Visão do Correio

Câncer de pele: do alerta a ações concretas

O Dezembro Laranja visa conscientizar as pessoas sobre proteção solar, autoexame e procura rápida por atendimento, mas enfrenta limites estruturais e culturais.

Câncer de pele continua sendo o tipo de câncer mais incidente no Brasil e um problema de saúde pública -  (crédito: Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press)
Câncer de pele continua sendo o tipo de câncer mais incidente no Brasil e um problema de saúde pública - (crédito: Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press)

ODezembro Laranja é, mais do que uma campanha anual, um lembrete incômodo: o câncer de pele continua sendo o tipo de câncer mais incidente no Brasil e um problema de saúde pública que conjuga prevenção, diagnóstico precoce e tratamento — sem que isso, no entanto, traduza-se em uma resposta pública totalmente eficaz. A campanha visa conscientizar as pessoas sobre proteção solar, autoexame e procura rápida por atendimento, mas enfrenta limites estruturais e culturais.

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Os dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) mostram que o câncer de pele não melanoma é responsável por parcela importante dos tumores no país: as estimativas recentes apontam para centenas de milhares de casos a cada triênio, enquanto o melanoma — apesar de menos frequente — é o mais letal entre os tumores cutâneos.

Globalmente, as estimativas da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc/Globocan) mostram que os cânceres de pele (incluindo não melanoma e melanoma) figuram entre os tipos com maior incidência em várias regiões, com taxas particularmente altas em países de predominância de pele clara e grande exposição solar, o que demonstra que a prevenção do câncer de pele é relativamente direta em termos de recomendações: uso diário de filtro solar, roupas de proteção, evitar exposição solar intensa e checar manchas ou sinais suspeitos.

Ainda assim, persistem gargalos comportamentais e informacionais, como a subestimação do risco (especialmente entre homens), o uso irregular de fotoproteção e a falta de acesso a consultas dermatológicas para populações de menor renda ou residentes em áreas remotas. Campanhas como o Dezembro Laranja ajudam a reduzir essa lacuna informativa, mas não substituem políticas públicas contínuas e educação em saúde integradas ao sistema escolar, às unidades de saúde e aos ambientes de trabalho ao ar livre.

Formalmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem uma rede habilitada para atenção oncológica em todos os estados, o que garante, ao menos em teoria, portas de entrada para diagnóstico e tratamento. No entanto, a realidade de acesso varia: demora em consultas dermatológicas, fila para biópsias, diferenças regionais na oferta de radioterapia e limitações na continuidade do acompanhamento são problemas documentados em relatos e análises.

O arsenal terapêutico para câncer de pele inclui cirurgia (procedimento curativo para a maioria dos não melanomas e tumores superficiais), radioterapia (em casos selecionados ou paliativos) e tratamentos sistêmicos, como quimioterapia, terapias-alvo e imunoterapia para melanomas avançados. Todos previstos nas diretrizes oncológicas, mas com disponibilidade e tempo de acesso que variam entre centros.

Sem uma agenda pública que una prevenção permanente, investimento em atenção primária e ampliação da capacidade oncológica, a campanha anual continuará sendo um importante alerta, sem desdobramentos vitais. É preciso transformar advertência em ação concreta, com metas, financiamento e governança que garantam que, quando necessário, quem recorra ao SUS encontre uma estrutura capaz de diagnosticar e tratar com qualidade a sua condição. 

 

 

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Por Opinião
postado em 12/12/2025 06:00
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