Na cerimônia de sanção o novo programa Mais Médicos, ontem, no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostrou até onde está disposto a ir nas negociações com o Centrão sobre os espaços no governo federal. Reafirmou que o Ministério da Saúde está fora do pacote de concessões e reforçou que a titular da pasta, Nísia Trindade, faz parte de suas escolhas pessoais.
"Tenho muito orgulho de ter escolhido a Nísia como ministra da Saúde. Estou dizendo isso porque estamos em um período que o Congresso está de férias e todo dia eu leio nos jornais a troca de ministros. Já troquei todo mundo, só falta eu mesmo me trocar. Deixa eu falar uma coisa para vocês: vou viajar agora e disse para Nísia, publicamente, que têm ministros que não são trocáveis. Têm pessoas e funções que são uma coisa de escolha pessoal do presidente. Ela não é ministra do Brasil, ela é minha ministra", avisou.
Desde a montagem do primeiro escalão do governo, o Ministério da Saúde é razão de cobiça do Centrão. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), à época conversou com Lula que entregar a pasta — de alto orçamento e capilaridade por causa dos programas — garantiria a adesão do bloco. O presidente, porém, recusou a proposta. A pasta "herdou" do último governo R$ 3 bilhões em emendas parlamentares provenientes do extinto orçamento secreto.
Na quinta-feira, Lula garantiu a permanência de Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome — responsável pelo programa Bolsa Família. "Esse é um ministério meu. A Saúde não sai. Não é o partido que quer vir para o governo que pede ministério. É o governo que oferece o ministério", disse Lula em entrevista à Rede Record.
Mulheres na mira
Exceto pela pasta que tem Wellington à frente, o Centrão mira postos comandados por mulheres. Obteve, até agora, apenas o Ministério do Turismo, mas vem deixando o presidente em saia-justa diante da possibilidade de descumprir uma promessa de campanha — o que faz da terceira Presidência de Lula a que reuniu o maior número de mulheres no primeiro escalão.
Além de Nísia, a ministra do Esporte, Ana Moser, virou alvo do Centrão, que sonha em remanejá-la para a presidência do Comitê Olímpico Brasileiro a fim de que o deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) a substitua. O problema é que o COB é uma entidade privada e o comandante é escolhido por meio de eleição.
Nem mesmo a ministra de Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, está a salvo da dança das cadeiras que o Centrão almeja. A ideia seria colocá-la na pasta da Mulher, substituindo Cida Gonçalves.
A Caixa Econômica Federal também consta na lista de postos cobiçados pelo Centrão. Mas, dentro do governo, é grande a pressão para que a presidente Rita Serrano seja blindada. Tanto que na cerimônia de sanção do novo Minha Casa Minha Vida, na quinta-feira, ela foi recebida por um coro de apoiadores pedindo que permaneça no cargo.
A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, minimizou a questão, ontem, antes da última plenária da plataforma Brasil Participativo, que busca colher sugestões para o Orçamento Participativo e o Plano Plurianual (PPA) 2024-2027.
"Temos o ministério mais feminino de toda a história. É claro que, às vezes, um ajuste ou outro precisa ser feito. Precisou ser feito no Ministério do Turismo", disse. A troca na pasta, com a entrada do deputado Celso Sabino (União-PA) no lugar da também deputada Daniela Carneiro (União-RJ), foi oficializada, ontem, na edição extra do Diário Oficial da União (DOU).
Mas, para Tebet, eventuais trocas na Esplanada não significam redução da representação feminina no primeiro escalão. "Não tenho dúvida de que, seja qual for a alteração, as mulheres continuarão ou irão para outros ministérios, outros espaços de poder extremamente relevantes. E continuarão, proporcionalmente, com a representatividade que têm hoje. O governo Lula, desde o início, foi de frente ampla. Precisamos de maioria no Congresso. É natural que partidos que querem participar do governo peçam espaços", afirmou.
O evento do PPA reuniu, entre outros, a ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) e o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. Ana Moser também estava presente e seu discurso foi um dos mais aplaudidos pela audiência — quase toda composta de representantes de movimentos sociais.
E em reação à tentativa de avanço do Centrão contra ela, a plateia entoou o coro "Ana fica, Ana fica" — claro recado da base petista para Lula e os ministros da articulação política.
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