
Eram 10h15 em Jerusalém (4h15 em Brasília), quando dois terroristas se aproximaram de uma parada de ônibus, embarcaram e, de dentro do veículo, e abriram fogo contra os pedestres, usando uma submetralhadora artesanal "Carlo", utilizada em atentados no passado. O ataque mais sangrento a atingir a cidade em dois anos matou seis pessoas, incluindo um imigrante espanhol, e feriu gravemente outras seis. "É uma resposta natural aos crimes da ocupação e ao genocídio que está sendo cometido contra nosso povo", reagiu o movimento islamista palestino Hamas, sem reivindicar o ataque. Os terroristas foram abatidos.
Depois de visitar o local do atentado, em Jerusalém, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu pediu à população da Cidade de Gaza que saia "agora" da principal área do território palestino. "Em dois dias, derrubamos 50 torres terroristas, e este é apenas o começo da intensificação das manobras terrestres na Cidade de Gaza. Digo aos moradores: Vocês foram advertidos, saiam agora!", declarou, por meio de vídeo. Também ontem, quatro soldados israelenses morreram na explosão de um tanque de guerra em um acampamento das Forças de Defesa de Israel (IDF) no norte da Faixa de Gaza.
O sinal de que algo grave tinha ocorrido em Jerusalém foi percebido pelo paramédico árabe-israelense Fadi Dekaidek, da organização Magen David Adom. "Pela manhã, recebemos várias ligações sobre o tiroteio na parada de ônibus. Enviamos muitas ambulâncias para o local. Quando cheguei lá, deparei-me com uma situação horrível. Não foi fácil estar ali. Muitas pessoas estavam deitadas, sangrando e recebendo os primeiros socorros", relatou ao Correio. "As vítimas receberam disparos por todo o corpo: na cabeça, nas costas e nas mãos. Nós, do Magen David Adom, aprendemos a salvar vidas, sem distinguir se são de árabes, judeus ou cristãos."
Por sua vez, Daniel Katzenstein, socorrista especializado em respostas a traumas psicológicos do serviço médico United Hatzalah, contou que viu muitas pessoas espalhadas pelo chão. "Eu e minha equipe tentamos intervir mais a distância, porque nosso foco é a reação ao estresse. Quando não tratado, ele pode causar transtorno de estresse pós-traumático", explicou ao Correio. "Nós começamos a buscar aquelas pessoas sem qualquer resposta ou chorando incontrolavemente. Fui até uma parada de ônibus que estava cheia de gente sentada no chão, com um semblante clássico de choque. O que fizemos foi tentar reconectar o paciente com o presente. Falei com uma mulher que chorava sem parar e ajudei-a a falar com o marido, por telefone. Depois, conversei com um motorista de ônibus que saiu do veículo e correu para ajudar as pessoas. Ele estava apavorado. O que fiz foi reformular o incidente e reconstruir a cronologia do ataque. Isso dá à vítima um senso de empoderamento."
Resistência
Morador da Cidade de Gaza, o fotógrafo Abood Salama acusou Netanyahu de tentar implementar um plano de deslocamento forçado, ao exigir que os habitantes movam-se imediatamente para as áreas ao sul e ao centro. "No entanto, a realidade no terreno mostra uma resiliência significativa dos cidadãos, que não têm escolha a não ser ficar na cidade ante a falta de opções reais de deslocamento. Muitos indicadores não oficiais mostram que 70% das escolas e acampamentos ao sul e ao centro da Faixa de Gaza estão lotadas de pessoas deslocadas do norte. É impossível acomodar milhares de novas famílias", disse ao Correio.
Segundo Salama, famílias do norte de Gaza relatam que a morte as persegue por toda parte. "Palestinos descreveram os campos de deslocados no sul como 'valas comuns', citando os massacres que testemunharam. O deslocamento forçado enfrenta a firmeza dos cidadãos que optam por permanecer, tornando a Cidade de Gaza uma cena trágica."
Trabalho & Formação
Brasil
Webstories