Eleições

Bolsonaro corre contra tempo para reverter em votos o pacote de bondades

Com o atraso, é quase certo que o benefício só comece a ser pago a partir de agosto.

Ingrid Soares
postado em 10/07/2022 07:00
 (crédito:  Divulgação/Internet)
(crédito: Divulgação/Internet)

Apesar do adiamento da votação da PEC dos Benefícios para terça-feira, durante última semana antes do recesso parlamentar, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e equipe continuam confiantes na aprovação da medida que vai liberar R$ 41 bilhões para o aumento do Auxílio Brasil — de R$ 400 para R$ 600 — e o voucher de R$ 1 mil aos caminhoneiros autônomos. A PEC é a principal cartada de Bolsonaro na corrida à reeleição, com vistas a melhorar seu índice de popularidade e o desempenho nas pesquisas eleitorais, que apontam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na dianteira. Porém, o governo corre contra o tempo para fazer os benefícios chegarem na ponta da linha antes do pleito de outubro.

Com o atraso, é quase certo que o benefício só comece a ser pago a partir de agosto. Para especialistas, mesmo com a demora, o impacto será eleitoralmente positivo. No entanto, é difícil prever o quanto Bolsonaro poderá se beneficiar do pacote de bondades.

Ao Correio, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) diz que o aumento da aprovação de Bolsonaro já aparece nas últimas pesquisas e critica as tentativas de obstrução da votação da PEC. "A esquerda dizia que a economia se resolveria depois, e o depois chegou. Precisamos socorrer as pessoas e é lamentável que tenhamos tido tentativas de obstrução por parte dela", disse a parlamentar.

O líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), assegura que "o pacote será aprovado por quase unanimidade na próxima semana" e que "os prazos de implementação serão os possíveis".

Gil Castello Branco, diretor geral da ONG Contas Abertas, acredita que haverá tempo para os pagamentos se transformarem em votos, pois, mesmo que o pacote seja aprovado somente na próxima semana, os preparativos já estão em curso. "Diante do interesse político, o governo já deve estar mobilizando os órgãos envolvidos. O governo, quando quer, pode muito, ainda mais com o apoio expressivo do Legislativo. Em ano de eleições, curiosamente, o verbo gastar une parlamentares da direita, da esquerda e do centro. Creio que o festival de bondades poderá ter impacto maior do que muitos esperam. Porém, estimar o quanto exatamente essas medidas farão o candidato subir nas pesquisas é muito difícil", avalia.

Para a advogada constitucionalista Vera Chemin, mestre em direito público administrativo pela Fundação Getulio Vargas, o pacote de bondades terá impacto inicial, mas não será suficiente para definir a virada nas pesquisas, dada a polarização político-ideológica do país.

"(O pacote de bondades) não parece ser um fator determinante que garanta a reeleição de Bolsonaro. A capacidade de discernimento dos eleitores quanto aos problemas enfrentados como a economia e a inflação, além de episódios de investigações de corrupção envolvendo o atual governo serão variáveis que poderão determinar essa escolha."

Na avaliação de Ricardo Caichiolo, cientista político do Ibmec-DF, o pacote deverá ser aprovado com amplo apoio, "mesmo sendo altamente reprovável pelo reflexo negativo na economia no curto, médio e longo prazos". Para ele, isoladamente, as medidas não serão capazes de cooptar votos para Bolsonaro. "Trata-se da última cartada na tentativa de reverter um cenário eleitoral que se mostra amplamente favorável à eleição do ex-presidente Lula. Entretanto, a aplicação de tamanhos recursos em programas sociais não atrairá votos suficientes para que o atual presidente seja reeleito."

Caminhoneiros

Dois dos benefícios - o Auxílio Brasil e o Vale Gás - têm estruturas já regulamentadas, o que facilita a ação do governo na transferência dos recursos aos grupos contemplados, observa Pedro Pitanga, analista de risco político da Dharma Politics. Por isso, o desafio está na regulamentação dos demais programas da PEC. "A tendência é que, diante da celeridade do governo para realizar esses pagamentos, há ainda a possibilidade de novas medidas provisórias, com força de lei, deixando para um segundo momento a análise congressual das Mps."

"A fotografia de momento nos revela ainda que o principal desafio de Bolsonaro está em reduzir a tendência de alta rejeição em comparação com os demais pré-candidatos. Por isso, aposta na PEC como resposta à alta inflacionária, que traz a percepção do cenário econômico como o maior problema do governo, que tem impactado sua performance", disse ele.

O cientista político Cristiano Noronha, da Arko Advice, prevê que a PEC trará impacto positivo para a popularidade do presidente. "Daí a resistência da oposição. Se percebesse que não há impacto forte, votaria sem estratégia de prorrogar ou classificar a PEC como eleitoreira. A grande dúvida é mensurar qual será o impacto. Acredito que os valores já serão pagos a partir de agosto. A dúvida é qual o tamanho do impacto positivo na popularidade dele. Essa é a incógnita."

Apesar da expectativa, mesmo aliados do presidete se mostram descontentes, como os caminhoneiros. O presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava) e líder dos caminheiros, Wallace Landim, o Chorão, classificou a PEC como "esmola" e tentativa de "compra de voto".

"Mil reais não resolvem o problema dos caminhoneiros autônomos, é uma afronta à nossa inteligência, uma tentativa clara de comprar o direito mais digno de um cidadão, que é o seu voto", declarou por meio de em nota.

Comitê de campanha

Em outra frente, Bolsonaro dá andamento aos preparativos do evento que oficializará sua pré-candidatura à reeleição, no dia 24 de julho, no Rio de Janeiro. O chefe do Executivo comporá chapa com o general Walter Braga Netto como vice. O ex-ministro também será um dos coordenadores da campanha. O comitê eleitoral já está operando em uma casa do Lago Sul. Para reforçar a equipe de coordenação, o presidente trouxe de volta o ex-secretário de Comunicação Social da Presidência Fabio Wajngarten.

 


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