ARTIGO

O ritual das candidaturas

Neste final de 2025, a questão sucessória já se impõe no horizonte dos atuais líderes políticos brasileiros. Todos tentam alcançar o melhor lugar para sensibilizar o eleitor

pri-3112-opiniao Opinião Futuro Eleições -  (crédito: Caio Gomez)
pri-3112-opiniao Opinião Futuro Eleições - (crédito: Caio Gomez)

André Gustavo Stumpfjornalista 

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A crise do sistema democrático acontece, normalmente, nos pródromos da eleição presidencial. É o período em que os sinais da tensão originária pela substituição no poder começam a tomar conta do cenário político. Neste final de 2025, a questão sucessória já se impõe no horizonte dos atuais líderes políticos brasileiros. O presidente Lula trabalha com um olho na administração diária e outro travado na eleição de 2026, quando ele tentará o quarto mandato. As rebeliões, os projetos, os discursos e as reviravoltas acontecem em torno da dança da sucessão. Todos tentam alcançar o melhor lugar para sensibilizar o eleitor.

Na Câmara dos Deputados, foi votado projeto de lei que reduz penas daqueles que cometeram crimes contra o poder público. Esse projeto visa, na realidade, melhorar a vida de Jair Bolsonaro, condenado a mais de 27 anos de prisão. Seus filhos fazem qualquer negócio para reduzir a ansiedade do pai. São amadores, que estão aprendendo a fazer política nos tempos atuais. Será muito difícil reproduzir aquele ambiente em que Jair, de repente, tornou-se um presidenciável em condições de ganhar a eleição. Eduardo transferiu-se para os Estados Unidos e conseguiu, durante algum tempo, influenciar nas decisões de Donald Trump contra o Brasil. Ele cometeu crime de lesa-pátria. Ainda não foi julgado pela Câmara dos Deputados, onde não aparece há muito tempo. Deve perder o mandato por excesso de faltas. Atrapalhou bastante a vida no Brasil. Mas é difícil brigar contra o poder constituído. Bastou uma conversa entre Trump e Lula para que o poder maior prevalecesse.

Outro filho, Flávio, senador, declarou-se candidato à Presidência da República. Ele esqueceu, ou revelou não conhecer, a regra de ouro de qualquer postulante: ninguém pode ser candidato de si mesmo. A candidatura, para ter força e consequência, deve brotar do desejo de grupo ou segmento expressivo da sociedade. Flávio proclamou, em primeiro lugar, que tinha preço. Depois disse que iria até o final. Mas é atitude precária. Fugaz. Passageira. Não resistirá ao tempo nos próximos meses. O pessoal que coordena a ação anti-PT, que é forte, saberá se livrar dos oportunistas para poder indicar um candidato real, com possibilidade de vitória. Ele precisará aglutinar forças e movimentar a significativa massa de eleitores que pretende um governo federal moderno, com privatização de empresas estatais, redução do tamanho do Estado, menos impostos e recuperação do crescimento econômico. Enfim, tudo o que o governo Lula nega.

Os desejos fugazes de notoriedade devem ser traduzidos em vantagens específicas pelo pessoal do dinheiro que fica na Faria Lima. Ali, o jogo é profissional. Os donos do dinheiro querem a candidatura de Tarcísio de Freitas, atual governador de São Paulo, 50 anos, que hesita em assumir a responsabilidade. Revela ter noção dos perigos dessa aventura. Ele, carioca, pode perder tudo numa jogada infeliz. Melhor e mais seguro postular o governo do estado, apoiar um candidato à Presidência da República e esperar. Fazer o tempo trabalhar a seu favor. O contrário é ser um candidato tutelado por Jair Bolsonaro & filhos, situação que tumultua qualquer candidatura e eventual posterior governo. A reeleição dele ao governo de São Paulo é mais segura e mais tranquila. Ele não depende de apoio de ninguém. Já fez seu nome. Na sua ausência, a escolha dos donos do dinheiro se transfere, naturalmente, para o governador do Paraná, o jovem Carlos Massa, ou Ratinho Junior.

As crises, as soluções de emergência e os faniquitos acontecem, como o do deputado Glauber Braga, que assumiu à força a cadeira do presidente da Câmara e foi retirado aos pescoções pela Polícia Legislativa. Aliás, na operação apareceu uma orientação há muito esquecida: em caso de briga entre parlamentares, a primeira ação da segurança é atacar a imprensa. É uma diretriz antiga, que não foi colocada em vigor antes porque não foi necessário. As excelências trocaram socos e palavrões, mas o sinal da TV Câmara foi cortado e os jornalistas foram convidados, com ênfase, a deixar o plenário.

 O projeto de lei que modifica a dosimetria das penas e beneficia Jair Bolsonaro ainda vai passar pela CCJ do Senado, pelo plenário daquela casa e poderá ser vetado pelo presidente Lula. Tudo o que está acontecendo na política brasileira se resume na liturgia que precede a disputa pelo poder. Cada um executa sua dança como melhor conseguir. Quem não entendeu o momento foi Carla Zambelli. Ela achou que poderia fugir nas garras da lei. Deputados tentaram salvá-la. Mas o ministro Alexandre de Moraes, rapidamente, declarou a perda de seu mandato. Ela está presa numa penitenciária em Roma, Itália. Deve pagar o resto de sua pena em terras brasileiras. Aprendeu que fora do poder não há salvação. E que os erros em política costumam punir severamente seus autores.

 

 

 

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Por Opinião
postado em 13/12/2025 06:00
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