
Antônio Eugênio Cunha*
Ao longo das últimas décadas, o Brasil vem enfrentando o desafio de modernizar sua educação, buscando conciliar as demandas de um mundo em constante transformação com as particularidades de um país de dimensões continentais e profundas desigualdades. Em 2025, essa busca se intensifica, impulsionada por mudanças tecnológicas, pedagógicas e sociais que exigem novas abordagens e soluções criativas para a formação das atuais e futuras gerações.
Hoje o conhecimento está amplamente acessível, mas o excesso de informação e a falta de curadoria desafiam a capacidade de crianças e jovens de navegar nesse mar de possibilidades. Neste contexto, a escola precisa ser muito mais do que uma transmissora de conteúdos: deve ser um ambiente de formação integral, promovendo o pensamento crítico, a criatividade, a colaboração e as competências socioemocionais. A revolução tecnológica, longe de ser um obstáculo, é uma aliada crucial nessa missão.
Diversas práticas pedagógicas e avanços tecnológicos despontam como soluções promissoras para os desafios educacionais. A inteligência artificial (IA), por exemplo, tem o potencial de personalizar a experiência de aprendizado, identificando lacunas no conhecimento de cada estudante e oferecendo trilhas de ensino adaptativas. Da mesma forma, a realidade aumentada e virtual estão transformando a sala de aula em um espaço interativo e imersivo, permitindo que os alunos explorem conceitos abstratos de maneira concreta e engajante.
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O ensino híbrido, consolidado durante a pandemia de covid-19, agora se firma como uma solução permanente. Ele combina o melhor dos mundos presencial e remoto, promovendo flexibilidade e acessibilidade sem perder de vista a importância do contato humano e da vivência escolar.
Outro aspecto essencial é a priorização das competências socioemocionais. A capacidade de lidar com emoções, trabalhar em equipe e resolver conflitos tornou-se tão importante quanto o aprendizado do currículo tradicional. Afinal, vivemos em uma sociedade em que habilidades interpessoais são fundamentais para o sucesso profissional e pessoal.
A implantação do Novo Ensino Médio representa um dos avanços mais significativos na estrutura educacional brasileira. Ele busca romper com o modelo inflexível que dominou a educação por décadas, oferecendo aos estudantes a possibilidade de escolherem caminhos de aprendizado alinhados às suas aspirações e aptidões. Contudo, essa proposta também traz desafios significativos.
A falta de formação adequada para os professores, a infraestrutura limitada em muitas escolas e a resistência às mudanças são alguns dos obstáculos que precisam ser superados imediatamente. Além disso, é fundamental garantir que a flexibilização do currículo não amplie as desigualdades já existentes, proporcionando oportunidades reais para todos os alunos, independentemente de sua origem socioeconômica.
Outro tema que não pode ser ignorado é o uso de dispositivos tecnológicos em ambiente escolar (dentro e fora da sala de aula). Enquanto a legislação recente em alguns estados busca proibir o uso de celulares nas escolas, é preciso ponderar sobre como esses aparelhos podem ser incorporados de forma positiva no processo de ensino-aprendizagem, respeitando, inclusive, a autonomia pedagógica das instituições de ensino particulares. A tecnologia é uma ferramenta poderosa, mas requer regulamentação e planejamento para que seu uso seja produtivo e não prejudicial.
As escolas particulares têm um papel crucial na construção desse novo cenário. Com maior autonomia e mais recursos, podem servir como laboratórios de inovação, testando novas práticas pedagógicas e modelos de ensino que, posteriormente, podem ser adaptados e implementados na rede pública. Além disso, é responsabilidade dessas instituições contribuir para a formação de uma sociedade mais justa, promovendo iniciativas de inclusão e sustentabilidade.
Por mais um ano é necessário reunir esforços para promover as transformações com consistência e perseverança. Em 2025, estamos diante de uma oportunidade de reimaginar a escola como um espaço que prepara crianças e jovens para os desafios do século 21, e temos que admitir: já com algum atraso. Isso requer coragem para abraçar a inovação, compromisso com a equidade e determinação para superar os desafios.
Como presidente da FENEP, reafirmo nosso compromisso em colaborar com todos os atores do setor educacional para construir um sistema que seja, ao mesmo tempo, moderno, inclusivo e relevante. A educação é o alicerce do presente e do futuro que desejamos para o Brasil. Em 2025, dê-se o primeiro passo para torná-lo realidade.
*Eugênio Cunha é presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (FENEP)