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Brasil pode liderar a transição energética, dizem especialistas

Autoridades e especialistas ressaltam que o país reúne condições excepcionais para assumir o protagonismo na bioeconomia e no enfrentamento das mudanças climáticas. Internamente, precisará encontrar soluções para a crise fiscal

 17/12/2024 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF -  CB Debate ? Desafios 2025: O futuro do Brasil em pauta.Gilmar Mendes, ministro decano do STF. -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB)
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17/12/2024 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF - CB Debate ? Desafios 2025: O futuro do Brasil em pauta.Gilmar Mendes, ministro decano do STF. - (crédito: Marcelo Ferreira/CB)

Em 2025, o Brasil tem um caminho inequívoco a percorrer: o do crescimento econômico sustentável.Esse esforço deve estar alinhadoàs necessidades ambientais e às transformações motivadas pela emergência climática e a economia mundial. Esse foi o prognóstico apresentado por autoridades e especialistas reunidos ontem na sede do Correio Braziliense.

As perspectivas políticas e econômicas para o próximo ano foram temas tratados no evento CB Debate Desafios 2025: o futuro do Brasil em pauta. Ao anunciar as boas vindas aos convidados, o presidente do Correio Braziliense, Guilherme Machado, destacou a importância de uma reflexão qualificada das grandes questões da atualidade. “É uma oportunidade para debater transformações e tendências no cenário econômico, social e ambiental previstas para o próximo ano”, destacou.

Na abertura do evento, o ministro Gilmar Mendes, decano do Supremo Tribunal Federal (STF), destacou a longa contribuição da Corte para a sustentabilidade. Ele apontou que as mudanças climáticas são “tema incontornável do nosso tempo”. “Seguramente a transição energética desempenha um papel fundamental no enfrentamento desta problemática. Apesar de negacionistas de toda sorte, a realidade de eventos extremos no novo normal vai forçando a humanidade a lidar com as repercussões de séculos de exploração econômica, muitas vezes, despreocupada com o meio ambiente”, afirmou Gilmar Mendes.

O ministro do STF destacou que o Brasil já é um exemplo na transição energética: “A situação brasileira é bem diferente dos demais países, dada a composição já altamente renovável de sua matriz energética e elétrica.” O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, traçou um panorama sobre os avanços e desafios da economia brasileira.

Segundo ele, o país vivenciou um cenário positivo de crescimento em 2024, impulsionado pelo consumo das famílias, investimentos e um mercado de trabalho aquecido. Mas 2025 deve apresentar situações complexas, com inflação pressionada, juros altos e um cenário fiscal que inspira atenção. Entre os principais fatores destacados está a trajetória da dívida pública.

Embora tenha elogiado a direção do pacote fiscal enviado pelo governo ao Congresso, Sidney reforçou a necessidade de medidas adicionais. “Não basta estar na direção correta. É preciso chegar ao destino, que é interromper a trajetória da dívida pública”, alertou.

O presidente da Febraban citou outros fatores. Apontou o cenário externo como fonte de volatilidade. Disse ainda que as expectativas de inflação seguem como um ponto de atenção para o país. Para o próximo ano, o executivo prevê uma economia mais contida. O país deve iniciar 2025 com “inflação mais alta, juros mais elevados e um dólar valorizado”

Essas variáveis, aliadas à redução do impulso fiscal e às incertezas sobre o ambiente externo, trarão desafios adicionais ao crescimento. “O setor bancário seguirá colaborando para alavancar o crescimento, sem perder de vista a análise cautelosa do risco de crédito”, concluiu Sidney.

Repensar o Estado

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, adotou um tom mais crítico. Fez duras análises sobre o cenário econômico e ambiental do país a partir do próximo ano, alertando para o crescimento descontrolado da dívida pública. “O Brasil perdeu espaço na globalização e, hoje, enfrenta um cenário preocupante. O aumento da dívida pública traz inflação alta, taxa Selic elevada e risco de deterioração para 2025. Isso afeta diretamente todos os estados”, avaliou.

Caiado também criticou a falta de clareza sobre o sistema político atual, questionando o papel dos governadores na definição dos orçamentos estaduais. “Não sabemos se estamos no presidencialismo ou no parlamentarismo”, questionou em tom irônico. “Precisamos inverter essa lógica e repensar o Estado brasileiro, com foco em infraestrutura, geração de emprego e crescimento da economia”, enfatizou o governador.

Também convidado para o seminário, o presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Ricardo Cappelli, apontou vários caminhos possíveis para tornar o Brasil um protagonista em um contexto de economia sustentável. “Temos inúmeras oportunidades, que vão do hidrogênio verde, passando por biocombustíveis de diversos tipos, nossa grande fonte de energia limpa como eólica, etc. São cadeias produtivas com possibilidade de grande impacto econômico, e a capacidade do Brasil nesse aspecto é gigantesca”, disse.

Rollemberg em tom otimista

O secretário de Economia Verde, Descarbonização e Indústria do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Rodrigo Rollemberg, está confiante com as perspectivas para o Brasil em 2025. Ele destacou o potencial do país para se consolidar como líder global na transformação ecológica. Em tom otimista, o secretário ressaltou os esforços do governo federal para alinhar crescimento econômico e preservação ambiental.

“O Brasil possui a maior biodiversidade do planeta, uma matriz energética limpa, abundância de biomassa e água, além de capacidade científica e industrial diversificada. Estamos transformando essas características em vantagens competitivas com uma política industrial focada na sustentabilidade”, afirmou.

Rollemberg destacou avanços no desenvolvimento sustentável por meio de políticas de descarbonização, da regulamentação do mercado de carbono e das oportunidades no setor industrial e agrícola. Na avaliação do secretário, essas políticas visam não apenas reduzir as emissões de gases de efeito estufa, mas também atrair investimentos e estimular a reindustrialização verde do país.

“A regulamentação aprovada cria segurança jurídica e previsibilidade, o que é fundamental para atrair investidores. No setor do combustível sustentável de aviação (SAF), por exemplo, o Brasil possui rotas tecnológicas que o posicionam como um dos maiores potenciais produtores e exportadores globais”, pontuou. Apesar dos avanços, o ex-governador do Distrito Federal comentou o momento econômico. Criticou elevada taxa de juros no país, que, segundo ele, pode comprometer o fluxo de investimentos nos setores verdes. “Precisamos compreender os desafios reais da economia. Com o crescimento do PIB superando as expectativas e a menor taxa de desemprego histórica, não faz sentido manter juros tão elevados”, observou.

O secretário concluiu a sua participação reforçando o potencial do Brasil no contexto econômico global. “O Brasil tem condições de liderar a economia verde mundial. Podemos dobrar a nossa produção de biocombustíveis, descarbonizar a aviação global, restaurar florestas e transformar a agricultura num setor que remove mais carbono do que emite. O futuro passa pelo Brasil, e estamos prontos para essa responsabilidade”, finalizou.

O seminário Desafios 2025: o futuro do Brasil em pauta é uma realização da Arena Comunicação, com patrocínio da Brasal e Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI); apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Federação Brasileira de Bancos (Febraban); e apoio de comunicação do Correio Braziliense.

Rafaela Gonçalves
Renato Souza
Fernanda Strickland
Vanilson Oliveira
postado em 18/12/2024 04:00