
Gilberto Nascimento (esq.), Otoni de Paula (meio) e Greyce Elias (dir.) disputam o comando da bancada, que será definido nesta quarta - (crédito: Mário Agra e Bruno Spada/Câmara)
A Frente Parlamentar Evangélica (FPE) elege nesta terça-feira (25/2) o presidente que vai comandar a bancada pelos próximos dois anos. Esta é a primeira vez que falta acordo em torno de um nome e que os parlamentares terão de decidir no voto. Os deputados Gilberto Nascimento (PSD-SP) e Otoni de Paula (MDB-RJ) são os principais candidatos em um embate que já dura meses. O pleito está marcado para às 17h na Câmara.
Quem também entrou na disputa foi a deputada Greyce Elias (Avante-MG), ligada à Sara Nossa Terra, que tem poucas chances de vencer, apesar de ser apoiada por várias deputadas que querem fortalecer a participação feminina na bancada.
A percepção de parlamentares ouvidos pelo Correio é de que, por ter entrado “tarde” na disputa, a maioria dos votos já estava prometida a Nascimento ou a Otoni de Paula. Mas, como o voto é secreto, é possível haver traições.
Gilberto Nascimento é apoiado pela ala mais bolsonarista e conservadora da bancada. Membro da Assembleia de Deus desde a juventude, Nascimento é próximo do pastor Silas Malafaia, um dos principais aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Tem também boa entrada no governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP).
O Correio conversou com os dois deputados na segunda-feira (23/2), véspera da eleição. Nascimento disse estar tranquilo sobre a eleição e que entende que “nada acontece por acaso”, argumentando que aceitará o resultado, seja ele qual for.
Defendeu que, independentemente de quem seja o ganhador, a bancada volte a se unir para fazer avançar temas que são de interesse da população evangélica. “Nunca tive preocupação com a véspera da eleição. Vou dar o meu melhor”, disse Nascimento.
Já Otoni de Paula, também da Assembleia de Deus, é visto com maus olhos pelas alas alinhadas ao bolsonarismo por suas críticas ao papel que esse movimento assumiu entre lideranças evangélicas. Critica, por exemplo, a proximidade do pastor Silas Malafaia com Bolsonaro e a “patrulha” que seus colegas bolsonaristas fazem sobre suas opiniões.
O deputado também foi alvo de críticas depois de participar de um evento com Lula (PT) no Palácio do Planalto em outubro do ano passado. Na ocasião, o presidente sancionou a lei que institui o dia da música gospel em todo o território nacional e recebeu elogios de Otoni de Paula, o que foi visto pelos colegas de bancada como uma aproximação ao governo.
“Eu sou um político de direita, conservador que nunca votou no Lula e nunca votou no PT. Por que eu seria agora menos direita e menos conservador porque fui ao Palácio?“, disse o deputado, ao argumentar que sua ida ao evento se deu para representar a bancada evangélica. Ele voltou a negar que esteja se aproximando do governo, embora defenda que a frente parlamentar deveria priorizar pautas sociais.
“(Se eu for eleito), nossa prioridade seria primeiro mudar esse conceito da frente de defender as pautas morais, como se nós fôssemos a palmatória do Congresso e do Brasil. Precisamos manter essa defesa conservadora, mas também nas pautas sociais, que são as pautas da igreja, de Cristo, que é a comida na mesa do pobre, uma distribuição de renda mais justa, o direito à reforma agrária. Por que essas pautas que são cristãs deixamos que sejam dominadas pela esquerda?”, afirmou.
Isenção a igrejas
Apesar das discordâncias ideológicas, as alas da bancada se unem quando o assunto é isenção tributária às igrejas. Na Câmara, há uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do deputado Marcelo Crivella (Republicanos-RJ), que concede imunidade tributária a templos religiosos e a partidos políticos.
Em uma bancada com mais de 200 signatários, embora pouco mais de 100 pertençam, de fato, a igrejas evangélicas, garantir que os templos poupem recursos é uma prioridade. Nesse ponto, tanto Gilberto Nascimento quanto Otoni de Paula defendem a união da bancada.
“Até para aprovar um projeto ou evitar que algum outro avance, o diálogo é fundamental. Evita até embates no plenário. Temos a PEC 5 do deputado Crivella, que é tão importante para nós, e ela só vai se tivermos diálogo com o governo, se não ela não avança”, disse Otoni.
A PEC 5 de Crivella já passou pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) e pela comissão especial destinada a discutir o tema.