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Empenho contra a fome

De acordo com o levantamento, os três níveis de insegurança alimentar caíram no país nesse período: a leve foi reduzida de 18,2% para 16,4%; a moderada, de 5,3% para 4,5%; e a grave, de 4,1% para 3,2%

 Dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, da Organização das Nações Unidas (ONU), o de número 2 visa acabar com a fome e a desnutrição até 2030, garantindo que as pessoas, especialmente crianças, tenham alimentos suficientes durante todo o ano. O Brasil é signatário dos ODS, assim como outros 192 países.  

A meta é ambiciosa — alguns diriam até utópica —, mas, aqui no Brasil, retomamos o caminho de combate à fome e estamos avançando contra esse flagelo. Em 2024, 2,2 milhões de lares saíram da insegurança alimentar, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), divulgada pelo IBGE na semana passada. Um recuo de 27,6% para 24,2% entre 2023 e 2024.

De acordo com o levantamento, os três níveis de insegurança alimentar caíram no país nesse período: a leve foi reduzida de 18,2% para 16,4%; a moderada, de 5,3% para 4,5%; e a grave, de 4,1% para 3,2%. O IBGE classifica a insegurança alimentar leve como a preocupação ou a incerteza quanto ao acesso a alimentos e a redução da qualidade deles para não afetar a quantidade; a moderada, como a falta de qualidade e a redução na quantidade de alimentos entre adultos; e a grave, como a falta de qualidade e a redução na quantidade de alimentos, atingindo, inclusive, crianças e adolescentes.

Os dados do IBGE foram divulgados menos de três meses após a FAO/ONU anunciar que o Brasil saiu novamente do Mapa da Fome — reflexo de medidas como Bolsa Família, Programa de Aquisição de Alimentos e melhora no mercado de trabalho. O país já tinha deixado essa lista sombria em 2014, mas retornou em 2021, "após a mudança nas prioridades das políticas públicas e pelos impactos da pandemia da covid-19", como destacou Jorge Meza, representante da FAO no Brasil, em artigo no jornal O Estado de S. Paulo, em agosto passado.

Mesmo com o enfrentamento à fome como uma das prioridades do atual governo, ainda havia 6,48 milhões de pessoas, em 2024, atingidas por essa calamidade. O número — embora signifique o menor nível de brasileiros nessa situação desde 2004 — é absurdamente alto. E torna-se inaceitável em se tratando de um país que figura entre os principais produtores de alimentos do mundo.  

Mas estamos vendo progressos, sim, porque há vontade política e ações coordenadas; um empenho, de fato, para mudar esse panorama, o que não havia no passado recente. Isso nos dá esperança de, enfim, alcançarmos a segurança alimentar no nosso país. Se não até 2030, ao menos o mais próximo possível disso.   

 


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