COMBUSTÍVEIS

Em meio a troca na Petrobras, Lula volta a criticar PPI da estatal

Encontro do ex-presidente com petroleiros nesta terça-feira (29/3) foi marcado por discursos sobre soberania nacional e política de preços da empresa

Deborah Hana Cardoso
postado em 29/03/2022 14:08 / atualizado em 30/03/2022 16:21
 (crédito: Reprodução/Youtube)
(crédito: Reprodução/Youtube)

Em meio a escalada de preços dos combustíveis nas bombas atreladas ao mercado internacional conforme o Preço de Paridade de Importação (PPI) da Petrobras, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu nesta terça-feira (29/3) com representantes da Federação Única dos Petroleiros (FUP), ao lado da presidente nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffman (PR), do pré-candidato ao governo do Rio, deputado Marcelo Freixo (PSB), e do ex-presidente da estatal José Sergio Gabrielli.

“Temos que pegar os que usam terno e gravata, os camelôs, para a gente mostrar o significado da destruição da Petrobras”, disse Lula em seu discurso. “A elite brasileira nunca aceitou a independência ou a soberania”, criticou.

O petista afirmou que, no passado, quem usava o macacão laranja da petroleira era tratado como corrupto devido aos escândalos envolvendo a estatal. “A Petrobras tinha que ser destruída, como eles estão destruindo, por ser razão de quase todas as mazelas do mundo”, ironizou.

Para o ex-presidente, hoje em dia, a população só sabe sobre lucros e dividendos, mas não é contemplada com tanto. “Uma empresa como a Petrobras precisa de lucro, nunca defendi que fosse deficitária”, disse. “Um movimento nacional, o discurso dos companheiros tem conteúdo forte para criar uma indignação na sociedade brasileira”, afirmou o ex-presidente.

Ainda em crítica à política de privatizações e desestatizações, ele criticou a MP da Eletrobras de 2021. “Qual empresário fará um programa Luz para Todos? No dia em que isso acontecer eu peço desculpas”, disse. 

Soberania nacional

Os participantes do encontro discutiram sobre a soberania nacional e o papel estratégico da petroleira e das estatais no país diante da crise internacional e foram feitas críticas aos dividendos pagos aos acionistas diante da alta dos preços do barril no mercado internacional. O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Eduardo Costa Pinto, criticou a política implementada por Pedro Parente quando esteve no comando da Petrobras. “Estamos falando sobre lucros de R$ 1 bilhão”, disse.

Já o ex-diretor da área de Exploração e Produção da Petrobras Guilherme Estrella destacou o apequenamento da estatal ao longo dos anos. “Perdemos soberania. Por isso, nesta eleição, iremos escolher entre um país soberano e um país colonizado”, destacou.

Também presente no evento, o ex-presidente da estatal José Sergio Gabrielli reforçou a importância da soberania nacional e explicou que não há nenhum país no mundo que não tenha a segurança energética como política soberana. “Os Estados Unidos fazem guerra por sua segurança energética. A Europa briga pelo mesmo, assim como a China. Não há nenhuma nação grande que não garanta sua segurança energética”, afirmou.

“Segurança energética não é só acesso às fontes de energia, mas capacidade do povo de acesso, o que significa preço. Não é à toa que, com os preços altos no mercado internacional, a maioria dos países tenha adotado políticas para evitar o impacto sobre os consumidores nas populações”, destacou. “A Constituição diz que é monopólio do Estado: a produção, refino e distribuição. Que pode conceder”, comentou Gabrielli (citando o artigo 117 da Constituição).

“Uma empresa estatal de interesse público, este é o local correto do debate, o quanto se destrói o interesse público de uma empresa estratégica para qualquer desenvolvimento desse país. Isso é um debate sobre o Rio de Janeiro, não é corporativo, com todo respeito aos petroleiros ou aos sindicalistas”, indicou Freixo.

Especialistas

De acordo com o economista José Luis Oreiro, a questão na guerra da Ucrânia mostrou ao mundo que a ideia divulgada pelos economistas liberais de que a segurança pode ser obtida pelo mercado deve ser questionada. “Neste contexto, Lula está certo. Um país não pode ficar dependente do estrangeiro, essa oferta não pode ficar disponível”, disse. “Neste mundo multipolar e que vai dar passos atrás na globalização, onde entra a Petrobras? O Brasil é autossuficiente em petróleo, mas não em refino (importa gasolina e diesel). Michel Temer instituiu a paridade internacional às importadoras de derivados para a realização de lucros para não haver desabastecimento”, explicou o economista.

Oreiro ainda destacou que a qualidade do petróleo extraído não é a mesma para a gasolina. “Essa política de preços só pode ser desmontada se for verticalizada”, destacou. “No preço da gasolina no posto da BR, há soma do custo da extração, refino e exportação”, disse. “Está em marcha um programa de desinvestimentos. A Petrobras está se concentrando em exploração, se desverticalizando. As refinarias já foram vendidas desde Michel Temer, tornando a estatal mais frágil os preços do petróleo dos consumidores”, continuou.

Já a economista Elena Landau explicou que a política iniciada e mantida pelos governos petistas quase "destruiu'' a Petrobras e sua capacidade de gerar dividendos. “Colocou a empresa à beira da falência. Falta noção de defender essa política”, criticou. “Ao retomar a política de paridade internacional, a empresa voltou a ter uma função social, óleo gás, recursos obtidos em sua atividade principal (produção e venda de óleo e gás). O que Lula faz é tratar a empresa como se fosse dele, não há diferença para o Centrão ou para Jair Bolsonaro”, opinou a economista.

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