CPI da Covid

Dimas Covas diz que Brasil seria 1º país a começar a vacinar no mundo, após a China

Diretor do Instituto Butantan afirma que demora por parte do governo federal nas negociações atrasaram o cronograma, que poderia ter começado a entregar imunizantes ainda em dezembro do ano passado

Sarah Teófilo
Bruna Lima
postado em 27/05/2021 12:50
 (crédito: Edilson Rodrigues/Agência Senado)
(crédito: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, no Senado, nesta quinta-feira (27/5), que o Brasil poderia ter sido o primeiro país no mundo a começar a vacinar contra covid-19, depois da China. De acordo com ele, a demora na negociação atrasou aquisição de insumos para produção de vacina e a parceria que o instituto buscou junto à Sinovac, farmacêutica chinesa que tem contrato com o Butantan para a produção da Coronavac.

Antes da pandemia, segundo Covas, o instituto já estava buscando parcerias na China, e quando a pandemia teve início, o Butantan passou a avaliar parceria, observando que a tecnologia da vacina produzida pela Sinovac era a mais interessante para o instituto. Isso porque o Butantan dominava a tecnologia. “Era um ambiente propício que poderia ter permitido que o Brasil pudesse ser um dos primeiros países do mundo, fora a China, a ter uma vacina. Era essa a nossa expectativa. Eu fiquei muito entusiasmado como cientista em ter essa parceria”, afirmou.

Em outro momento, Covas afirmou: "O Brasil poderia ter sido o primeiro país do mundo a iniciar a vacinação, não fossem os percalços que tivemos que enfrentar". Os percalços apontados por ele envolvem dificuldade de negociação com o governo federal, quando a primeira oferta ao Ministério da Saúde foi feita no dia 30 de julho, para 60 milhões de doses até dezembro do ano passado.

Em agosto, a mesma oferta foi feita, mas sem resposta positiva. Em outubro, foram ofertadas 100 milhões de doses, com previsão de entrega final em maio deste ano. Na época, o presidente Jair Bolsonaro desautorizou o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, quando a pasta chegou a anunciar a assinatura de um contrato de 46 milhões de doses. O contrato só foi efetivamente fechado em janeiro deste ano, em meio a pressões políticas, com vários países já vacinando.

Mas naquele momento, segundo Covas, "os parceiros internacionais já tinham outros compromissos e o ambiente internacional era de falta de vacina"

Perda de tempo

O Brasil começou testes clínicos com a vacina da Sinovac em julho do ano passado. Segundo o diretor, a relação com a farmacêutica era de parceria, não havendo sequer cláusula comercial, porque a Sinovac também tinha interesses em estudos clínicos. “Isso nos daria uma vantagem, uma rapidez muito grande. Esse era o planejamento”, disse.

Com a demora por parte do governo federal, que só assinou contrato com o Butantan em janeiro, o instituto perdeu tempo e um momento propício para aquisição dos insumos necessários — que tem sido a grande dificuldade do Brasil no momento. Com a disputa por vacina no mundo todo, insumos chineses tem demorado a chegar, o que tem gerado atraso no cronograma de entrega tanto do Butantan quanto da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

O diretor reiterou que, para além das vacinas, a China é o principal parceiro comercial brasileiro, sobretudo para fornecer insumos médicos. Na avaliação de Covas, é necessário intensificar esta colaboração não só com a China, mas com países em desenvolvimento para a distribuição de vacinas. "As vacinas são necessárias para o mundo pobre e em desenvolvimento. Porque se nesses países não houver vacinação, a pandemia não será controlada em lugar nenhum do mundo", disse.

Apoio financeiro

Segundo Covas, não houve por parte do Ministério da Saúde nenhum apoio financeiro para quaisquer atividades do Butantan de produção de vacinas.

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