ARTIGO

Brasil e Líbano: liberdade, amizade e futuro

Vínculos duradouros de amizade, afinidade cultural e conexões humanas moldaram uma relação que permanece, ainda hoje, marcada por genuína parceria e mútuo respeito entre Brasil e Líbano

Youssef Rajjiministro das Relações Exteriores e dos Emigrantes do Líbano

Este ano possui um significado especial para as relações entre o Brasil e o Líbano, pois celebramos dois marcos muito importantes: o 80º aniversário do estabelecimento de nossas relações diplomáticas e o 82º aniversário da independência do Líbano. Essas efemérides inserem-se em uma história comum mais ampla e profundamente enraizada. Ao longo das gerações, vínculos duradouros de amizade, afinidade cultural e conexões humanas moldaram uma relação que permanece, ainda hoje, marcada por genuína parceria e mútuo respeito.

O Líbano conquistou sua independência mais de um século depois do Brasil; contudo, ambas as nações sempre compartilharam uma aspiração comum: a busca pela liberdade como fundamento da identidade nacional. Mesmo antes de proclamar sua independência, em 22 de novembro de 1943, o povo libanês demonstrou, de maneira constante, um profundo compromisso com a soberania e a autodeterminação.

Esse entendimento compartilhado acerca da liberdade continua a inspirar nossas sociedades, reforçando a convicção de que nações livres possuem não apenas a capacidade de se autogovernar, mas também a habilidade de contribuir de forma significativa para a comunidade internacional. As trajetórias paralelas do Brasil e do Líbano ilustram como a busca pela liberdade se torna uma força permanente, moldando o caráter e as aspirações de nossos povos.

A liberdade, contudo, não é o único valor compartilhado por nossas nações. A defesa da democracia como base de um Estado forte e confiável constitui outro pilar importante, que orienta o compromisso comum de nossos países com a paz, a estabilidade e a prosperidade — tanto internamente quanto no âmbito mais amplo da comunidade internacional. Além disso, ao analisar as orientações de política externa de ambos os países, o respeito pelo direito internacional surge como o alicerce de uma ordem internacional justa e baseada em regras, capaz de promover diálogo, cooperação e progresso compartilhado.

Guiado por essa apreciação mútua de valores comuns, o Brasil reconheceu prontamente a independência do Líbano pouco mais de um ano após sua proclamação. Esse gesto refletiu a força de laços que antecediam em muito o ano de 1943. Àquela altura, milhares de libaneses já haviam encontrado no Brasil um lar acolhedor, enriquecendo nosso tecido social, econômico e cultural. Muitos deles alcançaram posições de destaque em diversas áreas — incluindo as artes, os negócios e a política —, conquista da qual nos orgulhamos profundamente. Esse reconhecimento precoce foi muito mais do que um gesto diplomático; foi a expressão de uma relação fraterna entre nossos países e uma homenagem à vibrante ponte humana que os une.

O estabelecimento formal das relações diplomáticas seguiu-se de maneira natural e imediata, ressaltando a maturidade e a profundidade de nossos laços bilaterais. A criação quase simultânea de missões diplomáticas proporcionou uma base institucional para apoiar uma parceria já dinâmica. Ao longo das décadas, esses canais facilitaram a cooperação em áreas como comércio, cultura, educação, defesa e diálogo multilateral. Continuam a servir como instrumentos fundamentais para promover interesses comuns e fortalecer o entendimento mútuo entre nossos governos e povos.

Ao celebrarmos essas datas comemorativas, Brasil e Líbano são chamados não apenas a honrar seu passado compartilhado, mas também a vislumbrar um futuro marcado por cooperação reforçada e compromisso renovado. O próximo 150º aniversário da histórica visita do Imperador Dom Pedro II ao Monte Líbano — a ser comemorado no próximo ano — oferece uma oportunidade simbólica para aprofundar o engajamento e reafirmar a duradoura amizade que tem orientado nossas relações por quase um século e meio. Ao fortalecer parcerias existentes e explorar novos caminhos de colaboração, Brasil e Líbano podem continuar a construir uma relação plenamente à altura de suas longas e entrelaçadas histórias.

 


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