
Talvez Anchorage nunca tenha recebido um evento tão importante, atraindo todos os olhares do mundo. Com 289 mil habitantes, a capital do Alasca respira um encontro que pode, ao menos, começar a definir os rumos da guerra na Ucrânia. Em meio ao ceticismo de analistas e da União Europeia (UE), os presidentes Donald Trump (EUA) e Vladimir Putin (Rússia) esperam progredir em um acordo de cessar-fogo e encerrar um conflito que chega, nesta sexta-feira (15/8), a 1.268 dias. O líder americano, que escolheu deixar Volodymyr Zelensky de fora, tentou suavizar o peso da ausência e acenou com a participação do ucraniano em uma segunda reunião tripartite, ainda sem data marcada.
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Em entrevista à emissora Fox News Radio, o republicano anunciou que a cúpula com Putin "prepara a segunda reunião, mas há 25% de chance de que (...) não seja bem-sucedida". Como Trump chegou a esse índice, é uma incógnita. Trump declarou que não se deixará intimidar por Putin. Chefes de Estado e de governo europeus expressaram o temor de que os titulares da Casa Branca e do Kremlin redesenhem as fronteiras da Ucrânia.
"A segunda reunião será muito, muito importante, porque será um encontro onde será alcançado um acordo. E não quero usar a palavra 'repartir' as coisas. Mas, vocês sabem, até certo ponto, não é um termo ruim, porque serão discutidas fronteiras e territórios", confirmou Trump. "Sou o presidente, e ele (Putin) não vai brincar comigo. Saberei nos primeiros dois, três, quatro ou cinco minutos (...) se vamos ter uma reunião boa ou ruim", acrescentou. O secretário de Estado americano, Marco Rubio, classificou como primordial que os dois presidentes discutam "garantias de segurança" para o fim do conflito.
"Na minha opinião, a atual administração americana faz esforços bastante enérgicos e sinceros para encerrar as hostilidades e chegar a acordos que sejam do interesse de todas as partes envolvidas neste conflito", disse, por sua vez, Putin, antes de viajar para o Alasca.
O encontro desta sexta-feira ocorrerá na base aérea americana de Elmendorf-Richardson, nos arredores de Anchorage. A Rússia atacou unilateralmente e invadiu a Ucrânia, ex-república da União Soviética, em 24 de fevereiro de 2022. Desde então, a guerra deixou dezenas de milhares de civis e militares mortos de ambos os lados.
Expectativa
Diretor da organização não governamental Eurasia Democracy Initiative (em Kiev), Peter Zalmayev disse ao Correio que Trump tenta criar alguma expectativa em relação à cúpula com Putin, ao citar os 25% de chance de fracasso. "Ele sabe que Putin provou ser um parceiro de negociação não confiável. Suspeito que a Ucrânia tem tudo para temer esse encontro, se considerar que o sucesso, para Trump, deve ser construído às custas dos ucranianos, principalmente no que diz respeito à soberania e à segurança", afirmou. "Eu não acredito que Zelensky, Putin e Trump possam sentar à mesa, juntos, se o russo insistir em que a Ucrânia precisa abandonar territórios adicionais, se desarmar e desistir das ambições de se aliar à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Isso, essencialmente, seria assinar a capitulação."
Olexiy Haran, professor de política comparada da Universidade de Kiev-Mohyla, admitiu à reportagem que o encontro desta sexta-feira será marcado pela imprevisibilidade. "Em grande parte, o que ocorrer dependerá de Trump. Ele poderá mostrar-se mais alinhado à Rússia, o que seria realmente ruim. Mas também colocar mais pressão sobre Putin, ainda que não saibamos a extensão. Do resultado da reunião no Alascara, saberemos sobre a viabilidade de um encontro tripartite entre Trump, Putin e Zelensky."
Para Haran, se Trump utilizar a nova possível cúpula para forçar Puitin a concluir um cessar-fogo, é provável que tenha sucesso. "Se ele e Putin exigirem mudanças no território ucraniano, seria péssimo. Caso Washington se alinhe a Moscou, não acho que teremos um segundo encontro produtivo."
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