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Chegou o disco voador: as visitas extraterrestres que marcaram a história de Brasília

Capital federal foi palco de aparições de objetos não identificados desde o ano da inauguração, em 1960

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Gabriella Braz
09/02/2025 03:00
6min de leitura

Movidos por sonhos de trabalho e em busca de uma vida melhor, a nova capital federal atraiu pessoas vindas de todos os cantos do Brasil deste antes mesmo da inauguração, em 1960. Mas não foram apenas os seres humanos que vieram atraídos pelas belezas quadradinho. Relatos recuperados pelo Correio Braziliense mostram relatos de visitas extraterrestres que agitaram Brasília. 

A primeira aparição de objetos voadores não identificados (OVNIs), ou Fenômeno Anômalo Não Identificado (UAP) na denominação atual, aconteceu em 20 de novembro de 1960, em Taguatinga. Edição do Correio de 1º de dezembro conta que objeto “semelhando uma bola de fogo amarelada de forma oval” foi observado por cerca de 15 minutos, até sair na direção de Anápolis. 

Depois do desaparecimento, apareceram aeronaves que sobrevoaram na mesma direção, como se estivesse em uma caçada ao disco voador. As testemunhas garantiram “não se tratar de ilusão de ótica, nem de qualquer fenômeno comumente observado”.

O fenômeno aconteceu mais duas vezes no fim de novembro, o que rendeu a matéria “Taguatinga: discos voadores em hora certa”. 

O quadradinho e o Entorno ganharam ainda mais destaque nos estudos ufológicos no Brasil em 1969. Em março daquele ano, o Correio revelou aparições misteriosas em Alexânia (GO). “Disco voador, ‘assombração’ ou ‘coisa de outro mundo’, o certo é que há cerca de três meses aparecem objetos voadores não identificados numa fazenda a 25 quilo-metros de Alexânia, Nova Florida, o que esta atraindo o interesse da imprensa e a curiosidade do público, principalmente de Brasília, Anápolis e Goiânia, provocando, até, por dever de ofício, a Interdição da área pela Aeronáutica”, destaca a edição de 7 de março. 

  • Charge de 08.03.1969
    Charge de 08.03.1969 Edmun
  • Charge de 09.03.1969
    Charge de 09.03.1969 Edmun
 

A repercussão do caso levou o General Moacyr Uchôa, um dos maiores nomes da parapsicologia e da ufologia na época, até o interior do Goiás. O pesquisador conta a história nos livro A Parapsicologia e os Discos Voadores - o Caso Alexânia (1973) e Mergulho no Hiperespaço: Dimensões Esotéricas na Pesquisa dos Discos Voadores (1976)

Credito: J. França/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. General Moacir Uchoa quer desvendar o enigma dos discos voadores. Pasta: F-6177. CB, 16/09/1979. Pag. 26;
Credito: J. França/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. General Moacir Uchoa quer desvendar o enigma dos discos voadores. Pasta: F-6177. CB, 16/09/1979. Pag. 26; (foto: J. França/CB/D.A Press)

Uchôa se mudou para Brasília em 1968, onde atuou como engenheiro na administração do Gama. Popularmente chamado de “O General das Estrelas”, ele fundou a União Pioneira de Integração Social (Upis), instituição de ensino superior ainda em funcionamento, e foi ainda o responsável por promover o I Congresso Internacional de Ufologia, em 1979, que aconteceu no Distrito Federal.

Fotógrafos de fenômenos 

Em 1977, um mistério esteve no ar, ou melhor, nos céus de Brasília. 

Ao visitar um amigo na SQS 404, o fotógrafo Eduardo Stuckert, na época com 20 anos, não imaginava onde uma simples foto de um objeto estranho no céu poderia levá-lo. O jovem, que faz parte da renomada família de fotógrafos Stuckert — da qual faz parte Ricardo Stuckert —, consegui captar um evento que começou a assustar moradores da SQS 205. 

Na época, um objeto voador aparecia todos os dias, por volta de 20h, sobrevoava os blocos e começava a descer pelas entrequadras até sumir subitamente antes de tocar o solo. Moradores assustados acreditavam que o objeto teria vindo de outro planeta para “espionar a capital da República”. 

A foto de Eduardo foi publicada em edição do Correio e teve tamanha repercussão que o fotógrafo foi convocado para prestar depoimento a um grupo de pesquisadores. 

  • Credito: Arquivo CB/D.A Press. Brasil. Brasilia -DF. Discos Voadores na SQS 404 . Pasta: SN - 1193. CB, 13/02/1977. Capa;
    Credito: Arquivo CB/D.A Press. Brasil. Brasilia -DF. Discos Voadores na SQS 404 . Pasta: SN - 1193. CB, 13/02/1977. Capa; Arquivo CB/D.A Press

O general Moacir Uchoa confirmou que as fotos eram verídicas. Já Eduardo ficou preocupado com a repercussão e fez questão de ressaltar que não sabia do que se tratavam as imagens, apenas fotografou movido pela “curiosidade natural que atinge todo profissional da fotografia”. 

Dias depois, na edição de 17 de fevereiro de 1977, um fotógrafo da sucursal do Correio em Taguatinga fez mais um registro importante. José Vieira voltava do trabalho por volta de 19h quando se deparou com um objeto luminoso. Vieira, que acreditava em discos voadores, pensou estar diante de um e afirmou que “seria ridículo que nós terrenos acreditássemos apenas na nossa presença no universo”. 

O assunto não parou por aí. Moradores de Sobradinho também confirmaram que, seja lá o que fosse o objeto, ele também estava rondando os céus da região administrativa. 

Credito: Arquivo CB/D.A Press. Brasil. Brasilia -DF. Disco voador. Uma romaria a casa onde está o misterioso objeto, o radiosone RS 21, em Sobradinho. Pasta: F - 6177. CB, 18/08/1977. Pag. Capa;
Credito: Arquivo CB/D.A Press. Brasil. Brasilia -DF. Disco voador. Uma romaria a casa onde está o misterioso objeto, o radiosone RS 21, em Sobradinho. Pasta: F - 6177. CB, 18/08/1977. Pag. Capa; (foto: Arquivo CB/D.A Press)

Em março, o suposto disco voador se distanciou do centro de Brasília em direção ao entorno. Foi o que contou Moab Olmena, que viajava com a esposa, o irmão e a filha para a cachoeira de Itiquira, em Formosa (GO), quando o objeto começou a seguir o carro da família. 

04/04/1977. Credito:Arquivo CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Família vê disco voador a caminho de Itiquira. Pasta: F - 6177. CB, 05/03/1977. Pag. 12;
04/04/1977. Credito:Arquivo CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Família vê disco voador a caminho de Itiquira. Pasta: F - 6177. CB, 05/03/1977. Pag. 12; (foto: Arquivo CB/D.A Press)

O Núcleo Bandeirante fechou o roteiro do tour extraterrestre por Brasília. Uma aparição de objetos interpretados como discos voadores espantou a população local. Teve até quem dissesse que viu ETs saírem da nave, e que "eram estranhos e com antenas na cabeça". Mais tarde, a testemunha, Joana Marques de Souza, garantiu que viu os OVNIs, mas não de tão perto para ver os tripulantes, e que essa história de seres com antenas foi inventada por pessoas que ficaram com inveja por não terem visto os objetos e tentaram descredibilizar o depoimento. 

Quanto à discussão que iniciou com a foto de Eduardo Stuckert, especialistas afirmaram que registro mostrava o planeta Vênus. Mas nada ficou provado. 

ETs continuam rondando

Se engana quem pensa que acabou por aí. Em edição de 1986, matéria afirma que os fenômenos extraterrestres são corriqueiros desde os primórdios do DF. 

Credito: Arquivo CB/D.A Press. Disco Voador construído no Centro de Convecoes de Brasília, por ocasiao do I Congresso Internacional de ufologia. Pasta: F-6177. CB, 27/10/1979. Capa;
Credito: Arquivo CB/D.A Press. Disco Voador construído no Centro de Convecoes de Brasília, por ocasiao do I Congresso Internacional de ufologia. Pasta: F-6177. CB, 27/10/1979. Capa; (foto: Arquivo CB/D.A Press)

Alguns objetos até ficaram mais audaciosos e “seguiram” viajantes pelas estradas da capital federal. Um dos casos que ganhou destaque nas páginas do Correio aconteceu entre o Gama e Luziânia (GO), quando um casal de noivos relatou ter sido seguido por um disco voador por cerca de 40 minutos. A mulher, Valdete, 16 anos, contou que a luz do objeto era “muito forte e amarelada”. 

“De início, parecia uma estrela muito grande, mas que começou a crescer e a se movimentar em nossa direção”, relatou a moça. Os momentos foram de medo e tensão. Segundo ela, os ocupantes da nave pareciam querer se comunicar com o casal. 

Membro do alto escalão do governo, o então secretário-geral adjunto do extinto Ministério do Interior (Minter), Luiz Carlos Carneiro, também relatou ter sido perseguido por duas horas. “Quando olhei, havia objetos, uns cinco ou seis, e no meio uma espécie maios do que os outros, todos opacos, focos”, descreveu. 

A trajetória de Brasília com o avistamento de discos voadores se estendeu por outras décadas. A última aparição de que se tem registro aconteceu em 2023, quando um objeto misterioso sobrevoou o Congresso Nacional.

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