
O mundo está passando por constantes transformações, principalmente, considerando as últimas inovações tecnológicas, como a chegada da inteligência artificial (IA). Neste ano, por exemplo, foi lançado o aplicativo DeepSeek, que já superou concorrentes, como o ChatGPT da OpenAI, e se tornou o aplicativo gratuito mais baixado dos Estados Unidos e da China, segundo a BBC News. Esse cenário impacta diretamente o mercado de trabalho, evidenciando áreas promissoras nos próximos anos, como é o caso da tecnologia da informação (TI).
A projeção é do relatório Futuro do Trabalho, publicado pelo Fórum Econômico Mundial (FEM) em 2025, e da pesquisa Mapa do Trabalho Industrial 2025-2027, encomendada pelo Observatório Nacional da Indústria (ONI). De acordo com o mapa do ONI, a área de TI ocupa as primeiras posições no ranking de geração de empregos e crescimento de postos formais no setor industrial. No Brasil, 972 mil vagas nesse campo devem ser criadas até 2027. Para o Distrito Federal, serão 36 mil, atrás apenas de logística e transporte (47,6 mil) e construção (39,9 mil).
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A previsão de crescimento para a área é de 6,5%, sendo superado somente por manutenção e reparação (9,5%) e se igualando a alojamento e alimentação (6,5%). "Nós temos um processo de digitalização que é universal, trazendo uma demanda forte para todas as áreas do mercado. Na indústria, a automação exige controle por meio de sistemas digitais, então é preciso ter uma tecnologia da informação bem desenvolvida", afirma o diretor do Serviço Nacional da Indústria (Senai) no DF, Marco Secco.
Ele pontua, ainda, que o crescimento expressivo da TI na região se deve ao perfil dinâmico da cidade, conhecida pela movimentação de serviços e operações de governo, o que gera um setor de TI influente e que "naturalmente, vai demandar mais pessoal".
Capacitação
Para atender às demandas do mercado em tecnologia, o Mapa do Trabalho Industrial aponta para a necessidade de formação profissional de 14 milhões de trabalhadores no Brasil até 2027, sendo 2,2 milhões para formação de novos profissionais e 11,8 milhões para atualização e aprimoramento dos que já estão inseridos no mercado. No DF, o total é de 186 mil, com 33,3 mil para o primeiro caso e 152,7 mil no segundo. Para TI, a estimativa é que 23 mil profissionais sejam formados.
Para o professor Gilmar Lucena, coordenador dos cursos marketing digital com inteligência de dados e ciências da computação no Centro Universitário Uniceplac, a capacitação é fundamental para o alinhamento com as tendências do mercado. Na visão dele, quem investe no conhecimento, por meio de cursos, especializações e do networking, está um passo à frente dos demais.
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"As tecnologias mudam rapidamente, e profissionais desatualizados perdem competitividade. Hoje, vemos milhares de postos de trabalho que não são ocupados por falta de domínio de ferramentas tecnológicas. Com essa escassez, as possibilidades de crescimento para quem se especializa aumentam", expõe.
Marco Secco explica que essa capacitação em tecnologia pode ser feita nas escolas da indústria, como o Senai e o Serviço Social da Indústria (Sesi), assim como no Instituto Federal (IF), em escolas técnicas do Governo do DF (GDF) e outras instituições de educação profissional. O diretor do Senai DF vê com otimismo as metas para formação de trabalhadores: "Temos infraestrutura e equipe técnica adequadas, então, enxergamos isso como um desafio realizável."
Laysa Assunção, 19 anos, é estudante de engenharia de software no Uniceplac e estagia na área de desenvolvimento front-end e design. Ela conta que sempre teve interesse pelo campo da tecnologia, e a escolha pelo curso veio não só pela paixão e curiosidade, mas também por perceber as demandas do mercado. "Principalmente pelo fato de que a tecnologia está movimentando e trazendo constantes melhorias para os setores, isso gera uma necessidade de mais profissionais qualificados para lidar com essas mudanças", diz.
Por isso, Laysa está investindo na capacitação para alcançar o sonho de ter um emprego estável em sua área de interesse, vendo os concursos públicos como boas opções. "Meu estágio tem me proporcionado experiências e competências importantes para o meu crescimento profissional, então acredito que estou me preparando bem", compartilha.
Assim como Laysa, Vinicius Magalhães, 20 anos, escolheu a área de TI por afinidade, versatilidade de atuação, dinamicidade e inovação. Atualmente, ele faz estágio em suporte técnico e infraestrutura de TI e considera que a exigência das empresas pela capacitação o impulsiona na busca por expandir seus conhecimentos. "O estágio é um momento de aprender na prática e entender melhor o que se passa no mercado de trabalho, então estou preparado para me aperfeiçoar cada vez mais na área tecnológica", conta.
Perfil profissional
Em um mercado de trabalho que valoriza habilidades ténicas podem surgir dúvidas quanto ao tipo de perfil profissional mais procurado pelas empresas nesse ramo. Para Gilmar Lucena, as palavras-chave são aprendizado contínuo e iniciativa. "O profissional de tecnologia de hoje foge aos estereótipos tradicionais do nerd, antissocial e que é bom em matemática. Esse setor precisa de profissionais dinâmicos, que saibam trabalhar em equipe e estejam dispostos a propor ideias e melhorias", defende.
Edson Agatti, professor na área de tecnologia e diretor-executivo da faculdade internacional Hayek Global College, percebe uma "corrida do ouro" entre as companhias, que buscam competências técnicas voltadas para lógica, programação, inteligência artificial, ciência de dados, cibersegurança e outras, mas também boa comunicação oral e escrita, trabalho em equipe, pensamento crítico, visão estratégica e networking.
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"Falar inglês é fundamental, porque quem consegue se conectar globalmente tem mais chances de crescer e acessar oportunidades. Além disso, é importante expandir os conhecimentos para além da tecnologia, pois isso facilita a adaptação às tarefas e traz mais clareza sobre as decisões", explica o professor.
Maria Vitória da Silva, 21 anos, também estudante de engenharia de software no Uniceplac, conta que sua primeira opção de curso era odontologia, mas a decisão pela engenharia veio ao se dar conta das oportunidades de emprego e de crescimento profissional. Para ela, que está estagiando na área de suporte técnico, a tecnologia da informação pode abrir portas no mercado de trabalho, porque "novas funcionalidades surgem o tempo todo."
Porém, Maria Vitória reconhece que, para se destacar e aproveitar as oportunidades, é preciso dedicação e disposição para aprender. "Como ainda não finalizei a faculdade, sei que há muitos desafios e conhecimentos que preciso adquirir. No entanto, estou disposta a enfrentar esses desafios e crescer profissionalmente com cada experiência que a área de TI me proporcionar", relata.
Para o futuro na carreira, a estudante deseja ser aprovada no concurso da Polícia Federal para o cargo de perita criminal federal em tecnologia da informação, o que, para ela, representará "uma mudança significativa na minha vida pessoal e profissional, por isso estou me dedicando para que isso se torne realidade em um futuro próximo", expõe.
*Estagiária sob a supervisão de Marina Rodrigues