Aulas a distância

Acompanhe a saga de professores para manterem as aulas remotas

Docentes afirmam que escolas vêm se preparando para retomada híbrida. Internet e falta de apoio presencial são as maiores dificuldades dos alunos

Isabela Oliveira*
postado em 11/05/2021 19:39 / atualizado em 11/05/2021 19:52
 (crédito: Viola Júnior/Esp. CB/D.A Press)
(crédito: Viola Júnior/Esp. CB/D.A Press)

Após o governador Ibaneis Rocha afirmar a retomada presencial das atividades nas escolas públicas para o 2º semestre, professores se esforçam para manter os estudantes na escola. Entre os alunos, a falta de internet e apoio presencial continuam sendo os maiores desafios.

Muitas famílias não têm condições de manter internet para que os filhos acompanhem as atividades on-line, como é o caso de João Pedro Monteiro Cândido, 16 anos. O estudante do 1º ano do ensino médio do Centro Educacional (CED) 6 de Ceilândia recebe material impresso desde que passou a estudar em casa.

Os pais não tiveram condições de pagar pelo Wi-Fi, por isso, este ano, passaram a usar a internet emprestada do vizinho. A mãe está desempregada e o pai trabalha como autônomo. Além de João Pedro, eles têm outros sete filhos mais novos.

Após alguns meses estudando em casa, João Pedro conta que conseguiu se adaptar por ser um estudante mais introspectivo e que se dá bem como autodidata. Mas teme pelo retorno presencial mesmo com a vacinação dos profissionais da educação.

João Pedro Cândido, estudante do 1º ano do ensino médio, estuda por meio de materiais impressos
João Pedro Cândido, estudante do 1º ano do ensino médio, estuda por meio de materiais impressos (foto: Arquivo Pessoal)

“Eu não concordo. Mesmo com os professores vacinados, não vão ser todos os pais que vão estar vacinados também”, afirma. “Ainda posso transmitir para a minha família.”

Alfabetização ficou comprometida

Sirley das Graças Silva, 45 anos, é motorista de aplicativo, e tem duas filhas, de 7 e 18 anos. A mais nova estuda na Escola Classe 10 do Gama. Segundo a mãe, mesmo após um ano com o ensino a distância, a filha não conseguiu se adaptar e não consegue acompanhar as atividades.

Sirley das Graças Silva, motorista de aplicativo, acredita que o ensino a distância comprometeu a alfabetização da filha
Sirley das Graças Silva, motorista de aplicativo, acredita que o ensino a distância comprometeu a alfabetização da filha (foto: Arquivo Pessoal)

"Até hoje ela não sabe ler direito. Todo dia a professora manda tarefas e vídeos, mas eu mesma não consigo passar para ela e ensinar pra ela pra ser didático”, conta. “Isso está atrasando demais o desenvolvimento dela.”

Apesar de não ter problemas com internet, a família não tem computadores em casa. A filha acompanha as aulas assíncronas por um celular.

Escola atende 40 alunos com material impresso

 

Déborah Mascarenhas, orientadora educacional do CED 6 de Ceilândia, conta que a escola mantém projetos sociais para ajudar as famílias dos estudantes
Déborah Mascarenhas, orientadora educacional do CED 6 de Ceilândia, conta que a escola mantém projetos sociais para ajudar as famílias dos estudantes (foto: Arquivo Pessoal)

A orientadora educacional do Centro Educacional 6 de Ceilândia Déborah Mascarenhas, 34, conta que a maior conquista da escola foi ter aumentado a quantidade de alunos na plataforma Google Sala de Aula. Com isso, entre os 1.300 alunos da escola, mais de 90% acompanham as aulas remotas, mesmo assim a força-tarefa da escola não acaba.

“Estamos numa luta muito grande para os alunos permanecerem na plataforma, porque no material impresso eles não têm suporte algum”, explica.

O CED 6 mantém grupos no WhatsApp e atende alguns alunos, de maneira segura, presencialmente. Para Déborah, “muitos estudantes, às vezes, têm o aparelho precário” e precisam desse apoio presencial.

Como parte da busca ativa, a escola enviou cartas para os estudantes que não conseguiram entrar em contato por telefone. Foram doados chips com internet do governo para aqueles sem conexão, além disso alguns professores doaram equipamentos que não usam em casa.

A orientadora conta que a escola está fazendo tudo o que pode para manter o processo de ensino e aprendizagem dos alunos de maneira eficaz, mesmo distantes. O CED 6 também se mobilizou em prol de um projeto para arrecadar cestas básicas para os alunos de famílias carentes. “Muitos estão desanimados com o ensino remoto, mas estamos fazendo de tudo para ajudar, estamos nos mobilizando”, opina a pedagoga.

Vacinação deve iniciar no próximo mês

A secretaria de saúde do Distrito Federal está com o plano de vacinação dos professores estruturado e finalizado. A previsão é de que a imunização comece a partir do mês que vem para que as aulas presenciais na rede pública retornem em agosto.

Em coletiva de imprensa feita na última segunda-feira (11/5), o secretário da Casa Civil do DF, Gustavo Rocha, afirmou que o governador Ibaneis Rocha pretende iniciar as aulas até agosto.

Escolas particulares segue no híbrido

Segundo levantamento da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), 20 estados e o Distrito Federal estão com escolas adotando o modelo híbrido: Acre, Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, DF, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe.

Enquanto isso, seis estados estão com escolas fechadas, mantendo o modelo totalmente on-line: Amapá, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, e Tocantins.

*Estagiária sob a supervisão da editora Ana Sá 

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação