ARTIGO

A COP30 e o legado da indústria

A agenda climática é central para o desenvolvimento sustentável, e vai muito além da gestão de carbono

empreendedorismo Verde -  (crédito: Caio Gomez)
empreendedorismo Verde - (crédito: Caio Gomez)

Luiz Césio Caetano presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

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A Conferência das Partes, mais conhecida como COP, teve sua trigésima edição anual realizada recentemente em Belém do Pará. Foi um marco histórico. Não foram poucas as reflexões sobre o texto final, como as que apontaram a ausência de ações para a redução de combustíveis fósseis. Mas fica cada vez mais claro que a agenda climática é hoje o centro de gravidade para o desenvolvimento sustentável, indo muito além da gestão do carbono. E isso recomenda um olhar para o legado da indústria.

A Iniciativa Empresarial Sustentável, ou Sustainable Business COP (SB COP), é uma aliança global criada durante a COP29, em 2024, no Azerbaijão. Liderada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), é formada por empresas, instituições e parceiros estratégicos de todo o mundo. Um de seus objetivos é acelerar o alcance das metas climáticas. A SB COP participou ativamente da COP30 e estará também nas próximas conferências.

A atuação da SB COP está estruturada em oito grupos de trabalho — entre eles, Transição Energética, Economia Circular e Materiais e Bioeconomia —, que refletem a diversidade de ações da indústria com impacto direto nas agendas de competitividade e de sustentabilidade. A SB COP mobilizou mais de 40 milhões de empresas em 60 países. E reuniu mais de 600 casos de sucesso empresariais para comprovar a viabilidade de soluções sustentáveis desenvolvidas pelo setor privado. 

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O resultado da articulação dos oito grupos de trabalho durante a COP30 foi consolidado no Legacy Report, que traduziu os desafios globais em recomendações específicas e prioridades para o Brasil. Foi, aliás, entregue em mãos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma das conclusões foi a de que transformar a Amazônia em um motor do desenvolvimento sustentável do Brasil pode acrescentar R$ 40 bilhões ao PIB, criar 312 mil empregos e conservar 81 milhões de hectares de floresta.

Fazendo um paralelo, em um dos eventos pré-COP30 que realizou, no Rio, a  Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) anunciou ter identificado um enorme potencial da silvicultura econômica no estado, de quase um milhão de empregos diretos, considerando o plantio e as instalações industriais nos próximos cinco anos. Isso representaria um incremento de quase um ponto percentual no PIB fluminense no mesmo período e um aumento superior a R$ 400 milhões anuais na arrecadação de impostos estaduais e municipais. Há, também, um enorme potencial de geração de créditos de carbono.

O fato é: não existe contradição entre a atividade industrial e o desenvolvimento sustentável. Mais do que uma boa prática, a agenda de sustentabilidade é estratégica para o setor. No Brasil a redução da dependência de fontes fósseis e o uso maior das renováveis já estão em andamento. Investimentos da indústria transformaram a matriz elétrica brasileira em uma das mais limpas do mundo, formada em quase 90% por fontes renováveis. É um verdadeiro sonho de consumo dos países mais desenvolvidos — para daqui a 30 anos.

Esse movimento da indústria também envolve qualificação profissional. Entre 2020 e 2024, a Firjan Senai formou mais de 40 mil profissionais em áreas como energia e sistemas renováveis. A qualificação profissional é que vai tornar a transição energética uma realidade, não apenas um slogan. Ao mesmo tempo, a indústria está mergulhando em inovação. Os Institutos de Tecnologia da Firjan Senai já aplicam inteligência artificial (IA) para prever falhas e internet das coisas para monitorar consumo em tempo real. É a indústria 4.0 a serviço da energia limpa.

Voltando ao legado da COP30, não seria possível ter respostas para todos os desafios da agenda climática. As COPs não são um espaço de implementação, mas de negociação, envolvendo 192 partes. É onde se constroem consensos que depois se convertem em políticas públicas, programas e ações concretas.

Por outro lado, espera-se que as discussões realizadas em Belém inspirem políticas públicas que reconheçam efetivamente a enorme importância da agenda climática. Precisamos que as boas práticas empresariais sejam reconhecidas e valorizadas e que essas políticas ofereçam mais espaços para contribuições de todos os atores envolvidos, sejam eles representantes do setor privado, do terceiro setor e da sociedade civil organizada.

 

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Por Opinião
postado em 16/12/2025 06:00
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