Futebol

As dores de uma geração

A areia da ampulheta está cessando e a safra de Neymar e companhia arrisca não entregar uma conquista aguardada há 23 anos: o hexa.

Faltam 10 meses para o fim de uma novela arrastada neste ciclo da Seleção -  (crédito: Maurenilson Freire)
Faltam 10 meses para o fim de uma novela arrastada neste ciclo da Seleção - (crédito: Maurenilson Freire)

O Brasil tem uma excelente geração de jogadores nascida em 1991 ou 1992. Eles brindaram a Seleção de base com os títulos do Campeonato Sul-Americano Sub-20, no Peru, e do Mundial Sub-20, na Colômbia, ambos em 2011, sob o comando do técnico Ney Franco. A areia da ampulheta está cessando e a safra de Neymar e companhia arrisca não entregar uma conquista aguardada há 23 anos: o hexa. Muitos deles não terão a última oportunidade na Copa de 2026.

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Eu poderia justificar a frustração com vários argumentos, mas vou apegar-me a um: a quantidade de lesões. Faltam 285 dias para o jogo de abertura, em 11 de junho, no Estádio Azteca, na Cidade do México, e não sabemos se Neymar disputará pela quarta vez o torneio. O jogador eleito número 3 do mundo em 2015 atrás de Messi e de Cristiano Ronaldo é o maior exemplo da geração de vidro.

Neymar acumula 43 lesões na carreira. Duas delas na Copa do Mundo. Uma nas quartas de final de 2014 contra a Colômbia, e a outra em 2022 na estreia diante da Sérvia. Fez tratamento intensivo no Catar e jogou no sacrifício nas oitavas e nas quartas de final, respectivamente, contra a Coreia do Sul e a Croácia. Fez gol nas duas partidas. Aos 33 anos, ele tenta readquirir 100% da capacidade física, técnica e mental para ir ao Canadá, aos Estados Unidos e ao México em 2026. Faltam 10 meses para o fim de uma novela arrastada neste ciclo da Seleção.

A geração de Neymar tem outros jogadores de vidro. Lucas Moura, Philippe Coutinho, Oscar, Casemiro, Danilo e Alex Sandro são contemporâneos dele nas seleções de base. Em comum, todos lidam com as dores para continuar jogando em alta performance.

O São Paulo pode ficar sem Lucas Moura no restante da temporada devido a uma cirurgia no joelho. O corpo do ídolo é marcado por 13 contusões na carreira. Oscar está praticamente curado de uma fratura na vértebra lombar, uma das oito contusões registradas no prontuário do excelente meia.

Parceiro de Neymar na Seleção desde a categoria sub-17, Philippe Coutinho acumula 28 passagens pelo departamento médico na carreira. Foi o melhor jogador da Seleção na Copa de 2018, na Rússia, mas ficou fora da edição de 2022, no Catar, justamente por causa de um triste diagnóstico em novembro de 2022, ou seja, exatamente no mês do início da Copa do Mundo: lesão na coxa.

Alex Sandro, Danilo e Casemiro também são símbolos daquela era vitoriosa na base, porém os três administram dores. O volante é o mais saudável entre eles. Acumula 11 entradas no pronto-socorro. Danilo usou o seguro 23 vezes para tratamento. Alex Sandro quebra mais: 35. O trio esteve em pelo menos uma das duas listas de Carlo Ancelotti e está nos planos do italiano para 2026.

Ancelotti apontou o principal quesito das convocações: "Um critério muito importante para a comissão é o aspecto físico. Tem que estar 100% na condição física. Isso é um critério muito importante para nós. Se um jogador não está 100%, posso chamar outro sem nenhum problema", avisou.

Em condições normais, um técnico jamais deveria prescindir de Neymar, Oscar, Lucas Moura, Coutinho, Danilo, Casemiro e Alex Sandro, mas infelizmente lesões de alguns deles deixaram a Seleção em apuros durante a Copa. Todo o cuidado clínico, físico e mental é pouco na montagem do elenco rumo à América do Norte na sexta expedição pelo hexa. Eles são acima da mediocridade, mas saúde é o que interessa no futebol moderno. A Copa do Mundo de Clubes da Fifa, disputada nos EUA sob um calor desumano, e em rotação e intensidade altíssimas, deixou o recado a todas as seleções.

 

 

 

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MP
postado em 30/08/2025 06:00
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