Visão do Correio

Olhos abertos para os riscos do rage bait

O algoritmo das mídias sociais é moldado para propagar aquilo que engaja, seja positiva ou negativamente. Na maior parte das vezes, esse alcance tem como combustível a discordância, o ódio

pri-2506-brasiliadf BSBDF Fake News Bloqueio Celular -  (crédito: Caio Gomez)
pri-2506-brasiliadf BSBDF Fake News Bloqueio Celular - (crédito: Caio Gomez)

Ao navegar nas mídias sociais, os usuários facilmente se deparam com conteúdos que os convidam ao engajamento a partir do absurdo. Uma opinião extremamente controversa ou um posicionamento ignorante é isca perfeita para comentários em postagens incendiárias. A armadilha feita por quem  se passa por ignorante tem nome: rage bait, ou isca de raiva, na tradução livre do inglês. De tão corriqueira, se transformou na palavra do ano escolhida pela Universidade de Oxford. 

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"O fato de a expressão rage bait existir e ter tido um aumento tão drástico no seu uso nos torna cada vez mais conscientes das táticas de manipulação às quais podemos ser submetidos on-line", escreveu Casper Grathwohl, presidente da Oxford Languages, no comunicado de divulgação da escolha de 2025.  

A decisão da instituição britânica é certeira. O algoritmo das mídias sociais é moldado para propagar aquilo que engaja, seja positiva, seja negativamente. Na maior parte das vezes, esse alcance tem como combustível a discordância, o ódio. A fórmula de funcionamento dessas linhas de código, apesar de secreta, é facilmente entendida por quem trabalha pautado pelas más intenções: trata-se de um jeito fácil de ganhar dinheiro e exposição a partir do famoso bait.

Esse exemplo se encaixa perfeitamente no X, o antigo Twitter. Na aba "para você", a mídia social abastece o usuário com conteúdos adaptados ao que ele mais consome na linha do tempo. Parte desses posts, no entanto, convida a reações explosivas, a partir de opiniões claramente moldadas para incentivar críticas. Seria como se o torcedor de um time que acaba de vencer um campeonato de grande repercussão começasse a receber um conteúdo, na tela do seu smartphone, criticando o desempenho dos jogadores.

A armadilha não se limita, porém, a banalidades. A menos de um ano da eleição presidencial, o eleitor precisa ficar de olho em quem surfa nessa onda nas mídias sociais com fins ainda mais questionáveis. Em um contexto polarizado, o campo das redes se torna extremamente fértil para aqueles que buscam dinheiro e engajamento fácil a partir dos vícios contidos nos algoritmos, sem se preocupar com os desdobramentos do estímulo ao ódio dentro e fora das telas. 

Neste sentido, é fundamental que as instituições promovam iniciativas de letramento digital para o cidadão — diante do potencial de influência que as mídias têm no processo democrático. Trata-se de uma obrigação na ordem do dia dos partidos políticos, dos atores políticos e, sobretudo, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e seus braços nos estados. E também do jornalismo profissional.

A reflexão trazida pela Oxford não deve se limitar aos mais jovens, a chamada geração Z, parcela da população mais acostumada aos neologismos herdados do inglês. "O objetivo da palavra do ano é incentivar as pessoas a refletirem sobre onde estamos como cultura, quem somos no momento, por meio da lente das palavras que usamos", afirmou Cásper Grathwohl. "O objetivo principal é gerar conversa", acrescentou.

 


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Por Opinião
postado em 03/12/2025 06:00
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