SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Quem é Demóstenes Torres, advogado que prometeu no STF 'levar cigarro para Bolsonaro'

Ex-senador cassado, Torres, que defende o almirante Almir Garnier, passou um terço do tempo de sua sustentação oral elogiando ministros da Primeira Turma

O advogado e ex-senador Demóstenes Torres, que defende o almirante Almir Garnier, protaganizou um discurso no Supremo Tribunal Federal (STF) que chegou a arrancar risadas das pessoas que acompanhavam o primeiro dia de julgamento do núcleo 1 da suposta trama golpista, nesta terça-feira (2/9).

Torres afirmou que gosta tanto do ex-presidente Jair Bolsonaro, réu na ação penal, que poderia levar para ele "cigarro" em "qualquer lugar".

"Se o Bolsonaro precisar de eu levar cigarro pra ele em qualquer lugar, conte comigo. Ele é uma pessoa que eu gosto", afirmou o advogado.

A frase veio após Demóstenes Torres contar uma história que teria ocorrido após sua passagem pela política — ele teve o mandato de senador cassado por acusações de corrupção em 2012.

Segundo Torres, ele estava no aeroporto de Brasília quando avistou Bolsonaro passando por ele, sem parar.

O advogado disse que se sentiu ignorado por Bolsonaro.

"Aí ele parou naquele lugar que passa o raio-X, olhou, me viu, voltou correndo e me deu abraço e falou: 'Senador, para mim não aconteceu nada'", relatou Demóstenes Torres à Primeira Turma do STF, emendando então na frase sobre o cigarro.

"É possível gostar do ministro Alexandre de Moraes e ao mesmo tempo gostar do ex-presidente Bolsonaro? Sim, sou eu", disse, despertando gargalhadas.

Com 1h para defender Garnier, Torres passou 20 minutos elogiando e cumprimentando os ministros da Primeira Turma.

Depois, Torres pediu a anulação da delação do réu Mauro Cid, que é uma das evidências usadas pela acusação.

Os altos e baixos de Demóstenes Torres

Figura célebre na política nacional, Torres fez carreira como promotor no Ministério Público de Goiás (MP-GO) e como secretário de Segurança Pública de Goiás, antes de entrar na disputa por cargos eletivos.

Em 2002, foi eleito senador e reeleito oito anos depois, em 2010. Destacou-se como opositor de Lula em meio ao escândalo do Mensalão.

Em 2012, porém, seu nome veio à tona em investigações relacionadas ao empresário Carlinhos Cachoeira, suspeito à época de ter ligações com o jogo do bicho.

Demóstenes foi acusado de agir no Congresso, no Judiciário e no Executivo em favor do empresário.

Em troca, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), o senador teria recebido R$ 3,1 milhões do grupo do empresário, além de presentes.

Em julho de 2012, ele foi cassado pelo Senado, tornando-se o segundo senador na história a ter o mandato cassado pela Casa.

À época, o senador disse que não beneficiou Cachoeira e que não recebeu dinheiro dele. O então parlamentar afirmou que a Polícia Federal teria feito uma "divulgação seletiva" das gravações de suas conversas com Cachoeira, com o objetivo de prejudicá-lo.

A defesa de Demóstenes passou, então, a questionar a validade das gravações como prova no processo uma vez que elas não teriam sido feitas com autorização do STF, a instância supostamente adequada para autorizar esse tipo de medida contra parlamentares com foro privilegiado.

Em 2016, quatro anos após ser cassado, o STF acatou a tese de sua defesa e anulou as provas da investigação ligando seu nome a Carlinhos Cachoeira.

Nos últimos anos, Torres ainda tentou voltar à vida política e se candidatou a deputado federal por Goiás em 2018, mas não conseguiu se eleger. Obteve 27.801 votos, menos de 1% do eleitorado.

Desde então, Torres vem se dedicando novamente à carreira jurídica e hoje comanda um escritório de advocacia com uma equipe de aproximadamente 20 pessoas.

Ele já atuou em casos de repercussão nacional como o do médium João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, condenado a mais 118 anos de prisão por crimes sexuais.

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