Vestibular

Aos 18 anos, brasiliense é aprovada cinco vezes para medicina

Giovanna Sabino conta que sonhava em ser médica desde criança e não se lembra como a paixão começou, já que não tem médicos na família. Ela explica a trajetória e rotina de estudos até o sucesso

Jéssica Gotlib
postado em 04/06/2021 20:20 / atualizado em 04/06/2021 20:23
Antes de saber das aprovações, Giovanna descobriu que não havia passado para a segunda fase da Fuvest. Mesmo assim, conta que nunca pensou em desistir -  (crédito: Giovanna Sabino/Arquivo pessoal)
Antes de saber das aprovações, Giovanna descobriu que não havia passado para a segunda fase da Fuvest. Mesmo assim, conta que nunca pensou em desistir - (crédito: Giovanna Sabino/Arquivo pessoal)

Uma garotinha de três anos operando algumas bonecas, medicando brinquedos ‘doentes’... a cena é tão comum que ganhou até uma animação (Doutora Brinquedos, da Disney). Mas, quantas dessas meninas realmente fazem medicina? É difícil quantificar, mas a brasiliense Giovanna Sabino, 18 anos, é um desses casos de sucesso. Com a divulgação do resultado do Acesso UnB Enem nesta semana, a jovem somou cinco aprovações para a sonhada vaga.

Além da federal fundada por Darcy Ribeiro, Giovanna foi aprovada na Universidade de São Paulo (USP), Faculdade Albert Einstein (SP), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Universidade Federal de Uberlândia (UFU). A instituição escolhida foi a USP, mas a estudante mira um pouco mais longe. “Quero muito ir para fora do Brasil, pretendo fazer residência e pós-graduação em outro país”, comenta.

Esforço e resiliência

E, apesar do sucesso nas provas e da ambição por aprender sempre mais, ela diz que não esperava passar na primeira tentativa. “Eu sou muito transparente comigo mesma, então sempre estudei e sempre soube que estava dando o meu melhor, mas quando comecei a fazer as provas e vi tanta gente que tinha se esforçado tanto quanto eu, entendi que não é apenas uma questão de mérito”, ressalta.

Só que a consciência dos obstáculos não desanimou Giovanna. “Antes de passar eu já tinha me decidido pela USP, mas não fui aprovada para a segunda etapa da Fuvest (que dá acesso direito à universidade). Fiquei sabendo disso um mês antes de saber o resultado do Enem, por onde fui aprovada, e já tinha me preparado para estudar o tempo que fosse necessário, até passar”, defende.

Essa, aliás, é uma das dicas que ela dá a quem tem um sonho parecido. “É preciso muita resiliência. O vestibular para medicina é o mais concorrido do país. Eu sei que tenho muitos privilégios, mas também sempre estudei e dei o melhor. Muitas pessoas na minha turma levaram sete anos para entrar”, lembra.

Segundo ela, essa é até uma vantagem de alguns colegas com as matérias do primeiro semestre. “Tem vários perfis de estudante. Algumas pessoas já fizeram farmácia, biotecnologia. Nas primeiras aulas senti que só eu não estava entendendo o conteúdo, porque você não vê o rosto das pessoas e quem faz pergunta é porque já está entendendo alguma coisa”, conta sobre as aulas na USP, que já começaram.

Trajetória e vida normal

O estereótipo do vestibulando com olheiras fundas, sem vida social e neurótico com os estudos não cola com Giovanna. A moça ressalta que, em vez disso, preferiu organizar bem a própria rotina durante os dias úteis e privilegiar momentos de lazer e tempo com os amigos nos fins de semana. “Eu me dedicava para entender o máximo de cada matéria, mas nunca virei a noite ou estudei em fins de semana. Eu organizava minha rotina para sacrificar um pouco minha vida durante a semana, mas tinha os fins de semana livres para sair com meus amigos, ver um filme”, ressalva.

Para ela, esse é outro acerto durante a trajetória. “A vida é muito mais que isso (vestibular). O que acho importante é cada pessoa se conhecer e saber suas prioridades. Se é muito importante para você o convívio com seus amigos, não abra mão disso. Assista a séries, veja filmes, você precisa se distrair. Encontre uma forma de organizar seu tempo”, aconselha.

Esse equilíbrio também foi fundamental na hora de fazer os exames, só em São Paulo, Giovanna foi a sete testes. “No dia das provas importantes eu ficava um pouco nervosa, não dá para dizer que eu chegava zen, meditando. E ninguém tem que se cobrar isso, é natural. Mas o que me deixava mais nervosa eram as pessoas falando para eu me acalmar”, argumenta. A futura médica diz ainda que, para focar nas questões e esquecer a ansiedade, procurava lembrar que todo mundo estava nervoso também.

O apoio dos professores também fez toda diferença. A moça estudou no colégio Galois desde o ensino fundamental, mas ao chegar no nível médio, lembra que pensou em mudar de escola. “No nono ano, eu achei que já estava acostumada com todo mundo e pensei que poderia ser melhor mudar para focar no vestibular, mas um professor, de quem eu gosto muito, conversou comigo e a escola me ofereceu uma bolsa para todo o ensino médio”, diz. Segundo a estudante, isso fez muita diferença na trajetória dela.

Método próprio

Na receita para o sucesso de Giovanna tem ainda um método pessoal de estudo. “Eu procurava o que funcionava para mim e acho que é importante fazer isso, não se prender a um método muito rígido, muito fixo. Cada um precisa saber o horário em que rende mais, o que funciona mais para o próprio estudo”, coloca. A jovem conta que é por isso mesmo que ela nunca fez cursinho, só as aulas regulares da escola.

Outra coisa que ajudou, segundo ela, foi saber dosar os esforços. “Você precisa ser muito transparente consigo, saber quando está sobrecarregado ou quando poderia se esforçar mais. Fazer as provas antigas foi uma coisa que me ajudou muito porque pude corrigir e ver qual seria minha média, o que precisava estudar mais”, narra.

Em relação ao próprio futuro, Giovanna aplica a mesma estratégia de se organizar e dedicar. “Há algum tempo quero ser neurocirurgiã, mas também gosto muito da parte de pesquisa, então não sei qual vai ser realmente a minha escolha, mas com certeza será nessa área de neurologia”, prevê. E alguém tem dúvida de que ela conseguirá?

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