
Obviamente, o grande e justificável sucesso de Ainda estou aqui, filme de Walter Salles que vem lotando salas de cinema do país e conquistando prêmios no exterior, a exemplo do Globo de Ouro, nos Estados Unidos, e no Festival de Veneza, tem a ver com a exuberante performance de uma extraordinária atriz.
Tudo isso e mais a indicação em três categorias — incluindo a de melhor atriz — para o Oscar, primordialmente, estão relacionados com o talento absurdo e o carisma de Fernanda Torres, que dá vida a Eunice Paiva, matriarca de uma família da classe média alta, moradora do Leblon, bairro nobre da Zona Sul do Rio de Janeiro, no início da década de 1970.
Por falar nisso, Fernanda é capa da prestigiosa revista de cinema The Hollywood Reporter, para qual concedeu entrevista cujo foco principal, claro, foi o filme Ainda estou aqui. Tem mais: com quase 10 milhões de visualizações, post da atriz brasileira na Academia do Oscar é o mais visto, desbancando os concorrentes.
Como se sabe, o filme tem por base o livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-deputado Rubens Paiva, que narra acontecimentos do período mais duro da nefasta ditadura militar. O foco principal da produção é a prisão, o assassinato e o desaparecimento do corpo de Rubens Paiva, engenheiro civil e deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), vivido por Selton Mello — outro destaque do elenco.
Mas não se pode deixar de enaltecer, também, a trilha sonora da película. As músicas foram escolhidas para se encaixar na cena, ter sentido com o roteiro e emocionar os espectadores. A escolha delas, que têm papel importante para contar a história, não ocorreu de forma aleatória. Resultou de uma parceria entre Walter Salles, os roteiristas Heitor Lorega e Murilo Hauser e o editor Affonso Gonçalves.
No set list, destaca-se É preciso dar um jeito, meu amigo, de Erasmo Carlos, que voltou a ser inserida na programação de algumas emissoras de rádio do país, como a Cultura FM, daqui de Brasília. A ela se juntam Fora da ordem (Caetano Veloso), Jonny renda-se (Tom Zé), Acauã (Gal Costa), Baby (Mutantes), Como dois e dois (Roberto Carlos), A Festa de Santo Reis (Tim Maia), Take me back to Piauí (Juca Chaves), Agoniza mas não morre (Nelson Sargento), entre outras.
Com a exibição de Ainda estou aqui em vários continentes, além da valorização das artes visuais brasileiras, haverá, por meio dessas canções, espaço para a divulgação da música popular brasileira, reconhecidamente uma das mais relevantes do mundo.