Artigo

Presença da filosofia

É saudável que a filosofia ocupe a mente dos homens, para que haja melhor uso da inteligência. Queremos também melhor compreensão do papel da ciência, das letras e das artes na vida humana

 Laís Suellen Cardoso de Jesus Cerdeira, enfermeira da Gease, conversa com  estudantes no Cean -  (crédito: Gerência de Atendimento e Apoio do Estudante/SEEDF)
Laís Suellen Cardoso de Jesus Cerdeira, enfermeira da Gease, conversa com estudantes no Cean - (crédito: Gerência de Atendimento e Apoio do Estudante/SEEDF)

A filosofia é matéria de que não se pode abrir mão no ensino médio. É fundamental para a compreensão do fenômeno da educação. Ela unifica as diversas descobertas da ciência, supera crenças e enfoques empíricos. Todos se questionam, hoje em dia, sobre o conhecimento, o ser, a existência, os valores, com a missão de encontrar respostas ou mostrar o que é possível entender.

A educação trata da natureza do conhecimento e de como este é ensinado e organizado. Sua abrangência é uma concepção da verdade e da liberdade com aquilo que é ensinado. Assim, procuramos fazer uma visão crítica daquilo que é ensinado. O objetivo não poderia ser outro senão o crescimento e a evolução da sociedade.

É saudável que a filosofia ocupe a mente dos homens, para que haja melhor uso da inteligência. Queremos também melhor compreensão do papel da ciência, das letras e das artes na vida humana. Deseja-se a harmonia entre o logo e o empírico. Assim, se alcança a verdadeira riqueza do espírito. Illich falou na desescolarização, hoje cita-se  a desconstrução, com o risco muito sério de se estar correndo atrás do nada.

Pensadores que visitaram o Brasil aqui disseminaram suas ideias, como Noam Chomsky, Alan Badiou, Alain Touraine, Edgard Morin (o homem do olimpismo moderno), Claude Leport, Yuval Harari e muitos outros. A convite de Helena Nader, presidente da Academia Nacional de Ciências, estive presente no Nobel Prize Dialogue, que aconteceu na sede da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), em 15 de abril. Presente também Eliete Bouskela, presidente da Academia Nacional de Medicina.

 A recepção, depois, foi no Palácio da Cidade, em Botafogo, da qual participaram laureados, painelistas e moderadores. Foi um belo encontro em que o destaque foi, sem dúvida, a ciência universal. Representei, em nome do presidente Merval Pereira, a Academia Brasileira de Letras. O Rio tornou-se a capital do conhecimento.

Pude recordar, em rápidas palavras, um fato histórico. O então governador Negrão de Lima foi responsável pela minha passagem pela Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia, o que aconteceu, pela primeira vez, no governo da então Guanabara. Fui autor de um projeto de doutrina da ciência e tecnologia, trabalho inédito, e construí o Planetário da Gávea, que se tornou uma incrível atração científica da cidade. Essas atividades se desenvolveram no período 1968 a 1971.

Na ocasião, nasceu a revista Ciência, muito bem editada pelo saudoso jornalista Fuad Atala. E foram criadas cadeiras que fizeram muito sucesso na reformulação dos cursos de ensino médio da cidade do Rio. Houve um destaque especial para tudo que se referisse ao desenvolvimento científico e tecnológico, como sempre se considerou uma prioridade no estado. E graças ao planetário foram valorizadas as atividades ligadas à astronomia.

Foi um enorme prazer lidar com esses assuntos no governo. Tive minha primeira formação como bacharel e licenciado em matemática, lecionando depois, por muitos anos, na matéria de geometria analítica. Ao fazer o segundo curso superior em pedagogia, fixei-me em história e filosofia da educação — daí o livro com esse título que acabei de lançar pela Editora Vozes.

Posso proclamar, com muito orgulho, que lecionei durante 34 anos na Uerj, à qual me dediquei de corpo e alma. Pertenci durante mais de 20 anos ao seu eficiente Conselho Universitário. E fui vice-chanceler da universidade, prestando inestimáveis colaborações à sua administração. Era responsável pelos contatos da instituição com o governador da ocasião, em função das minhas atividades, por quatro vezes, de secretário de Estado.

Registrar esses momentos em que o Rio se transformou em capital da ciência e da tecnologia foi um prazer imenso, o mesmo que tive quando visitei, em 1989, a Academia Sueca de Literatura e fui recebido pelo seu prestigiado secretário geral, escritor e linguista Sture Allen, de quem recebi uma linda medalha.

O encontro no Rio, prestigiado pelo prefeito Eduardo Paes, teve o expressivo título de Creating our future together with science Nobel Prize Dialogue, com a presença de vencedores dos prêmios Nobel de Física, Química e Medicina. O objetivo de motivar os jovens foi plenamente alcançado.

*Arnaldo Niskier, Membro da Academia Brasileira de Letras

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postado em 22/05/2024 05:00
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