Democratas do Comitê de Supervisão da Câmara dos Representantes divulgaram uma série de fotos do espólio do pedófilo e traficante sexual Jeffrey Epstein, que teria se suicidado em 10 de agosto de 2019 em uma prisão de Nova York. Nas imagens, o magnata aparece ao lado do atual presidente republicano Donald Trump, do ex-presidente democrata Bill Clinton, do empresário Richard Branson, do cineasta Woody Allen e de Steve Bannon — ex-estrategista-chefe da Casa Branca no governo Trump e ideólogo da extrema-direita. Bill Clinton, fundador da Microsoft, e o ex-príncipe Andrew se destacam em alguns dos registros.
- Suspeito de assassinar Charlie Kirk comparece a tribunal nos EUA
- Trump é interrompido em entrevista por assessor que saía do banheiro
- Brasileira ligada ao governo Trump ganha direito a liberdade sob fiança
Em uma das imagens, aparecem embalagens de preservativos ilustradas com um sisudo Trump e a frase "I'm huuuuge!" ("Eu sou enorme!"). Também há fotos de brinquedos sexuais de Epstein, entre eles um conhecido como quebra-queixo — acompanhado de um aviso: "Nunca deixe o usuário sem supervisão; o dispositivo força a pessoa a produzir mais saliva do que uma mordaça normal" — e uma luva com encaixes para os dedos com texturas diferentes.
A brasileira Marina Lacerda, uma das vítimas de Epstein, disse ao Correio que os arquivos do caso podem prejudicar o presidente. "Se Trump não estivesse envolvido, não teria medo de divulgar os documentos. Nós, sobreviventes, somos os arquivos Epstein. Ele anunciou uma investigação sobre o caso, mas não precisa disso."
Os democratas do Comitê de Supervisão da Câmara destacaram que "essas imagens perturbadoras levantam ainda mais questões sobre Epstein e suas relações com alguns dos homens mais poderosos do mundo". A Casa Branca denunciou que os democratas divulgaram fotos "selecionadas" para "tentar criar uma narrativa falsa". "O engano democrata contra o presidente Trump foi desmentido repetidamente", disse Abigail Jackson, porta-voz da Casa Branca.
Ex-procurador federal para o Distrito Sul de Nova York, Roland Riopelle adimitiu que muitas das imagens divulgadas ontem são bastante embaraçosas para Trump. "Em particular, a foto dele com as seis jovens mulheres e a ilustração na embalagem das camisinhas — nenhum presidente jamais foi visto assim. Creio que esta seja apenas a primeira de muitas revelações embaraçosas relacionadas a Epstein que serão divulgadas ao público nas próximas semanas e meses", disse ao Correio.
Riopelle acredita que nenhuma delas será capaz de desestabilizar por completo o governo Trump, caso se resumam a fotos constrangedoras. "No entanto, todos esses fatores continuarão a minar o poder do presidente de maneiras sutis. Ao longo do tempo, esses tipos de revelações se combinarão a outros temas que estão erodindo a confiança da opinião pública em Trump — como a economia em declínio, a má conduta em relação à Venezuela etc. Portanto, depois de algum tempo e de forma coletiva, essas revelações poderão se tornar importantes."
DEPOIMENTO
"Ele me estuprou"
"Meu abuso cometido pelo Jeffrey Epstein teve início quando eu tinha 14 anos. Antes, dos 8 aos 12 anos, havia sido abusada pelo meu padrasto. Minha mãe não podia trabalhar e aquele tempo foi muito difícil para nós, que éramos imigrantes. Comecei a trabalhar muito cedo. Nisso, uma das meninas, que era brasileira, conheceu o Jeffrey. Ela me perguntou se eu queria dar uma massagem em um homem mais idoso e que seria algo muito fácil. Disse que eu teria de tirar a blusa e ficar de sutiã. Achei estranho, mas, como uma menina nova e vulnerável, que queria fazer dinheiro para ajudar a família, não pensei que isso se tornaria algo completamente diferente.
Ao chegar à casa dele, essa menina também estava lá. Era uma mansão. No quarto, tirei a blusa, fiz a massagem e ele me perguntou como eu estava. Naquela época, fiquei com muito medo de falar 'não'. Ele pediu para que eu tirasse o sutiã. A menina também estava lá no quarto de massagem super escuro. O Epstein pagou a menina e ela me deu o dinheiro. Perguntei a ela como deixou que aquilo acontecesse. Jeffrey disse que gostou muito de mim e queria me ver de novo.
Eu estava passando por dificuldades muito grandes e acabei voltando. Os abusos só pioraram. Ele me estuprou depois de alguns meses e me forçou a levar mulheres lá. Usou o fato de que eu era imigrante e de que precisava de dinheiro. Chegou uma época em que ele me disse que estava muito velha e que nosso relacionamento estava chato. Quando eu tinha 17 anos, em 2008, o FBI bateu na minha porta. Fizeram o mesmo em 2019."
Marina Lacerda, 37 anos, brasileira vítima de Jeffrey Epstein dos 14 aos 17
