INSEGURANÇA ALIMENTAR

Saúde na infância: fórum em São Paulo discute políticas públicas

Relatório do Unicef sobre segurança alimentar no Brasil foi discutido por especialistas do poder público, da academia e da sociedade civil

Alice Meira*
postado em 01/10/2025 19:18
Dados do estudo da UNICEF e outros desdobramentos relacionados a insegurança alimentar foram postos em debate no 7° Fórum de Políticas Públicas da Saúde na Infância -  (crédito: Fábio Lolli)
Dados do estudo da UNICEF e outros desdobramentos relacionados a insegurança alimentar foram postos em debate no 7° Fórum de Políticas Públicas da Saúde na Infância - (crédito: Fábio Lolli)

 

O 7° Fórum de Políticas Públicas da Saúde na Infância, ocorrido esta semana em São Paulo, discutiu dados do relatório do Alimentano lucro: como os ambientes alimentares estão falhando com as crianças a mais recente pesquisa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) sobre alimentação infantil. O estudo revela que, agora, a obesidade supera a desnutrição em todas as regiões do mundo, exceto na África Subsaariana e no sul da Ásia. O evento reuniu especialistas para analisar dados, debater hipóteses e apontar caminhos para diminuir os casos de desnutrição ou má nutrição na infância, na Pinacoteca de São Paulo.

Palestrantes da primeira mesa de debates, sobre contexto brasileiro e desafios atuais
Palestrantes da primeira mesa de debates, sobre contexto brasileiro e desafios atuais (foto: Fábio Lolli)

Várias mesas de conversa foram dispostas ao longo do dia, com diferentes abordagens do tema central: segurança alimentar. Ao longo da primeira mesa, onde foi discutido contexto e desafios atuais, Stephanie Amaral, especialista do Unicef, destacou: "Pela primeira vez na história, a obesidade superou a desnutrição entre crianças e adolescentes em idade escolar". O relatório baseia-se em dados de mais de 190 países.

Projeção do percentual de crianças e adolescentes em idade escolar com obesidade e desnutrição, para 2030
Projeção do percentual de crianças e adolescentes em idade escolar com obesidade e desnutrição, para 2030 (foto: Reprodução/ Portal UNICEF)

Segundo o portal do Unicef, o relatório alerta que alimentos ultraprocessados e fast foods estão moldando a dieta das crianças por meio de ambientes alimentares prejudiciais, e não por escolha pessoal. Esses produtos dominam comércios e escolas, enquanto o marketing digital dá à indústria de alimentos e bebidas acesso poderoso ao público jovem.

Por exemplo, em uma pesquisa global com 64 mil jovens de 13 a 24 anos de mais de 170 países, realizada no ano passado pela plataforma U-Report do Unicef, 75% dos entrevistados disseram ter visto anúncios de refrigerantes, lanches ou fast foods na semana anterior, e 60% afirmaram que os anúncios aumentaram sua vontade de consumir esses alimentos. Mesmo em países afetados por conflitos, 68% dos jovens disseram estar expostos a esses anúncios.

A especialista também deu ênfase à causa, que está ligada às desigualdades sociais. “A partir do momento que vão se desenvolvendo, os ultraprocessados se tornam marcadores de pobreza, por serem mais acessíveis e mais baratos que alimentos saudáveis. As escolhas alimentares são moldadas pelo ambiente”, ressaltou. 

Stephanie Amaral e Lilian Rahal, secretária nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento, destacaram, com veemência, o papel da indústria alimentícia e do agronegócio como impedidores de avanços no combate à obesidade e subnutrição, por meio de alterações nos projetos de leis relacionados ao tema. “Já foi proposto, por exemplo, vender alimentos vencidos como estratégia de combate à fome. São pequenos pontos de alteração nas leis que vão aparecendo aos poucos, mas que fazem diferença no final”, afirma Rahal. 

Também foram colocados em questão os fatores externos, como a publicidade intensiva de ultraprocessados: “São práticas antiéticas que exploram as crianças em tempo de crise, com táticas para deslocar a culpa do problema para longe da indústria, e colocar num ambiente individualizado”, acentuou a porta-voz do Unicef.

O ambiente escolar também foi posto em destaque como estratégico, já que é onde crianças e adolescentes passam grande parte do seu tempo. Jordana Costa, uma das representantes do Ministério da Saúde presentes no evento, destacou a importância do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), iniciativa do governo brasileiro para alimentação escolar dos estudantes de escolas públicas que, nas palavras de Costa, é “resultado de lutas sociais”. 

Pedro Vasconcelos, secretário-geral da Fian Brasil (equipe que monitora direitos relacionados à alimentação) destaca a importância do Pnae, mas também enumerou os problemas do programa, como a falta de transparência de dados para a sociedade civil: “É importante que trabalhemos juntos para garantir alimentação adequada nas escolas, que não seja só ‘para inglês ver’ “, destacou. 

O Sistema Único de Saúde (SUS) também foi celebrado no evento. Kelly Poliany Alves, membro da Coordenação de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, citou o SUS como “símbolo da defesa dos direitos constitucionais” dos brasileiros. Questões mais específicas, como a segurança alimentar das crianças indígenas na Amazônia, também foram discutidas. A região Norte é posta como prioridade na resolução do problema, segundo Kelly Alves. 

O instituto Infinis faz parte da fundação José Luiz Setúbal
O instituto Infinis faz parte da fundação José Luiz Setúbal (foto: Fábio Lolli)

O 7° Fórum de Políticas Públicas da Saúde na Infância é uma iniciativa do Instituto Futuro é Infância Saudável (Infinis). Márcia Kalvon, diretora-executiva do Infinis, destaca o objetivo da instituição: "Queremos um olhar ampliado para a saúde coletiva de todas as infâncias do Brasil". O evento ocorreu em São Paulo, com transmissão ao vivo pelo canal oficial no YouTube

*Estagiária sob supervisão de Ana Sá.

Alice Meira cobriu o evento a convite do grupo Infinis.

 

  • Palestrantes da primeira mesa de debates, sobre contexto brasileiro e desafios atuais
    Palestrantes da primeira mesa de debates, sobre contexto brasileiro e desafios atuais Foto: Fábio Lolli
  • O instituto Infinis faz parte da fundação José Luiz Setúbal
    O instituto Infinis faz parte da fundação José Luiz Setúbal Foto: Fábio Lolli
  • Projeção do percentual de crianças e adolescentes em idade escolar com obesidade e desnutrição, para 2030
    Projeção do percentual de crianças e adolescentes em idade escolar com obesidade e desnutrição, para 2030 Foto: Reprodução/ Portal UNICEF
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