Educação

Professora do DF humilha aluno autista e mãe procura polícia; ouça áudios

Caso também é investigado pela Corregedoria da Secretaria de Educação. Nos áudios, a professora pede aos berros para um dos alunos com autismo "falar direito"

Pablo Giovanni
postado em 07/07/2023 10:48 / atualizado em 07/07/2023 16:09
Na gravação é possível também ouvir as crianças chorando pela forma despreparada da professora em lidar com os estudantes -  (crédito: Reprodução/Redes Sociais)
Na gravação é possível também ouvir as crianças chorando pela forma despreparada da professora em lidar com os estudantes - (crédito: Reprodução/Redes Sociais)

Uma professora é investigada pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), após ser flagrada em áudios humilhando aluno de uma classe especial, da Escola Classe 8, do Guará. O caso ganhou repercussão nos últimos dias após uma mãe perceber que o filho, de 11 anos, com transtorno do espectro autista (TEA), estava com alterações no comportamento e se automutilando.

Para colocar a limpo a desconfiança sobre a atuação da professora, a mãe de um dos alunos, a aromaterapeuta Marina Valente, 34, ligou o gravador de voz do tablet que o filho leva para a escola todos os dias. Nos áudios, a professora, de 43, berra com os alunos com TEA e, em um dos momentos, manda aos gritos para um dos estudantes ‘falar direito’. “Fala direito, ‘tá’ morto? Mexe a boca para falar”. Ao fundo, a criança repetiu da forma “correta”, como solicitava a professora.

Na gravação é possível também ouvir as crianças chorando pela forma despreparada da professora em lidar com os estudantes. Ouça:

“O meu filho está sob os cuidados, porque estamos buscando as terapias necessárias. Ele está com sintomas de pós-trauma, bastante ansioso quando ouve os áudios na televisão da professora. Ele morde a mãozinha, que já era um sinal que ele vinha apresentando no começo quando começamos a identificar que algo estava errado. Ele vai ficar bem, estamos buscando apoiá-lo nesse momento”, contou Marina, à reportagem.

A aromaterapeuta decidiu procurar a polícia por conta da falta de atitude da direção da escola sobre o caso. Ela conta que procurou a direção, mas disseram que nada poderiam fazer sobre o caso porque a professora era “servidora concursada”. O filho de Marina não foi mais à escola. O menino sempre fica ansioso quando o ônibus escolar passa na rua. “Quando o ônibus passa, ele ouve o barulho. Fica bastante nervoso. Apresenta crime de pânico, acelera o coração, tenta se esconder. Estamos explicando para ele que está tudo bem, que já passou, que vai ficar tudo bem e que a escola é um lugar legal”, completou.

Além de Marina, outras duas mães procuraram a 4ª Delegacia de Polícia (Guará II) para denunciar a docente. Em um desses casos, uma das crianças chegou a fugir de casa, dizendo que a “tia (a professora) era má”.

A professora prestou depoimento na quinta-feira (6/7) na delegacia, e admitiu que a voz nos áudios divulgados é dela, mas preferiu ficar calada quanto às acusações que foram feitas. Uma outra docente também prestou depoimento.

O Correio não conseguiu contato com a defesa da professora citada na reportagem.

Manifestação

Está marcada para a tarde desta sexta-feira (7/7) uma manifestação em frente a regional de ensino no Guará. Com a possível negligência da direção, Marina formulou uma denúncia enviada à secretária de Educação, Hélvia Paranaguá, pedindo o afastamento da diretora da instituição. No boletim de ocorrência registrado pela professora, Andreia aparece como uma das testemunhas.

Na denúncia, Marina expõe sobre a violência psicológica contra as crianças com transtorno do espectro autista (TEA) na escola, e cita que em 12 de junho, o filho dela não queria descer do ônibus para entrar na sala de aula onde a professora dava aula.

“A partir da oitiva dos áudios, percebe-se que a professora não possui a aptidão e o equilíbrio necessários para lidar com crianças, sobretudo com aquelas com necessidades especiais”, diz a mãe. “A partir dos áudios gravados, é possível perceber que a grande maioria das agressões verbais e gritos não foram proferidas no horário de recreio da escola, mas durante o horário regular das aulas, quanto o ambiente escolar permanece normalmente silencioso”, cita outro trecho da denúncia.

“Frise-se, nesse ponto, que é dever da direção da escola não apenas respeitar, pessoalmente, o direito dos estudantes especiais, mas também garantir que as crianças estejam livres de qualquer tipo de agressão, física ou psicológica, no ambiente escolar”, complementa Marina.

Em nota, a Secretaria de Educação informou que recebeu a demanda por meio da Ouvidoria, e que fará as tramitação dentro do prazo estabelecido. A pasta informou que o caso está sendo investigado pela Corregedoria.

“De acordo com a Coordenação Regional de Ensino do Guará, a referida professora está afastada e um novo professor já se encontra em sala de aula. A SEEDF reforça o compromisso e empenho na busca por elementos que permitam o esclarecimento dos fatos, bem como todo o suporte para os estudantes”, explicou a pasta, em nota.

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