Oriente Médio

Israel ameaça retomar ataques a Gaza se Hamas não entregar corpos

Ministro da Defesa avisa que, se o movimento islâmico palestino se recusar a respeitar o acordo de cessar-fogo, Israel terá a ajuda dos Estados Unidos para reiniciar os combates

Palestinos caminham diante de pédio destruído, em mercado improvisado, no campo de refugiados de Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza  -  (crédito: Eyad Baba/AFP)
Palestinos caminham diante de pédio destruído, em mercado improvisado, no campo de refugiados de Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza  - (crédito: Eyad Baba/AFP)

O clima de entusiasmo e de esperança, após a assinatura do acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza e a troca de todos os 20 reféns vivos por 1.968 presos palestinos, na segunda-feira (13/10), deu lugar à preocupação. Israel Katz, ministro da Defesa israelense, afirmou que suas forças retomarão os combates se o movimento islâmico palestino Hamas não respeitar o pacto. "Se o Hamas recusar respeitar o acordo, Israel, em coordenação com os Estados Unidos, retomará os combates e atuará para uma derrota total do Hamas", afirmou uma nota do Ministério da Defesa.

Assessores do governo de Donald Trump se apressaram a suavizar a declaração de Katz e garantiram que o Hamas tem a intenção de honrar a parte das tratativas que dizem respeito à devolução dos corpos dos 28 sequestrados — até a noite desta quarta-feira (15/10), sete cadáveres tinham sido entregues pelo movimento. Outro corpo, examinado pelo Instituto Médico Legal, em Tel Aviv, seria de um morador da Faixa de Gaza. "Seguimos ouvindo deles que pretendem honrar o acordo. Querem ver o acordo concluído nesse aspecto", disse um assessor da Casa Branca, sob a condição de anonimato. 

As Brigadas Ezzedine Al-Qassam, braço armado do Hamas, garantiram que entregaram todos os restos mortais que puderam localizar e que necessitarão de equipamento especializado para retirar os demais dos escombros. A fragilidade do acordo de cessar-fogo também ficou clara na dificuldade em estabilizar a segurança em Gaza e em desmilitarizar o Hamas. O movimento islâmico promoveu execuções sumárias e em massa nas ruas de Gaza e tem travado confrontos com facções supostamente ligadas a Israel.

Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da França condenou "energicamente" as execuções e afirmou que "os incidentes armados dos últimos dias são particularmente preocupantes". O almirante Brad Cooper, chefe do Comando Central do Exército dos EUA (Centcom) e principal autoridade militar de Washington no Oriente Médio, instou "firmemente" o Hamas a "suspender imediatamente a violência e os disparos contra palestinos inocentes.

"Estado de caos"

Morador da Cidade de Gaza, o fotógrafo Ahmed Hassan Youssef Al-Saifi, 24 anos, admitiu ao Correio que há um "estado de caos" no enclave. "Isso ocorre por conta da presença de gangues afiliadas ao Exército de ocupação israelense. Membros da resistência palestina estão trabalhando para recuperar a ordem e confrontar essas facções para prevenir que o caos se espalhe novamente", disse, ao associar o termo "resistência palestina" ao Hamas.

Alon Ben-Meir, professor de relações internacionais da Universidade de Nova York, vê uma chance para que Israel e Hamas avancem no processo de paz. "A dúvida é se Netanyahu dará um passo nessa direção. O Hamas ainda não se desarmou e, por isso, não está certo se deve ou não participar do processo de paz", afirmou ao Correio. "Se o Hamas for autorizado a se juntar ao processo de paz, será muito mais fácil o desarmamento. Nesse sentido, a organização reivindicará a vitória, por ter alcançado o que desejava, caminhando rumo a uma solução de dois Estados." 

Na terça-feira (14/10), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou utilizar a violência para desarmar o Hamas, caso o movimento não tome essa iniciativa. Professor de história aposentado da Universidade Libanesa Americana (em Beirute), Habib C. Malik disse à reportagem ver o ultimato da Casa Branca com preocupação. "Isso poderia ser facilmente traduzido em Washington dando sinal verde para Israel entrar e finalizar com o Hamas."

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postado em 16/10/2025 05:57
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