
No dia seguinte ao rompimento temporário do cessar-fogo na Faixa de Gaza, os enviados norte-americanos Steve Witkoff e Jared Kushner desembarcaram, ontem, em Israel, para uma reunião com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Os bombardeios de domingo provocaram o temor de um colapso na implementação do acordo de paz celebrado há 11 dias e mobilizaram a atenção dos negociadores para garantir a manutenção do pacto.
Na série de ataques a Gaza, foram lançadas 153 toneladas de bombas, de acordo com Netanyahu. Segundo ele, a ofensiva foi uma resposta a ataques do movimento islamista palestino Hamas, que negou a acusação. Após os bombardeios, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, insistiu que o cessar-fogo permanecia em vigor.
Ontem, em meio a visita de Witkoff, enviado especial para o Oriente Médio, e Kushner, conselheiro e genro de Trump, houve novos ataques no enclave palestino. As forças de Israel denunciaram violação de segurança, para a qual militares recuaram após o início da trégua, e abriram fogo contra alvos considerados hostis.
Em declaração à imprensa, Shosh Bedrosian, porta-voz do governo israelense, limitou-se a informar que os enviados de Trump estiveram com Netanyahu "para conversar sobre os últimos acontecimentos". Segundo ele, o vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, e sua esposa pretendem visitar Israel durante "alguns dias" e também se reunirão com o primeiro-ministro.
Mais tarde, Netanyahu disse ao Parlamento israelense que Vance planejava desembarcar ainda hoje no país para discutir os "desafios de segurança" que enfrentam e as "oportunidades diplomáticas".
Enquanto isso, uma delegação do movimento palestino esteve no Cairo para discutir com funcionários de alto escalão do Egito e do Catar o frágil cessar-fogo e o pós-guerra em Gaza. Segundo uma fonte próxima às negociações, estava em pauta "a formação de um comitê de especialistas independentes responsável pela gestão de Gaza" após o conflito.
Chance
Em Washington, o presidente Donald Trump disse que daria ao movimento Hamas uma "pequena chance" de cumprir o acordo de trégua com Israel em Gaza. "Combinamos com o Hamas que eles serão muito bons, que se comportarão", disse Trump a repórteres na Casa Branca, ao receber o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese. "Se não o fizerem, entraremos em ação e vamos erradicá-los. Se necessário, eles serão erradicados", advertiu.
Trump insistiu, no entanto, que as forças norte-americanas não participariam de uma eventual represália contra o Hamas. Segundo ele, há dezenas de países que concordaram em se juntar a uma força internacional de estabilização para Gaza que "ficariam encantados em intervir". "Além disso, Israel interviria em dois minutos se eu pedisse", declarou Trump.
O episódio de violência de domingo foi o primeiro de grande magnitude desde a entrada em vigor da trégua em 10 de outubro. A Defesa Civil de Gaza, que opera sob a autoridade do Hamas, indicou que pelo menos 45 palestinos morreram, incluindo civis e um jornalista, nos bombardeios israelenses.
Para cumprir a primeira fase do frágil acordo, o Hamas entregou, em 13 de outubro, os 20 reféns vivos que permaneciam em cativeiro desde o ataque de 7 de outubro de 2023 ao território israelense. E devolveu, até o momento, 13 dos 28 cadáveres de reféns que ainda estavam em Gaza. Em troca, Israel libertou quase 2 mil prisioneiros palestinos.
Justamente a entrega dos corpos dos reféns se tornou um dos pontos mais delicados do acordo. Israel se queixa da demora da devolução, enquanto o Hamas sustenta que a destruição em Gaza dificulta as operações para localizar os cadáveres sob as ruínas. Ontem, o braço armado do grupo terrorista entregou o corpo do 13º refém, encontrado no domingo.
A etapa posterior do plano de Trump prevê o desarmamento do Hamas e a anistia ou o exílio de seus combatentes, assim como a continuidade da retirada israelense de Gaza. Também descarta qualquer papel do movimento islamista no governo do território.

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