anos com muita seriedade, treinando muito em todos os clubes que passei. Sinto que fiquei mais madura a cada vez que passa. Essa responsabilidade que tenho hoje na Seleção Brasileira, faz-me ser uma goleira e uma pessoa melhor", reflete.
Gabi faz parte da imensa maioria de jogadoras da Seleção Brasileira que precisaram arrumar as malas para viver do handebol. Das 18 jogadoras convocadas pelo técnico Cristiano Rocha, apenas uma atua no cenário nacional, a ponta-esquerda Jamily Felix é vinculada ao Clube Português de Recife. "É um ciclo natural. As jogadoras começam no Brasil, mas seguem a carreira na Europa, porque é aqui que há as maiores e mais difíceis competições do mundo. Se quisermos mesmo estar no nível, estar disputando com as melhores seleções do mundo e estar diariamente com as melhores jogadoras do mundo", analisa.
A goleira lembra que essa receita foi utilizada em 2013 e pode servir para o Brasil ir mais longe neste ano. "Essa é a chave, que foi já lá em 2013, quando as meninas foram campeões do mundo, que estava a equipe inteira munida jogando junto fora e segue sendo assim. Quando você treina e joga contra as melhores do mundo pode se considerar uma também."
Nesta jornada no Mundial, o Brasil desbancou diferentes escolas da modalidade, como Cuba, República Tcheca, Suécia, Coreia do Sul e Angola. A única derrota foi para a Noruega, tricampeã olímpica (Pequim-2008, Londres-2012 e Paris-2024). "Tecnicamente, as equipes são muito niveladas, é um campeonato do mundo, mas o que nos diferencia é o espírito brasileiro mesmo, nosso sangue. Estamos unidas, dentro e fora de quadra", reforça.
Se derrotar a Alemanha, o Brasil terá a chance da revanche contra a Noruega ou medirá forças com Montenegro. Do outro lado da chave, jogam Dinamarca x França e Holanda x Hungria.

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