
Washington Quaquá — prefeito de Maricá e presidente da Associação Brasileira de Municípios (ABM); Celso Pansera — diretor-presidente da Companhia de Desenvolvimento de Maricá (Codemar)
A teoria do desenvolvimento já mostrou, em diferentes contextos, que não há crescimento sólido sem uma base social que assegure qualidade de vida e direitos fundamentais. O indiano Amartya Sen, Nobel de Economia em 1998, demonstrou que a expansão das liberdades — acesso à educação, saúde, renda e mobilidade — não é consequência do crescimento, mas condição para que ele se realize de forma duradoura.
Há experiências concretas evidenciando que justiça social e crescimento econômico não são incompatíveis. A primeira etapa da transformação de várias cidades no mundo, centrada na inclusão, foi a condição necessária para a segunda, voltada à expansão produtiva. Foi o que aconteceu na Noruega petrolífera, no estado mineral de Kerala, na Índia, que virou polo de riqueza após investir pesadamente em saúde e educação, e em Sobral, no Ceará, que começou seu progresso pelas escolas.
Essa tem sido a lógica das políticas públicas na cidade de Maricá, que rompeu as fronteiras da Região Metropolitana do Rio de Janeiro para tornar-se referência até no exterior — e que, agora, inicia a segunda etapa dessa construção, voltada à diversificação produtiva, à geração de empregos de qualidade e a um futuro independente do petróleo.
A primeira fase dessa revolução sustentável foi marcada por políticas públicas ousadas. O transporte público gratuito foi universalizado na cidade, uma moeda social própria foi implementada para fortalecer o comércio local, o acesso ao ensino superior foi multiplicado com gratuidade sob critérios específicos e investimentos em saúde criaram referências. O avanço dos direitos em uma região metropolitana que parecia resignada com a estagnação impactou a economia e produziu esperanças: segundo o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), Maricá foi o município que mais cresceu em população no estado (54%) e o nono no Brasil.
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Esse percurso remete ao pensamento de um dos maiores desenvolvimentistas da ciência brasileira, Celso Furtado. Ele defendia o uso estratégico das rendas excepcionais — como foram os ciclos do açúcar, do ouro e do café — para financiar transformações estruturais e não apenas o consumo imediato. Maricá chega a esse ponto de virada ao compreender a oportunidade dos royalties não como riqueza eterna, mas como combustível de um progresso sustentável, com ou sem petróleo. Com direitos básicos assegurados, a cidade aposta em um ciclo de desenvolvimento capaz de transformar recursos temporários em investimentos permanentes, preparando-se para uma economia inovadora e não vulnerável.
O Porto de Maricá começou a sair do papel, com investimento estimado em R$ 2,5 bilhões e potencial de gerar 13 mil empregos diretos e indiretos. Trata-se de um empreendimento estratégico para a indústria naval e a logística de exportação, que redesenha o papel da cidade no cenário econômico regional e nacional. O turismo, vocação local, também entra nessa estratégia. Mais de R$ 70 milhões foram destinados à aquisição de 10 projetos assinados por Oscar Niemeyer, a serem concluídos até 2028, consolidando o turismo arquitetônico e cultural como vetor de desenvolvimento. Paralelamente, iniciativas em inovação e transição energética buscam alinhar o município às tendências globais de sustentabilidade no mapa da economia de baixo carbono.
Ao conjugar políticas sociais e planejamento econômico, Maricá oferece outra comprovação de que o desenvolvimento é um processo que precisa integrar bem-estar e prosperidade. É assim que a cidade se planeja e caminha para a segunda metade de sua revolução de sustentabilidade. A primeira mostrou que é possível assegurar direitos e transformá-los em dinamismo. Agora, o município busca consolidar um polo de desenvolvimento inovador e competitivo. Esse é um projeto que, ao mesmo tempo em que dialoga com a tradição de Celso Furtado, confirma a lição universal de Amartya Sen: o desenvolvimento só é real quando amplia liberdades e cria futuro.
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