Áudios interceptados

Irmã acusa o Planalto de trocar cargos pela morte de Adriano da Nóbrega

Oficial foi morto em 2020, em meio a acusações de compor uma milícia e de ligação a um esquema de 'rachadinha' no gabinete de Flávio Bolsonaro

Estado de Minas
postado em 06/04/2022 16:25 / atualizado em 06/04/2022 16:26
Foragido, Adriano da Nóbrega foi morto em 2020, em meio a acusações -  (crédito: Reprodução)
Foragido, Adriano da Nóbrega foi morto em 2020, em meio a acusações - (crédito: Reprodução)

Daniela Magalhães da Nóbrega, irmã do ex-policial militar Adriano Magalhães da Nóbrega, morto em 2020, na Bahia, acusou o Palácio do Planalto de oferecer cargos em troca da execução do ex-capitão. O oficial tinha ligações com a família do presidente Jair Bolsonaro (PL) que, em 2005, no plenário da Câmara dos Deputados, o defendeu da acusação de matar um flanelinha no Rio de Janeiro (RJ). As informações são da "Folha de S. Paulo".

Adriano era suspeito de comandar uma milícia no Rio. Sobre ele, também pesavam indícios de participação em um suposto esquema de rachadinha no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro (PL). A "Folha" obteve gravação em que Daniela conversa com uma tia dois dias após a morte de Adriano.

No áudio, ela afirma à parente que o irmão soube de uma reunião sobre ele no Palácio do Planalto.

"Ele [Adriano] já sabia da ordem que saiu para que ele fosse um arquivo morto. Ele já era um arquivo morto para todo mundo. Já tinham dado cargos comissionados no Planalto pela vida dele, já. Fizeram uma reunião com o nome do Adriano no Planalto. Entendeu, tia? Ele já sabia disso, já. Foi um complô mesmo", disse a mulher.

Tatiana, outra irmã do capitão, chegou a afirmar em áudio que a ordem para matar Adriano veio de Wilson Witzel, então governador fluminense. "Foi esse safado do Witzel, que disse que se pegasse era para matar. Foi ele", falou.

As conversas entre parentes de Adriano da Nóbrega compõem os elementos da Operação Gárgula. A investigação é responsável por entender o esquema que garantiu a fuga do capitão do Rio de Janeiro. Na mira das autoridades, ele ficou foragido por cerca de um ano.

A despeito das acusações sobre a participação de Adriano em uma milícia, Tatiana, a outra irmã, chegou a garantir que o oficial não mantinha atividades paramilitares. A associação era feita, segundo ela, para associar Bolsonaro a milicianos.

"Ele não era miliciano, não. Era bicheiro. [...] Querem pintar o cara numa coisa que ele não era por causa de coisa política. Porque querem ligar ele ao Bolsonaro. Querem ligar ele a todo custo ao Bolsonaro", pontuou. "Aí querem botar ele como uma pessoa muito ruim para poderem ligar ao Bolsonaro. Aí já disseram que foi o Bolsonaro quem assassinou. Quando a gente queria cremar diziam que e a família queria cremar rápido porque não era o Adriano. Uma confusão", completou ela.

Em outro áudio, o sargento Luiz Carlos Felipe Martins, da PM do Rio, apontado como parceiro de Adriano, diz a um homem que o ex-capitão reclamava muito de perseguição por causa da relação com Bolsonaro.

"Ele falava para mim: 'Orelha, nunca vi isso. Estamos se fudendo por ser amigo do presidente da República. Porra, todo mundo queria uma porra dessa. Sou amigo do presidente da República e tô me fudendo'. Morreu por causa disso", desabafa.

As relações entre Bolsonaro e Adriano da Nóbrega estão explicitadas em cargos obtidos pela ex-esposa do oficial e pela mãe no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa fluminense.

Segundo a "Folha", o Palácio do Planalto e a defesa de Daniela da Nóbrega optaram por não comentar os áudios.

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