Tensão nas Américas

Medo de intervenção dos EUA faz Maduro reforçar própria segurança

Jornal The New York Times revela que ditador venezuelano dorme em locais diferentes a cada noite, utiliza vários celulares e alterna as rotinas de descanso. Especialistas veem o risco de traição interna e um chavismo fragmentado

Venezuelano segura vela durante vigília contra o presidente Nicolás Maduro em Bogotá: recompensa de US$ 50 milhões       -  (crédito: Luis Acosta/AFP)
Venezuelano segura vela durante vigília contra o presidente Nicolás Maduro em Bogotá: recompensa de US$ 50 milhões - (crédito: Luis Acosta/AFP)

Ele tem a captura avaliada em US$ 50 milhões (ou R$ 265,5 milhões) — valor prometido pelo governo de Donald Trump — e sofre uma ameaça de ofensiva terrestre dos Estados Unidos dentro de seu país. O ditador venezuelano, Nicolás Maduro, adotou medidas incomuns para reforçar a própria segurança, depois que a Casa Branca autorizou uma operação secreta da Agência Central de Inteligência (CIA) dentro da Venezuela e anunciou uma incursão para "muito em breve". De acordo com o jornal The New York Times, citando figuras próximas ao chavismo, Maduro muda os locais de pernoite com frequência, utiliza celulares diferentes e tem modificado as suas rotinas de descanso. O receio de uma traição no círculo interno de poder levou o líder chavista a ampliar a presença de agentes cubanos em seu entorno. Maduro também teria incorporado oficiais da contrainteligência de Cuba às fileiras do Exército venezuelano. 

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"O padrão descrito pelo The New York Times — mudar de lugar para dormir, usar vários celulares e alterar rotinas — é típico de líderes que sentem que o risco não vem somente do exterior, mas do próprio sistema que os sustenta", afirmou ao Correio Jose Vicente Carrasquero Aumaitre, professor de ciência política da Universidad Simón Bolívar (em Caracas). "Quando um chefe de Estado necessita viver como fugitivo dentro de seu país, não estamos diante de segurança: estamos ante um temor estrutural. Esses comportamentos não são uma resposta a uma ameaça específica, mas, sim, a uma análise mais profunda: Maduro sabe que seu ambiente está infiltrado, que seu círculo íntimo está fragmentado, que existem setores dentro do establishment militar com lealdades 'elásticas' e que o narco-Estado liderado por ele fomenta inimigos internos e externos", acrescentou. 

Para Imdat Oner, ex-diplomata turco que morou em Caracas e hoje analista político da Universidade Internacional da Flórida, precauções como aquelas adotadas por Maduro são muito comuns em líderes que se sentem ameaçados por forças externas ou conspirações internas. "Há muito tempo Maduro se preocupa com uma possível operação dos EUA ou com traição dentro de seu próprio círculo de segurança. A mudança de localização, telefone e rotina diária demonstra sua tentativa de reduzir sua previsibilidade, uma grande vulnerabilidade em qualquer cenário que envolva um alvo de alto valor", explicou à reportagem. 

Oner avalia que o ditador venezuelano está em posição muito mais frágil hoje, pois perdeu qualquer legitimidade eleitoral real em 2024. "Ele sabe que seu apoio diminuiu, mesmo dentro do chavismo, e isso torna mais vulnerável do que em crises anteriores. Por esse motivo, ele parece mais disposto a conversar com os EUA, por entender que sua situação não é sustentável para sempre", observou. Ainda de acordo com ele, dessa vez, a pressão externa poderia surtir a diferença. "Trump quer um resultado concreto na Venezuela e não deseja dar a impressão de recuo. Ainda assim, não acredito que Maduro cairá devido a uma ação direta dos EUA. Se ele sair, será porque a pressão externa causará uma ruptura interna, especialmente dentro das Forças Armadas." Nos últimos dias, Trump escalou a retórica não somente em relação à Venezuela. Também ameaçou atacar o narcotráfico na Colômbia e no México. 

Colômbia

Andrés Macías Tolosa — professor da Faculdade de Finanças, Governo e Relações Internacionais da Universidad Externado de Colombia — entende que Trump e o homólogo colombiano Gustavo Petro têm posições e ideologias opostas. "Eles veem essa tensão como uma forma de gerar controvérsia e buscar maior governabilidade. Essa ameaça faz parte da escalada da tensão, mas, por ora, não deve se agravar muito", afirmou, por e-mail. 

Saiam imediatamente!

O Departamento de Estado renovou um alerta para que americanos não viajem à Venenezuela e emitiu uma advertência: "Recomenda-se fortemente que todos os cidadãos dos EUA e residentes permanentes legais na Venezuela deixem o país imediatamente". "Não viajem nem permaneçam na Venezuela, devido ao alto risco de detenção ilegal, tortura na prisão, terrorismo, sequestro, aplicação arbitrária das leis locais, levante civil e infraestrutura de saúde precária", completa o comunicado. 

EU ACHO...

Crédito: Arquivo Pessoal. Cientista político José Vicente Carrasquero Aumaitre, professor da Universidade Simón Bolívar, em Caracas.
Crédito: Arquivo Pessoal. Cientista político José Vicente Carrasquero Aumaitre, professor da Universidade Simón Bolívar, em Caracas. (foto: Arquivo pessoal)

"Maduro encontra-se em risco real, não pela oposição, mas pelo próprio sistema. As mudanças constantes de rotina mostram que ele teme três frentes: fraturas internas no chavismo, tensões com grupos criminosos que sustentam o regime, e pressão geopolítica externa. Um líder estável não dorme em locais diferentes a cada noite. Um líder vulnerável, sim. Maduro não se protege: ele se esconde."

Jose Vicente Carrasquero Aumaitre, professor de ciência política da Universidad Simón Bolívar (em Caracas)

Crédito: Arquivo Pessoal. Andres Macias Tolosa, professor emérito da Universidad Externado de Colômbia, em Bogota.
Andres Macias Tolosa, professor emérito da Universidad Externado de Colômbia, em Bogotá (foto: ArquivoPessoal)

"Combater o narcotráfico com estratégias militares unicamente, ou priorizá-las, tem se mostrado ineficaz há décadas. Embora importante como estratégia para enfrentar grupos criminosos, não é suficiente para lidar com o fenômeno do narcotráfico em sua totalidade."

Andrés Macías Tolosa, professor da Faculdade de Finanças, Governo e Relações Internacionais da Universidad Externado de Colombia 

 WASHINGTON, DC - DECEMBER 04: Navy Adm. Frank Bradley walks to a hold room in between attending closed-door classified meetings with lawmakers on Capitol Hill on December 4, 2025 in Washington, DC. Members of the Senate and House Armed Services committees met with Bradley about the strikes on suspected drug boats out of Venezuela ordered by the Trump Administration.   Anna Moneymaker/Getty Images/AFP (Photo by Anna Moneymaker / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP)
WASHINGTON, DC - DECEMBER 04: Navy Adm. Frank Bradley walks to a hold room in between attending closed-door classified meetings with lawmakers on Capitol Hill on December 4, 2025 in Washington, DC. Members of the Senate and House Armed Services committees met with Bradley about the strikes on suspected drug boats out of Venezuela ordered by the Trump Administration. Anna Moneymaker/Getty Images/AFP (Photo by Anna Moneymaker / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP) (foto: Anna Moneymaker/Getty Images/AFP)

Almirante nega ordem de Hegseth para matar todos a bordo

Em sabatina na Câmara dos Representantes, no Capitólio (em Washington), o almirante Frank Bradley (foto) — comandante que supervisionou os ataques a uma suposta lancha do narcotráfico que mataram dois sobreviventes, no Mar do Sul do Caribe — desmentiu uma ordem dada pelo secretário da Guerra, Pete Hegseth, para "matar todos" a bordo da embarcação. "Analisei o vídeo e ele é profundamente perturbador. O fato é que matamos duas pessoas que estavam em grande sofrimento e não tinham os meios, nem obviamente a intenção, de continuarem com sua missão", disse o deputado democrata Jim Himes, integrante do Comitê de Inteligência da Câmara. 

  • Crédito: Arquivo Pessoal. Cientista político José Vicente Carrasquero Aumaitre, professor da Universidade Simón Bolívar, em Caracas.
    Crédito: Arquivo Pessoal. Cientista político José Vicente Carrasquero Aumaitre, professor da Universidade Simón Bolívar, em Caracas. Foto: Arquivo pessoal
  • Crédito: Arquivo Pessoal. Andres Macias Tolosa, professor emérito da Universidad Externado de Colômbia, em Bogota.
    Andres Macias Tolosa, professor emérito da Universidad Externado de Colômbia, em Bogotá Foto: ArquivoPessoal
  •  WASHINGTON, DC - DECEMBER 04: Navy Adm. Frank Bradley walks to a hold room in between attending closed-door classified meetings with lawmakers on Capitol Hill on December 4, 2025 in Washington, DC. Members of the Senate and House Armed Services committees met with Bradley about the strikes on suspected drug boats out of Venezuela ordered by the Trump Administration.   Anna Moneymaker/Getty Images/AFP (Photo by Anna Moneymaker / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP)
    WASHINGTON, DC - DECEMBER 04: Navy Adm. Frank Bradley walks to a hold room in between attending closed-door classified meetings with lawmakers on Capitol Hill on December 4, 2025 in Washington, DC. Members of the Senate and House Armed Services committees met with Bradley about the strikes on suspected drug boats out of Venezuela ordered by the Trump Administration. Anna Moneymaker/Getty Images/AFP (Photo by Anna Moneymaker / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP) Foto: Anna Moneymaker/Getty Images/AFP
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postado em 05/12/2025 05:50
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