Nesta quinta-feira (25/9) o professor da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Fragelli destacou, durante o CB Talks — Além do algoritmo: a educação no mundo digital, a importância de preservar a curiosidade e a criatividade das crianças no ambiente escolar.
“Quando vejo um adulto que não gosta de matemática, geografia, que não gosta de ler, eu vejo uma criança que foi roubada de boa parte da ciência. Quando entramos na escola, somos seres repletos de curiosidade, cheios de porquês. Mas em algum momento a escola achata essa curiosidade e rouba os nossos porquês. Hoje quero falar sobre a escola que não nos rouba essas questões”, afirmou.
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Ao abrir a fala sobre suas ideias, Ricardo citou como exemplo uma situação com o personagem de quadrinhos Calvin, em que ele discute com o pai por não querer ir à escola. Na ocasião, ele questiona o filho: "Você é a criança mais inteligente que eu conheço. Eu comprei aqueles livros de dinossauro e você leu três em uma semana. Então, por qual motivo você não quer ir pra escola se você pegou tudo o que aprendeu e construiu o protótipo de um dinossauro?". O menino, então, respondeu: "Lá não se ensina sobre dinossauros."
Segundo ele, o ensino precisa dialogar com os interesses dos estudantes. "Precisamos dar liberdade para a criança e o adolescente aprender também sobre o que gostam."
Escola e aluno
Outro ponto de destaque é a necessidade de estimular a criatividade não só entre alunos, mas também entre a família e os professores, de serem autores da sua própria experiência. Ele apresentou a metodologia Summaê, reconhecida em premiação nacional como uma das mais criativas do país, aplicada da educação infantil ao doutorado.
“Nesse caso, quem provoca as questões não é o professor, mas os estudantes, e eles fazem isso por meio de vídeos criativos. Também criamos espaços como a mesa de professores e o uso de chapéus criativos, que quebram a sala de aula tradicional e simbolizam liberdade criativa”, explicou.
Com essa metologia, foi criado uma espécie de aula em formato de festival de cinema, inspirado no Oscar, em que os melhores vídeos feitos por estudantes são premiados, estimulando a autoria e a expressão criativa em diversas áreas do conhecimento.
Fragelli também abordou a necessidade de enfrentar o bullying escolar com estratégias de diálogo e inovação. Ele coordena um grupo internacional de pesquisadores que desenvolveu o Mapa do Bullying no DF (Bullying Map), capaz de identificar diferenças regionais por meio da análise de palavras-chave em depoimentos de estudantes. Ao Correio, ele disse que projeto ainda vai ser expandido para todo o Brasil.
Além disso, ele apresentou o jogo educativo Colmeia — disponível para download — financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF), em que crianças e adolescentes interagem com a personagem Melizia, uma abelhinha que ensina sobre respeito, convivência e prevenção ao bullying.
“O aluno precisa ser protagonista da sua própria aprendizagem. Não pode haver silêncio diante do bullying, é preciso criar espaços de discussão e metodologias ativas que aproximem a escola das experiências reais dos estudantes”, reforçou.
Evento
Debate faz parte da 19ª edição do projeto Escolha a Escola do seu Filho, criado pelo Correio para apoiar pais e responsáveis na missão de escolher a instituição de ensino ideal. O encontro reúne especialistas para debater os impactos da tecnologia e dos algoritmos na educação e na formação de crianças e adolescentes.
Educação básica
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