ARTIGO

Cabos submarinos: a nova infraestrutura do protagonismo brasileiro

Expandir a conexão no Brasil e permitir nossa independência tecnológica. Assim, será possível impulsionar a economia digital e, acima de tudo, democratizar conhecimento e reduzir desigualdades

PRI-2808-OPINI -  (crédito: Maurenilson Freire)
PRI-2808-OPINI - (crédito: Maurenilson Freire)

Frederico de Siqueira Filhoministro das Comunicações

O fundo do mar, no universo de Júlio Verne em Vinte mil léguas submarinas, é um lugar livre de injustiças e das opressões existentes na superfície. É um território novo, seguro. "Nele reina a suprema tranquilidade".

Se o Nautilus percorresse novamente os nossos oceanos, sua silenciosa tripulação perceberia uma boa nova. O mar, que já cobria sete décimos do globo terrestre, agora conecta todos os continentes por meio de cabos de fibra ótica submersos.

No Atlântico Sul, o Brasil está expandindo cada vez mais sua infraestrutura a fim de garantir sua soberania digital. Em agosto, o Ministério das Comunicações encerra o prazo da consulta pública que vai subsidiar a criação da Política Nacional de Cabos Submarinos, aberta para receber contribuições da sociedade civil.

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O objetivo é tornar o nosso país um protagonista em telecomunicações. A internet hoje é um organismo poderoso, a máquina propulsora do desenvolvimento. Com isso, as telecomunicações passaram a ser infraestrutura básica e estratégica para o crescimento da nossa economia. Sendo assim, precisamos fazer com que ela esteja em todos os cantos do nosso território, disponível a todos os brasileiros e brasileiras.

Essa política tem papel essencial na construção de um marco normativo moderno, que garanta previsibilidade regulatória e ambiente favorável a investimentos no setor digital.

A infraestrutura brasileira está concentrada em poucas cidades do Nordeste — principalmente em Fortaleza (CE), na praia do Futuro — e Sudeste. Queremos criar mais zonas de interesse para ancoragem em regiões ainda não contempladas.

Estamos avançando. O sistema Malbec — que conecta Estados Unidos, Brasil e Argentina — aporta somente no Rio de Janeiro e em Praia Grande (SP). Agora, ele chegará também a Porto Alegre (RS), tornando a capital gaúcha um hub tecnológico.

Esse será o primeiro cabo internacional da Região Sul. Ele irá melhorar a conectividade não só no Rio Grande do Sul, mas também em Santa Catarina e no Paraná, além de permitir conexões mais rápidas em cidades da Argentina, do Chile, do Paraguai e do Uruguai.

Além disso, levará novas oportunidades ao nosso país, uma vez que representa mais segurança de dados e velocidade de transmissão. A capacidade disponível do novo cabo é de até 20Tbps por par de fibra.

A Política Nacional de Cabos Submarinos é fundamental para um outro avanço necessário para o Brasil, que é a expansão da implantação de data centers, uma ação estratégica para qualquer nação que deseja protagonismo na economia. 

Os data centers são essenciais para a economia do futuro, e o Brasil está se preparando para oferecer a infraestrutura obrigatória para esse avanço, aumentando o número de empresas e de empregos. 

A fibra ótica também está atravessando nossas florestas pelo leito dos rios. O programa Norte Conectado tem avançado pelas águas da Região Amazônica para levar conexão a comunidades ribeirinhas, a aldeias indígenas e a municípios isolados digitalmente.

O projeto prevê o lançamento de 12 mil quilômetros de cabos a fim de atender a 10 milhões de pessoas de 59 municípios. Estão sendo interligados hospitais, instituições de pesquisa, escolas, órgãos do sistema judiciário, prefeituras e universidades.

Temos o desafio de ampliar a inclusão digital de Norte a Sul no Brasil e interiorizar a conectividade. Políticas como essas do governo federal são fundamentais para levar o universo digital a áreas hoje desassistidas.

A solução de utilizar nossas águas para levar sinal de internet é uma política social e de redução da desigualdade digital, mas também é caracterizada pela responsabilidade ambiental. Como apreciaria Nemo, protagonista da obra de Verne, ela respeita os limites da natureza ao evitar o desmatamento na instalação de torres e outras estruturas. Estima-se a preservação de cerca de 60 milhões de árvores.

Esses programas, somados a outras iniciativas da esfera pública e do setor privado, buscam expandir a conexão no Brasil e permitir nossa independência tecnológica. Assim, será possível impulsionar a economia digital e, acima de tudo, democratizar conhecimento e reduzir desigualdades. 

Diante disso, a Política Nacional de Cabos Submarinos se vislumbra como uma bússola ou um farol, que servirá para proteger e direcionar nossas ações.

 

 

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Por Opinião
postado em 28/08/2025 06:00
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