Crianças com deficiências e neurodivergentes enfrentam desafios únicos no ambiente escolar, que vão além do aprendizado acadêmico. Para garantir um desenvolvimento pleno, é fundamental que as escolas ofereçam acolhimento adequado, promovendo inclusão, suporte emocional e adaptações pedagógicas.
Segundo Beatriz Abuchaim, gerente de políticas públicas da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, a lei brasileira de inclusão de 2016 garante às crianças com deficiência o direito de acesso à escola regular — inserção que favorece o desenvolvimento integral. "A escola tem de se preparar para receber essas crianças, organizando materiais e infraestruturas que atendam às necessidades específicas de cada aluno", observa.
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Mas a precariedade da formação sobre educação inclusiva para professores ainda é um desafio que o Brasil precisa enfrentar. "Inúmeros estudos mostram o quanto a inclusão é promotora de desenvolvimento para as crianças com deficiência", aponta a especialista. "Suas habilidades linguísticas, cognitivas e sociais são estimuladas em um contexto de escola regular." Beatriz ainda destaca que tal convivência favorece o respeito com as diferenças para todas as partes.
Acolhimento desde a matrícula
Na avaliação da psicopedagoga Cleide Hoffmann Bernardes, o acolhimento no ambiente educativo precisa ser desde a matrícula da criança, buscando junto à família as informações necessárias para que sejam oferecidas as condições adequadas ao seu acesso, permanência e aprendizagem. "A família precisa sentir-se segura no ambiente educativo e a relação de confiança, estabelecida e fortalecida ao longo de toda a jornada educativa."
Na prática, no entanto, as estratégias pedagógicas eficazes de acolhimento abrangem necessidades individuais, que demandam contato com os profissionais que atendem os estudantes. "Duas crianças com deficiência física podem precisar de recursos e estratégias diferentes, embora ambas tenham a mesma condição motora", Cleide exemplifica. No caso de alunos com transtornos específicos de aprendizagem, a pedagoga defende adaptações em atividades, ensino e provas.
Diferentes necessidades são amparadas, de acordo com a especialista, a partir do convívio. "O primeiro passo é acreditar que todos podem aprender", declara. Enquanto professora, Cleide reconhece o potencial de cada estudante. "O olhar atento às necessidades individuais e a ação diante delas são o que de fato farão a diferença na vida dessas crianças."
Sobretudo, garantir segurança para os pequenos e suas famílias é essencial. "Uma criança que se sente segura tem liberdade para arriscar, experimentar e aprender sem medo de errar. Isso amplia suas possibilidades de desenvolvimento, fortalece vínculos e favorece a sociabilidade. Afetividade e aprendizagem caminham juntas", expõe.
Entre a família e os professores, o contato deve ser constante. "Trata-se de uma relação que precisa ser construída e cuidada com zelo. Ambos precisam se ajudar e superar diferenças em nome do bem-estar da criança", reflete a pedagoga. Cleide conclui que a inclusão escolar é alcançada a partir da equidade e de incentivo entre os colegas e professores, "de modo que visualizem uma pessoa para além da necessidade diferenciada que apresenta".
Suporte essencial
Professor da Secretaria de Educação do Distrito Federal e integrante da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae-DF), Flavio Leão é pai de Luis Jabur Gaio, um menino autista. Luis, que completa 10 anos em outubro, frequenta a Escola Classe 304 Norte, onde Flavio encontrou mais acolhimento do que esperava para o filho.
Na instituição, Flavio é incluído e integrado pedagogicamente à turma, além de ser acolhido afetivamente pelos colegas e pelos profissionais. "Devo muito isso à equipe de educação dessa escola", celebra Flavio. "Percebo que lá eles têm um compromisso com a inclusão e se preparam para isso. É uma equipe disposta a fazer isso da melhor forma possível."
Entre as estratégias de educação inclusiva da escola pública, Flavio destaca salas com recursos especiais, monitoria e — o mais importante, na opinião do educador — empatia dos especialistas para com as crianças com deficiência.
Ao se comunicar constantemente com a professora de Luis, Flavio descreve a relação com a educadora como "um canal aberto para agir de acordo com os desafios e limitações do filho", a fim de superá-las. O pequeno é alfabetizado e caminha conforme a turma ao longo das disciplinas aplicadas durante o ano.
O suporte emocional oferecido para Luis também é um diferencial da escola, segundo Flavio. Monitores, orientadores pedagógicos e psicólogos orientam e acolhem afetivamente as diversas dificuldades do menino. "Meu filho enfrenta desafios diversos, desde a dificuldade de socialização até a de aprendizagem. Isso requer muita pedagogia, didática e empatia de todos os envolvidos nesse processo", explica.
Quando Luis participa ativamente de atividades em grupos com os colegas, Flavio percebe a discrepância entre a comunicação de crianças neurotípicas e neurodivergentes. Mesmo com o diálogo, a diferença faz-se evidente. Para ele, o acolhimento escolar é imprescindível ao bem-estar emocional e o aprendizado do filho, sendo o objetivo final sua independência e autonomia. "Quando a minha criança é amparada, ela consegue estar no mesmo ano de seus colegas, e tem maior probabilidade de se sentir capaz de ser um adulto autônomo", avalia.
Ao integrar a Apae, Flavio relata ter mudado como professor, ser humano e, sobretudo, como pai. "Aprendi o que é empatia. Aprendi a olhar as pessoas com os olhos delas", comenta. Ser pai de Luis o possibilitou a enxergar que não existem barreiras na superação de dificuldades para pessoas com deficiência.
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Educação básica
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