Caso Marielle

PF detalha dinâmica do crime

Corporação encaminhou ao STF relatório de 479 páginas que refaz todo o caminho trilhado pelos criminosos

Lewandowski e Rodrigues informaram que as investigações podem ser retomadas, se houver fatos novos -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Lewandowski e Rodrigues informaram que as investigações podem ser retomadas, se houver fatos novos - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
postado em 25/03/2024 03:56

Um ano após entrar oficialmente nas investigações do caso Marielle, a Polícia Federal entende que a participação da corporação está encerrada. A informação foi repassada ontem pelo diretor-geral da instituição, Andrei Rodrigues.

Os investigadores enviaram ao Supremo Tribunal Federal (STF) um relatório detalhado, de 479 páginas, que narra como ocorreram os primeiros planejamentos para o crime; a cooptação de atiradores pelos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, os mandantes; as tentativas de atrapalhar o andamento das diligências e o trabalho de contrainvestigação para impedir que os nomes dos mandantes fossem conhecidos.

A surpresa no documento está na participação do delegado Rivaldo Barbosa, que assumiu a chefia da Polícia Civil do Rio de Janeiro um dia antes de o atentado ser cometido. Ele foi escolhido para o cargo pelo general Fernandez Nunes, então secretário de Segurança Pública. Fernandez foi nomeado pelo general Braga Netto, interventor federal no Rio durante o governo do ex-presidente Michel Temer. Em 2022, Braga Netto, que foi ministro do ex-presidente Jair Bolsonaro, concorreu como vice em sua chapa.

Rivaldo foi apontado como o articulador do atentado pelo ex-policial Ronnie Lessa, em delação. De acordo com Andrei Rodrigues, não é possível apontar apenas um fator para justificar os assassinatos, mas ele destacou que as responsabilizações dos envolvidos poderão ocorrer a partir da conclusão do inquérito. Porém, segundo ele, novos fatos podem motivar outras ações por parte das autoridades policiais. "Neste momento, a PF encerra essa atuação apontando não só os mandantes, mas também os executores. Mas isso não impede que outras situações sejam analisadas. Não houve uma só motivação. Mas há um conjunto de fatores de políticos de oposição. Existe um fator envolvendo milícia, disputa por regularização fundiária", explicou.

Planejamento

As diligências mostram que o crime começou a ser planejado em 2017 e as preparações aumentaram no segundo semestre do mesmo ano e só não ocorreram ainda naquela época devido a estratégias para dificultar que os executores e mandantes fossem identificados. As investigações apontam que o planejamento da morte de Marielle envolveu um miliciano infiltrado no PSol. De acordo com relatório final do caso, Laerte Silva de Lima se filiou à sigla cerca de um ano antes da execução da vereadora e era responsável por "levantar informações internas" da legenda.

A PF constatou que, no período que antecedeu a morte de Marielle, Laerte manteve "intensa comunicação" com o major Ronald, miliciano indicado como um dos autores intelectuais do assassinato. Laerte é membro da milícia de Rio das Pedras e tinha ligação estreita com o Escritório do Crime — quadrilha de matadores de aluguel que atua na Zona Oeste do RJ. Lessa, o atirador que fez os disparos que mataram Marielle e Anderson, receberia lotes em um empreendimento na Zona Oeste do Rio como recompensa pelo crime.

Defesa

A defesa de Domingos Brazão informou que o conselheiro do TCE foi "surpreendido" pela determinação do STF. Em nota, ele "reforça a inexistência de qualquer motivação que possa lhe vincular ao caso e nega qualquer envolvimento com os personagens citados".

O advogado de Rivaldo Barbosa, Alexandre Dumans, disse que seu cliente não obstruiu as investigações. "Foi exatamente durante a administração dele que o Ronnie Lessa foi preso", argumentou o advogado.

Já o deputado Chiquinho Brazão não se manifestou até o fechamento desta edição. Na semana passada, no entanto, quando já se especulava sobre a sua atuação, o parlamentar disse, em nota, que o seu convívio com a vereadora "sempre foi amistoso e cordial, sem espaço para desavenças."

Em nota publicada ontem, por meio de seus advogados, o general Braga Netto afirmou que a nomeação de Barbosa era atribuição do general Richard Fernandez Nunes, que atuava como secretário de Segurança Pública do Rio, e negou que ele tenha decidido sobre a escolha.

 


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