O diploma em Pedagogia de Edmilson Alves da Silva, 43 anos, conquistado no dia 26 de junho de 2025, é mais que um diploma acadêmico. Representa a sua luta marcada por exclusão, resistência e o desejo de aprender. Nascido na zona rural de Guaraciaba, no interior de Minas Gerais, Edmilson cresceu em uma casa onde a deficiência visual era vista como doença e o acesso à educação, quase inexistente.
Seus irmãos mais novos iam para a escola, enquanto ele ficava em casa, desejando ter a chance de aprender também. A alfabetização só aconteceu depois dos 20 anos, por iniciativa própria. Mesmo já adulto, ele entrou em turmas de crianças de sete anos e, com a ajuda de letras de EVA, deu início aos seus estudos, usando o tato paraentender as formas do alfabeto.
Em 2012, aos 27 anos, ele teve o primeiro contato com o Braille. Edmilson concluiu o ensino fundamental e médio e, após duas tentativas no Enem, ingressou na Universidade Federal de Viçosa (UFV) em 2017. A chegada à UFV foi cheia de desafios. O campus era desconhecido e sem a sinalização adequada.
Com apoio do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão da universidade, ele foi conquistando autonomia, mas os obstáculos continuaram. A falta de acessibilidade nas salas de aula e a ausência de pisos táteis e sinalização em Braille dificultavam sua aprendizagem. Para ele, a inclusão não é apenas estar na universidade, é garantir permanência e pertencimento.
Essas vivências se tornaram o tema do seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), intitulado: Vivências e experiências nos espaços e corredores da UFV: relato de um estudante cego no ensino superior. A pesquisa, que transformou as barreiras em conhecimento, é um grito por mais acessibilidade.
Durante a pandemia, Edmilson enfrentou mais desafios na sua trajetória. Sem internet em casa, ele assistia às aulas online no quintal, usando a rede de um vizinho, exposto às condições climáticas. Segundo Edmilson, foi parte do processo de aprendizagem dele não desistir, e que hoje está formado.
Além de todas as dificuldades, o final do curso de Edmilson também se tornou um marco. Para se entender com um colega de quarto, estudante surdo, ele aprendeu o alfabeto em Libras.
Agora, com o diploma, Edmilson sonha com concursos públicos e um mestrado. Seu objetivo é garantir que outros não passem pelas mesmas dificuldades que ele.
Ele se pergunta quantos Edmilsons ainda estão escondidos em casa, esperando por uma chance, e diz que se tivesse tido apoio desde a infância, imagina onde estaria hoje. Por isso, ele quer ajudar outras pessoas a não passarem pelo que ele passou.
Estagiária sob supervisão de Terra Thais
