
A morte de Brigitte Anne-Marie Bardot aos 91 anos, ontem, em Saint-Tropez, no sul da França, resgata uma icônica tabelinha da atriz, modelo e ativista francesa com o Rei do Futebol. Era 31 de março de 1971. O Santos embarcou de São Paulo rumo à Europa depois de uma derrota por 2 x 0 para o Palmeiras pelo Campeonato Paulista com Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, e companhia para um amistoso contra um combinado nacional formado por Olympique de Marselha e Saint-Étienne no Parque dos Príncipes, em Paris.
Os organizadores promoveram o encontro com Brigitte Bardot no gramado. A rainha tinha 37 anos. Pelé, tricampeão mundial no México em 1970, 31. "Para aquela ocasião especial, Jean Bouquin me vestiu com uma camiseta azul, um minishort branco e botas vermelhas. Foi uma epopeia sem precedentes", lembra ela no Memórias de Brigitte Bardot, Iniciais BB, editado pela Scipione em 1997.
"Como nunca havia posto os pés num estádio e menos ainda no Parque dos Príncipes, estava gelada de medo quando, precedida por Pelé, desci para o meio daquela arena onde 30 mil espectadores me observavam! Perdida no meio dos times, cercada de fotógrafos e câmeras de TV, dei um chute enraivecido na bola, que aterrissou diretamente na cabeça de um dos fotógrafos que metralhava. Foi demais, foi demais", diverte-se.
Em seguida, Brigitte Bardot relata alguns aborrecimentos. "Cumprida a missão, corri o mais rápido que pude para a escada onde Christian me esperava. No dia seguinte, os jornais me deram o título extremamente lisonjeiro de gazela branca", conta. "Entrentanto, tive a maior dificuldade para sair ilesa daquele inferno. Cercada por todos os lados, precisei me refugirar nos vestiários, cujas portas a multidão não demorou a arrombar, e fui obrigada, como um animal perseguido, a procurar refúgio nos chuveiros", lamenta.
A tietagem para chegar perto de Brigitte Bardot no gramado fugiu do controle. "Nunca me esqueci de Jicky, de Christian, de Jean Bouquin e de Christian Brinccourt, enviado especial da TV e apelidado pelos que me dedicara La Brinque, tentando, junto com os tiras, me proteger com o corpo, com a força, com a amizade e com o amor, do maremoto humano, devastador e surdo que é chamado de multidão", escreve na biografia.
Em meio aos contratempos, Pelé ganhou o dia. O escritor Ruy Castro faz uma revelçaão no livro Os Garotos do Brasil - Um Passeio Pela Alma dos Craques. "O Edson era louco por ela (Brigitte Bardot), mas não podia ver seus filmes, porque eles eram proibidos para menores de 18 anos", compartilha o craque das letras sobre o Rei do Futebol.
Primeiro a chamar Pelé de Rei, Nelson Rodrigues comparou a beleza do jogo do melhor jogador de todos os tempos ao patamar de Brigitte Bardot. "É um menino, um garoto. Se quisesse entrar num filme de Brigitte Bardot, seria barrado, seria enxotado. Mas reparem: — é um gênio indubitável. Digo, e repito: — gênio. Pelé podia virar-se para Michelangelo, Homero ou Dante e cumprimentá-los com íntima efusão: — 'Como vai, colega?'… "De fato, assim como Michelangelo é o Pelé da pintura, da escultura, Pelé é o Michelangelo da bola. Um e outro podem achar graça de nós, medíocres, que não somos gênios de coisa alguma, nem de cuspe à distância", rende-se o escritor na crônica Meu Personagem da Semana publicada na Mancheter Esportiva.
Brigitte Bardot namorou um franco-marroquino-brasileiro. O romance com o jogador de basquete aposentado do Flamengo Bob Zagury começou na vinda ao Brasil em 1964. Questionada para qual time torcia no país na passagem pelo Rio de Janeiro, ela respondeu de mãos dadas com Zagury: "Eu sou Flamengo". Ela e o parceiro eram encantados por Armação dos Búzios, o ponto predileto do ícone do cinema nas viagens ao Brasil.

Esportes
Esportes
Esportes