O 7° Fórum de Políticas Públicas da Saúde na Infância, ocorrido esta semana em São Paulo, discutiu dados do relatório do Alimentano lucro: como os ambientes alimentares estão falhando com as crianças a mais recente pesquisa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) sobre alimentação infantil. O estudo revela que, agora, a obesidade supera a desnutrição em todas as regiões do mundo, exceto na África Subsaariana e no sul da Ásia. O evento reuniu especialistas para analisar dados, debater hipóteses e apontar caminhos para diminuir os casos de desnutrição ou má nutrição na infância, na Pinacoteca de São Paulo.
Várias mesas de conversa foram dispostas ao longo do dia, com diferentes abordagens do tema central: segurança alimentar. Ao longo da primeira mesa, onde foi discutido contexto e desafios atuais, Stephanie Amaral, especialista do Unicef, destacou: "Pela primeira vez na história, a obesidade superou a desnutrição entre crianças e adolescentes em idade escolar". O relatório baseia-se em dados de mais de 190 países.
Segundo o portal do Unicef, o relatório alerta que alimentos ultraprocessados e fast foods estão moldando a dieta das crianças por meio de ambientes alimentares prejudiciais, e não por escolha pessoal. Esses produtos dominam comércios e escolas, enquanto o marketing digital dá à indústria de alimentos e bebidas acesso poderoso ao público jovem.
Por exemplo, em uma pesquisa global com 64 mil jovens de 13 a 24 anos de mais de 170 países, realizada no ano passado pela plataforma U-Report do Unicef, 75% dos entrevistados disseram ter visto anúncios de refrigerantes, lanches ou fast foods na semana anterior, e 60% afirmaram que os anúncios aumentaram sua vontade de consumir esses alimentos. Mesmo em países afetados por conflitos, 68% dos jovens disseram estar expostos a esses anúncios.
A especialista também deu ênfase à causa, que está ligada às desigualdades sociais. “A partir do momento que vão se desenvolvendo, os ultraprocessados se tornam marcadores de pobreza, por serem mais acessíveis e mais baratos que alimentos saudáveis. As escolhas alimentares são moldadas pelo ambiente”, ressaltou.
Stephanie Amaral e Lilian Rahal, secretária nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento, destacaram, com veemência, o papel da indústria alimentícia e do agronegócio como impedidores de avanços no combate à obesidade e subnutrição, por meio de alterações nos projetos de leis relacionados ao tema. “Já foi proposto, por exemplo, vender alimentos vencidos como estratégia de combate à fome. São pequenos pontos de alteração nas leis que vão aparecendo aos poucos, mas que fazem diferença no final”, afirma Rahal.
Também foram colocados em questão os fatores externos, como a publicidade intensiva de ultraprocessados: “São práticas antiéticas que exploram as crianças em tempo de crise, com táticas para deslocar a culpa do problema para longe da indústria, e colocar num ambiente individualizado”, acentuou a porta-voz do Unicef.
O ambiente escolar também foi posto em destaque como estratégico, já que é onde crianças e adolescentes passam grande parte do seu tempo. Jordana Costa, uma das representantes do Ministério da Saúde presentes no evento, destacou a importância do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), iniciativa do governo brasileiro para alimentação escolar dos estudantes de escolas públicas que, nas palavras de Costa, é “resultado de lutas sociais”.
Pedro Vasconcelos, secretário-geral da Fian Brasil (equipe que monitora direitos relacionados à alimentação) destaca a importância do Pnae, mas também enumerou os problemas do programa, como a falta de transparência de dados para a sociedade civil: “É importante que trabalhemos juntos para garantir alimentação adequada nas escolas, que não seja só ‘para inglês ver’ “, destacou.
O Sistema Único de Saúde (SUS) também foi celebrado no evento. Kelly Poliany Alves, membro da Coordenação de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, citou o SUS como “símbolo da defesa dos direitos constitucionais” dos brasileiros. Questões mais específicas, como a segurança alimentar das crianças indígenas na Amazônia, também foram discutidas. A região Norte é posta como prioridade na resolução do problema, segundo Kelly Alves.
O 7° Fórum de Políticas Públicas da Saúde na Infância é uma iniciativa do Instituto Futuro é Infância Saudável (Infinis). Márcia Kalvon, diretora-executiva do Infinis, destaca o objetivo da instituição: "Queremos um olhar ampliado para a saúde coletiva de todas as infâncias do Brasil". O evento ocorreu em São Paulo, com transmissão ao vivo pelo canal oficial no YouTube.
*Estagiária sob supervisão de Ana Sá.
Alice Meira cobriu o evento a convite do grupo Infinis.