
Veja o que é a mudança de um governo negacionista para um que reconhece a ciência: estamos na iminência de acesso à nossa própria vacina contra a covid-19. Vencidas as etapas finais, a expectativa é de que as doses sejam disponibilizadas para toda a população, no Sistema Único de Saúde, no primeiro semestre do ano que vem.
A SpiN-TEC foi desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, que investiu R$ 140 milhões no projeto. Segundo a titular da pasta, Luciana Santos, o imunizante está em fase final de estudo e será submetido, em breve, ao crivo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
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É emblemático que cheguemos a uma vacina totalmente nacional contra a covid-19, após enfrentarmos uma pandemia justamente quando estávamos sob uma gestão que depreciava a ciência. Foi uma época de desprezo pela vida da população, o que potencializou o flagelo. Tínhamos um governante que tripudiava e desrespeitava quem levava a sério o potencial do vírus, atrapalhava as ações de enfrentamento da doença, protelava a aquisição de vacinas, debochava dos que agonizavam com falta de ar. E ainda politizava a situação. Não vamos nos esquecer da mortandade que houve nesse período, com mais de 700 mil vítimas; dos hospitais lotados; da crise de oxigênio em unidades de Manaus; das imagens de cemitérios com fileiras e mais fileiras de covas recentes ou sendo abertas. A dor de quem perdeu parentes ou amigos e dos que sofrem com as sequelas jamais será aplacada. E não houve responsabilização até agora.
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Comprar e desenvolver vacinas contra uma série de doenças, como tem sido feito, são, por óbvio, apenas parte do processo. Há uma batalha em curso para voltarmos às coberturas vacinais preconizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Nessa missão, um dos principais entraves — se não o maior — é a disseminação de notícias falsas sobre imunizantes.
Levantamento da FGV, divulgado na última sexta-feira, mostrou que o Brasil lidera a desinformação sobre vacinas na América Latina — o país é responsável por 40% das postagens em comunidades no Telegram de detratores de imunizantes. As mensagens visam despertar o temor em relação às vacinas, falam em danos à saúde e até oferecem supostas soluções contra efeitos adversos.
As reiteradas mentiras sobre a segurança e a eficácia das vacinas contribuem para minar a confiança de parte da população, que antes não hesitava em se vacinar nem em levar crianças e adolescentes para tomar as doses.
Vacinas são seguras e eficazes. Mas, se estiver com receio sobre algum imunizante, procure uma fonte confiável para dirimi-la, como o Ministério da Saúde, que conta com canais para esclarecimentos. Se continuarmos a dar ouvidos a criminosos, corremos o risco de abrir a porta do país para o retorno de doenças gravíssimas.

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