INCLUSÃO

Trechos da Constituição Federal ganham tradução para línguas originárias

Projeto prevê a tradução do documento da Constituição brasileira para três das principais línguas originárias do Brasil

Yandra Martins*
postado em 17/09/2025 23:04 / atualizado em 17/09/2025 23:04
Povo Tikuna: acesso a Constituição e cidadania  -  (crédito: Pedro Federal/IDGlobal - Divulgação)
Povo Tikuna: acesso a Constituição e cidadania - (crédito: Pedro Federal/IDGlobal - Divulgação)

Após um processo de consultas a líderes comunitários e outros membros na comunidade, a primeira tradução de trechos da Constituição Federal foi entregue ao povo Tikuna. A tradução foi submetida pelo programa Língua Indígena Viva no Direito à consulta junto à comunidade em um encontro realizado na última sexta-feira (12/9), na Comunidade Santo Antônio, em Benjamin Constant (AM), na região do Alto Solimões.

O evento foi organizado pela Makira E’ta, a Rede de Mulheres Indígenas do Estado do Amazonas, parceira local do IDGlobal, representada pela coordenadora Rosimere Teles. Participaram ainda o coordenador do Conselho Geral da Tribo Tikuna, Paulino Manoelzinho Nunes; e o coordenador Regional da Fundação Nacional dos Povos indígenas (Funai) no Alto Solimões, Ildinei Tomas do Carmo.

O projeto tem como meta a tradução da Constituição Federal, da Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas para as três línguas originárias mais faladas no Brasil: Tikuna, Kaiowá e Kaingang. 

Os primeiros trechos da Constituição traduzidos incluem os seguintes artigos: Art. 5º (inteiro teor): Direitos Fundamentais; Art. 6º (inteiro teor): Direitos Sociais; Art. 20, XI: Terras tradicionalmente ocupadas pelos povos indígenas como bens da União; Art. 49, XVI: Autorização do Congresso Nacional para exploração de recursos em terras indígenas; Art. 231: Nulidade das ocupações de terras indígenas contrárias à Constituição; Art. 232: Direito dos povos indígenas de ingressar em juízo para defesa de seus direitos, com participação do Ministério Público.

Programa responsável pelas traduções 

O programa Língua Indígena Viva no Direito é resultado de uma parceria entre a Advocacia-Geral da União (AGU), o Ministério dos Povos Indígenas e o Ministério da Justiça e Segurança Pública, e está sendo executado pela organização da sociedade civil Instituto de Direito Global (IDGlobal), vencedora de edital de chamamento público lançado pela AGU em novembro de 2024.

A iniciativa tem como objetivo criar uma ponte de entendimento entre os povos e os responsáveis pela formulação e aplicação das leis brasileiras, ampliando o diálogo intercultural, promovendo a igualdade e fortalecendo a cidadania.

O projeto, que começou em 25 de março deste ano, estará em vigência até o dia 25 de setembro de 2026. Ele atua em dois eixos, sendo eles: eixo I - tradução e integração de normas, documentos, termos, conceitos e institutos jurídicos e eixo II - formação e capacitação em conteúdos relacionados à legislação nacional e internacional, bem como a valores sociais e culturais das diferentes comunidades indígenas.

Esta foi a primeira ação do processo de validação da tradução da primeira parte da Constituição Federal pelos Tikuna. A Makira-E'ta poderá receber novas considerações até o próximo dia 1º de outubro.

 *Estagiária sob supervisão de Ronayre Nunes

  • Indígenas Guarani Kaiowá
    Indígenas Guarani Kaiowá Rony Terena/Divulgação/Portal Gov
  • Indígenas Kiriri e Kaingang
    Indígenas Kiriri e Kaingang Reprodução/Portal Gov

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação