Artigo

Por elas e para elas

A cada seis horas, uma mulher é assassinada no Brasil por um homem. A cada seis horas, um homem se sente no direito de impor o vazio e a dor às famílias por julgar ser dono daquela a quem um dia jurou amor

Feminicídio -  (crédito: Maurenilson Freire)
Feminicídio - (crédito: Maurenilson Freire)

Tainara Souza Santos, 31 anos, dois filhos.  Maria de Lourdes Freire Matos, 25. Evelyn de Souza Saraiva, 38. Tainara foi atropelada e arrastada pelo carro por um quilômetro. Pernas e sonhos amputados. Maria de Lourdes recebeu duas facadas no pescoço. Corpo queimado, destruído pelo ódio doentio e insano. Evelin acabou baleada à queima-roupa. Seis vezes nas pernas. O atirador alertou que ela não ficaria com mais ninguém e ameaçou matar a família da ex-namorada ao saber que ela estava se relacionando com outra mulher. De Maria de Lourdes, restaram para a família a saudade, as fotos e o saxofone que ela amava tocar. Tainara terá que reaprender a viver na cadeira de rodas — a mãe prometeu que, a partir de agora, será as pernas da filha. Evelyn precisará lidar com o trauma da violência sofrida atrás do balcão de uma pastelaria e com as sequelas dos seis tiros. Escrevo esse texto em homenagem a elas. Mas também em memória de tantas mães, filhas e irmãs cujas vidas foram ceifadas por covardes. Eu me silencio por elas. 

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A cada seis horas, uma mulher é assassinada no Brasil por um homem. A cada seis horas, um homem  se sente no direito de impor o vazio e a dor às famílias por julgar ser dono daquela a quem um dia jurou amor. Muitas vezes, o assassinato ocorre na frente dos filhos. Crianças que, além de verem a mãe agonizar, serão obrigadas a prosseguir com a vida sem o afeto, o beijo, o sorriso e o abraço de quem as colocou no mundo. A tragédia do feminicídio tem tantas camadas. O sentimento de posse e o desprezo pela mulher moldam potenciais feminicidas.  Tainara, Evelyn e tantas outras precisam de toda a proteção do Estado para que não se tornem estatísticas e não tenham o mesmo fim de Maria de Lourdes. O Estado tem a obrigação moral de agir com o máximo rigor da lei e punir os algozes. Mas, também, de viabilizar campanhas de conscientização e de prevenção ao feminicídio. 

As escolas e as famílias são importantes multiplicadores de ações de combate ao feminicídio. Meninos devem ser educados para respeitar, cuidar e proteger as meninas. Cabe aos pais e professores investirem em uma cultura de paz, em uma educação focada na igualdade de gêneros. Reforçar a ideia de que o corpo não pertence ao próximo e que amor não subentende posse. Também são cruciais leis mais severas, com punições rigorosas aos agressores e assassinos, sem progressão de pena.  

Não se bate em uma mulher nem com uma flor. Homens que violentam, agridem e matam não são homens no sentido estrito do termo. São seres covardes e abjetos, desprovidos de sentimentos. Não apenas misóginos e machistas, mas monstros de si mesmos, por não conseguirem lidar com frustrações e desilusões amorosas. A eles, minha repulsa e meu nojo. À Tainara e à Evelyn, força. À Maria de Lourdes e a tantas outras Marias, Joanas, Isabéis, Lívias, Paulas, Carlas, etc, meus sentimentos e meu pesar por tantos sonhos destroçados pelo caminho.

 


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postado em 10/12/2025 06:01
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