ARTIGO

Brasília, a capital que se expande geograficamente em 65 anos

A preocupação dos que moram em Brasília é onde se pode obter um terreno ou um contrato de aluguel de uma casa para morar

ALDO PAVIANI — Geógrafo e professor emérito da UnB

Comparativamente, com base na Teoria dos Fenômenos Urbanos, Brasília inscreve-se entre as cidades jovens, pois foi inaugurada em abril de 1960, e, por isso, em termos comparativos, Brasília é uma "criança". As cidades de Roma, Paris, Berlim, Atenas, Moscou, Londres e outras marcam idades que remontam ao passado, por vezes, muito longínquo. Todas elas implantaram os sistemas viários, de circulação de veículos, de abastecimento, de habitação, e podem se dizer seguras, segundo o capital investido em todas as atividades, sobretudo em segurança. 

Todavia, o aparato de guerra das grandes potências é cuidadosamente atualizado e mantido em prontidão para eventualidades e emergências que possam aparecer. Aqui e ali, surgem conflitos que duram muitos anos, por vezes décadas, sem previsão para acabarem. Contudo, a máquina de guerra — isto é, os fabricantes de armas e munições — se põem em alerta constante, pois, para esses, guerras significam lucros financeiros; e há os que desejam o fim dos conflitos e esperam que a paz seja duradoura em todos os quadrantes do planeta, por mais utópica que essa medida seja.

Situada no Hemisfério Sul, a capital do Brasil havia sido imaginada para estar longe de possíveis atividades bélicas, a partir do mar. Na estratégia bélica de então, a capital estaria a salvo de bombardeios navais se fosse construída no interior do país, aspiração existente desde o Império brasileiro. Em séculos anteriores, era pensado que a capital do Brasil seria construída no interior para evitar bombardeios vindos do Oceano Atlântico. Hoje, essa estratégia ficou superada, porque nenhuma cidade está livre de possíveis movimentos armados, mesmo de grandes distâncias. Igualmente, pensava-se em medidas outras porque há mísseis com alcance variado, o  que muda qualquer estratégia militar, que precisa ser levada em conta, na defesa e no ataque. 

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Por outro lado, a preocupação dos que moram em Brasília não é mais sobre movimentos armados, mas onde se pode obter um terreno ou um contrato de aluguel de uma casa para morar. Há dificuldade para famílias obterem uma moradia ou conquistarem um lugar para dizer que é seu. Outros fatores existem, como o alto valor dos terrenos ou da casa já pronta, pois o mercado imobiliário é inacessível ao trabalhador comum que ainda luta pela casa própria. Ademais, tanto o setor privado quanto o público não dispõe de projetos habitacionais de longa duração, porque desejam operações não muito distantes para poder usufruir dos resultados dos investimentos. Então, sequer se sabe a demanda atualizada e real da casa própria.

A estratégia adotada pelo Governo do Distrito Federal (GDF) foi construir anexos nos núcleos urbanos existentes ou criar espaços habitacionais para alojar as famílias que buscam um teto. Dados divulgados pela mídia informam que a necessidade de habitação para zerar o deficit habitacional é de cerca de 100 mil novas casas. Imaginam os meios de comunicação e os que se ocupam com esse mister que, no tempo exíguo que se tem, será praticamente impossível atender aos que chegam a Brasília ou as novas famílias que se formam no DF. Parênteses para informar que o Distrito Federal  ultrapassou os 3 milhões de habitantes, o que faz a capital ser uma das grandes cidades brasileiras (segundo estimativas, é a terceira). 

Ao chegar a esse patamar, imagina-se que Brasília deverá implantar um robusto sistema de transportes para deixar à disposição locais e vias (pistas) para facilitar o transporte da população de um lugar para outro, pois o trânsito se apresenta congestionado nas primeiras horas da manhã e ao fim do dia. Ademais, os transportes urbanos devem atender à população do chamado Entorno, que nada mais é do que um espaço criado pela população que saiu do DF pelas condições adversas, como aluguéis elevados e habitações prontas com preços também elevados. 

Assim sendo, as famílias procuraram se instalar fora do "Quadradinho". Por essa razão, afirma-se que os núcleos urbanos Cidade Ocidental, Valparaíso, Luziânia, Águas Lindas de Goiás e outros municípios formam a Região Metropolitana de Goiás, já decretada pela Assembleia Legislativa de Goiás. Por ser equivocado, deve-se evitar fazer referência à "Área ou Região Metropolitana de Brasília". O DF tem um impedimento para formar uma área ou região metropolitana por ter só um município, que é Brasília. Não há região ou área metropolitana com um único município, segundo a Constituição de 1988.

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