ELEIÇÕES

Lula diz que nada mudará nas relações com a Espanha se direita vencer

Presidente tem ressaltado a importância de manter boas relações com a Espanha, mesmo que a esquerda saia do poder. A economia espanhola é hoje importante destino das exportações brasileiras

Vicente Nunes - Correspondente
postado em 23/07/2023 11:19 / atualizado em 23/07/2023 11:20
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concede entrevista coletiva em Bruxelas, Bélgica, após cúpula entre Celac e União Europeia 19/7  -  (crédito: Ricardo Stuckert)
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concede entrevista coletiva em Bruxelas, Bélgica, após cúpula entre Celac e União Europeia 19/7 - (crédito: Ricardo Stuckert)

Lisboa — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva amanheceu este domingo com todas as atenções voltadas para a Espanha, onde acirradas eleições podem levar a extrema-direita ao poder. Se todas as pesquisas estiverem corretas, o PP, partido de direita que tem como líder Alberto Núñez Feijóo, terá de se aliar ao radical VOX, de Santiago Abascal Conde, para alcançar a maioria de 176 das 350 cadeiras do Parlamento.
Lula já emitiu vários recados de que, independentemente, dos vencedores no pleito espanhol, manterá um diálogo aberto e institucional com a Espanha. Não sem razão. Os espanhóis são o segundo maiores investidores estrangeiros na economia brasileira e o Brasil se transformou no quinto maior exportador para a Espanha, graças às vendas de petróleo, em substituição ao óleo produzido pela Rússia, alvo de sanções depois de invadir a Ucrânia.

Tanto na visita que fez à Espanha, em abril, quanto na recente ida a Bruxelas para a reunião de cúpula entre a União Europeia e a Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), Lula deixou claro que a ideologia política não pode se sobrepor aos interesses do país. Questionado sobre a possível vitória da direita espanhola, em associação com o radical VOX, o líder brasileiro foi enfático ao ressaltar que nada mudaria nas relações com a Espanha, porque os escolhidos pelas urnas têm respaldo popular. Portanto, não cabe a ele, como presidente do Brasil, desrespeitar a maioria dos votantes espanhóis. “Nossa relação com a Espanha continuará no mesmo nível de respeito, independentemente das eleições”, assinalou.

Lula, porém, não esconde a preferência pela continuidade do Partido Socialista, o PSOE, do atual primeiro-ministro, Pedro Sánchez, que está no poder desde 2018. A proximidade entre eles é grande. O brasileiro fez questão de emendar a visita a Portugal à da Espanha, em abril, e, depois de dizer várias vezes que não participaria da reunião de cúpula entre a União Europeia e a Celac, acabou cedendo aos insistentes convites de Sánchez. Afinal, a Espanha estava assumindo a presidência temporária da UE e o Brasil, a do Mercosul. Era hora de juntar forças para destravar as negociações de um acordo entre os dois blocos comerciais que se arrastam há mais de 20 anos. Hoje, o tratado é considerado vital pelos europeus.

As mais recentes pesquisas de intenção de votos apontam que o PP tem 34% da preferência do eleitorado, seguido do partido de Sánchez, com 29%. No terceiro lugar, há um empate entre o VOX e o esquerdista Sumar, ambos com 14%. O restante está dividido entre legendas de menor expressão. As eleições espanholas estão ocorrendo no meio das férias e de uma onda de calor que passa de 40 graus. O pleito estava marcado para dezembro, para o primeiro-ministro decidiu antecipá-lo com o intuito de conter a movimento crescente da direita e, sobretudo, da extrema-direita, que tiveram vitórias importantes nas recentes disputas regionais. Até as 14h deste domingo (9h da manhã do Brasil), quase 41% dos eleitores já tinha comparecido às seções eleitorais para votar.

A Espanha é a quarta maior economia da União Europeia e, desde o fim do regime violento e sangrento da ditadura fascista de Francisco Franco, que durou 40 anos, vem sendo sistematicamente comandada por partidos de esquerda, mais progressistas. Apesar da boa recuperação da economia depois da crise financeira de 2008 e da pandemia do novo coronavírus, aumentou a insatisfação de grupos que se sentem excluídos dos programas de governo, especialmente dentro da classe média. Também há um descontentamento com o movimento de imigrantes, a despeito da importância deles para o funcionamento pleno da economia. A xenofobia e o racismo encontram amparo nos posicionamentos da direita extremista.

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