Educação

Artigo: CRES+5 não pode repetir mais do mesmo

De 13 a 15 deste mês, Brasília sediará a Conferência Regional da América Latina e Cariba, promovida pela Organização das Nações Unida ara a Educação, a Ciência e Cultura e pelo Instituto Internacional para a Educação Superior

Lula na ONU -  (crédito: Ricardo Stuckert / PR)
Lula na ONU - (crédito: Ricardo Stuckert / PR)
postado em 06/03/2024 06:00

LÚCIA TEIXEIRA
Doutora em psicologia da educação e presidente do Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior no Brasil

A realização em Brasília, de 13 a 15 de março, da Conferência Regional da América Latina e Caribe (CRES+5), evento promovido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e pelo Instituto Internacional para a Educação Superior (Isealc), com suporte e participação do Ministério da Educação (MEC), representa uma aguardada oportunidade para que propostas formuladas com o objetivo de reafirmar a relevância do ensino superior possam ser percebidas e legitimadas pela sociedade brasileira.

Não faltam atributos à Unesco-Iesalc para estabelecer diretrizes e nortear projetos capazes de garantir uma educação inclusiva, plural e de qualidade que atenda à atual dinâmica do ensino superior. Desde a primeira CRES, realizada em Havana em 1996, e nas conferências seguintes de Cartagena (2008) e Córdoba (2018), tem sido reafirmado que a educação é um bem público de alto impacto social, e que é preciso proporcionar soluções para superação do cenário de incertezas que as instituições de ensino superior vêm enfrentando na maioria dos países, com destaque para o Brasil, onde notadamente as instituições do setor privado estão vivenciando uma encruzilhada diante das delicadas e complexas definições que lhes estão sendo exigidas.

As significativas mudanças culturais e tecnológicas que impactaram a dinâmica e a organização das IES nos últimos anos, bem como os novos desafios e oportunidades proporcionados pela pandemia da covid-19, criaram paradoxos. Se por um lado temos a possibilidade de repensar o modelo acadêmico em benefício dos alunos, por outro não há uma legislação que incentive a inovação. Se há um avanço no uso da tecnologia como fator de aprendizagem, há também uma evidente exclusão digital.

É recomendável, portanto, que a CRES+5 não assuma uma postura meramente reativa e conservadora e aponte caminhos para o futuro, inspirando as instituições de ensino superior brasileiras a se reinventarem e, ao mesmo tempo, direcionarem seus esforços para atender aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), um processo no qual o setor privado tem papel essencial.

O Iesalc tem procurado ampliar o debate e proporcionar a diversidade de vozes e a pluralidade de representação pública e privada na Conferência. Até o presente momento, porém, a participação do setor privado no evento de Brasília ameaça ser pouco representativa, embora o segmento seja responsável por 78% das matriculas da educação superior do país, o que significa 7,4 milhões de alunos atendidos.

A CRES de Brasília não pode ser organizada como se houvesse uma divisão entre os setores da educação, onde um deles tem voz e representatividade e o outro permanece como ouvinte, apesar de ter estado presente, representado pelo Semesp, nas CRES anteriores e nos quatro encontros preparatórios da CRES+5: desde Córdoba, na Argentina, quando foram definidos os 12 eixos temáticos para serem abordados durante o evento no Brasil, até Puebla, no México, Assunção, no Paraguai, e em Havana, Cuba.

Não há que questionar a relevância das universidades públicas e a necessidade de atuarem como um dos protagonistas na Conferência. A educação pública e privada devem convergir para avançar na produção de conhecimento com abordagens inclusivas e inovadoras. Não se trata de criar divergências com o setor público, mas sim de buscar diálogo e união de esforços. O problema é o equilíbrio da representatividade que deve prevalecer em eventos como esse.

A CRES+5 não pode perder a oportunidade de ser um espaço de pluralidade. Se um setor se apoderar do debate e da elaboração das propostas, elas provavelmente não vão gerar consensos e correm o risco de se tornar diretrizes com pouca efetividade, limitando-se a repetir mais do mesmo, como temos visto até agora.

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