Pequenos pés caminham entre canteiros de hortas, mãos delicadas regam mudas e olhos atentos acompanham a transformação de restos de papel e de plástico em novos espaços de aprendizagem. Com a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada neste ano, em Belém, o Brasil volta os olhos ao debate sobre o futuro do planeta. Mas, antes das grandes decisões globais, é dentro das escolas que a semente da sustentabilidade encontra seu primeiro solo fértil.
No caso da Escola Montessori, por exemplo, o ensino integra cuidado ambiental e autonomia infantil. Baseada no método montessoriano, a proposta incentiva as crianças a perceberem que todos os elementos da natureza estão interligados: seres humanos, animais, plantas e o próprio universo.
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"Mais do que aprender sobre a natureza, buscamos despertar o sentimento de pertencimento e de responsabilidade diante do mundo em que vivem", explica Danielle Corrêa Wan-Meyl, vice-diretora da instituição.
Na prática, a sustentabilidade não aparece como um conteúdo isolado, mas como parte da vida escolar. Há hortas cultivadas pelos alunos, atividades de reciclagem, oficinas de reaproveitamento de alimentos, separação de resíduos e até o uso de energia solar, para mostrar que a tecnologia pode andar lado a lado com a preservação ambiental.
Além disso, as disciplinas ganham novos sentidos. A aula de matemática, por exemplo, ajuda a calcular o consumo de água; a língua portuguesa dá espaço para textos reflexivos sobre a preservação; e as aulas de ciências investigam até onde a natureza suporta a exploração humana.
A professora Fabiana Oliveira, que leciona no fundamental I, explica que esse olhar se inspira na chamada educação cósmica. "A criança compreende que tudo está conectado. Quando percebe que faz parte desse todo, nasce nela a responsabilidade de respeitar e proteger o planeta", diz.
"Somos todos responsáveis"
A engenheira florestal Roberta Lima, mãe de Maria Luísa, 10 anos, afirma que impacto positivo é evidente. "Acho essencial educá-los no sentido de entender que somos todos responsáveis e devemos cuidar do planeta onde vivemos", afirma.
Em casa, a mudança de comportamento se tornou visível. Maria Luísa levou aprendizados para a família, como no ano passado, quando ajudou a coletar sementes de ipê para produzir mudas. "Ela ficou muito feliz por ter feito parte dessa atividade. O fato de escola e família estarem alinhados nesse sentido estimula ainda mais", diz a mãe.
Para ela, testemunhar o entusiasmo da filha é inspirador. "Já vivemos experiências emocionantes ao ouvi-los explicando coisas sobre a natureza de forma bem avançada para a idade. Ao perguntarmos, contaram que aprenderam na escola", conta.
A pedagoga Maria Gabriella Badu, que realizou uma pesquisa sobre educação patrimonial e ambiental em Planaltina, destaca a importância de iniciar esse contato cedo. "Quando você estuda a história local dentro das escolas, você está trabalhando principalmente memória, identidade cultural e pertencimento com aquelas crianças. E quando essa criança se reconhece como parte de sua comunidade, tende a valorizar e proteger o espaço em que vive. Isso fortalece tanto a identidade cultural quanto a consciência ambiental", afirma.
Além disso, esse movimento não se limita ao DF. Projetos como o Escolas Resilientes mostram, em diferentes regiões do país, que a educação pode preparar jovens para enfrentar os efeitos da crise climática. Hortas comunitárias, jogos educativos, conferências simuladas e ações em bairros são algumas das práticas que já transformam realidades locais.
"A escola tem um papel essencial em preparar cidadãos para os desafios do presente e do futuro. A COP30 deve reforçar a necessidade de conectar as grandes decisões globais às pequenas transformações locais", afirma Maria Gabriella Badu.
Como escolher uma escola sustentável para o seu filho
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Educação ambiental integrada: sustentabilidade trabalhada de forma interdisciplinar nas disciplinas.
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Projetos práticos: hortas, composteiras, programas de reciclagem e consumo consciente.
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Formação cidadã: estímulo ao pensamento crítico e à responsabilidade socioambiental.
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Gestão escolar: economia de água e energia, coleta seletiva, uso de materiais reciclados e redução do desperdício.
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Infraestrutura verde: áreas arborizadas, cisternas para captação de água da chuva e materiais sustentáveis na construção.
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Comunicação e engajamento: incentivo à participação da comunidade escolar em ações ambientais.
Fonte: Ministério da Educação
"Aprendizado se conecta com o cotidiano das crianças"
Confira a entrevista com Marcos Pantoja, professor de educação básica da Secretaria de Educação e mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural (UnB)
Por que a primeira infância é considerada uma fase tão importante para despertar a consciência ambiental nas crianças?
Na primeira infância, a criança está formando seus primeiros sentidos, conceitos e percepções. Esse contato inicial com plantas, terra e natureza ajuda a construir uma consciência ambiental que se prolonga pela adolescência e vida adulta.
De que forma os projetos escolares de sustentabilidade podem impactar não apenas os estudantes, mas também suas famílias e a comunidade ao redor?
Esses projetos não devem ser apenas teóricos. Ao associar práticas como hortas, pomares e composteiras com o conteúdo em sala de aula, a criança aprende matemática, português e ciências de forma aplicada, enquanto envolve sua família e a comunidade no cuidado com o meio ambiente.
Com a COP30 acontecendo no Brasil, como a escola pode aproveitar esse momento para ampliar o debate sobre mudanças climáticas e preservação ambiental?
A COP30 é uma oportunidade única para trazer o tema para dentro da escola. Desde a educação infantil, é possível discutir mudanças climáticas com textos, desenhos, concursos e projetos práticos como o plantio de mudas. Assim, o aprendizado se conecta com o cotidiano das crianças.
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Educação básica
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