Investigação

Bolsonaro diz que ex-ajudante sofre tortura, mas Cid nega coação em delação

Defesa de Mauro Cid garantiu que não houve qualquer tipo de pressão de Moraes ou dos investigadores durante processo. Ex-presidente, porém, alega tortura psicológica e questiona validade do acordo

Bolsonaro diz que Mauro Cid foi
Bolsonaro diz que Mauro Cid foi "torturado" para delatá-lo; ex-ajudante de ordens nega - (crédito: Alan Santos/PR)

A defesa do tenente-coronel Mauro Cid afirmou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro não foi coagido a prestar depoimento em seu acordo de delação premiada — umas das peças centrais da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR). Na quinta-feira (6/3), os advogados do militar garantiram que não houve qualquer tipo de pressão do ministro Alexandre de Moraes ou dos investigadores durante o processo.

“Jamais a defesa constituída admitiria qualquer espécie de coação ou induzimento na prestação de informações por Mauro Cid; jamais admitiria ou se submeteria a qualquer ato de coação ou na negociação de um acordo que comprometesse o seu mais amplo direito de defesa, um contraditório legalista, elementos do devido processo legal garantido pela Carta Maior”, declarou a defesa. 

O posicionamento foi apresentado após o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro resgatar um áudio antigo de Cid, horas antes do prazo final para manifestação dos denunciados, em que diz ter sido pressionado a confirmar informações ao colaborar com a Polícia Federal (PF) em sua delação. A gravação, que circulou inicialmente em março de 2024, foi usada pela defesa do ex-presidente para questionar a validade do acordo e solicitar sua anulação.

“Ele queria que eu falasse coisa que não aconteceu. Não adianta. Você pode falar o que você quiser. Eles não aceitavam e discutiam. Discutiam que minha verdade não era verdadeira, que não podia ter sido assim, que eu estava mentindo… eles já estão com a narrativa pronta. Eles não queriam saber a verdade. Eles queriam só que eu confirmasse a narrativa deles”, relatou Cid na gravação. 

Em entrevista recente a Leo Dias, o ex-presidente afirma que “Cid foi obrigado a falar certas coisas” e que se coloca no lugar dele. “Ele foi torturado. Meus advogados pediram (acesso ao depoimento), ele (Cid) esteve 11 vezes depondo, pedimos todos os vídeos do começo ao fim, sem cortar. Em todos esses vídeos, você vê o ‘dono do inquérito’ falando: ‘Você tem um pai, uma mãe, uma filha’, (é) tortura, tortura psicológica”, disse Bolsonaro.  

Apesar da repercussão, Cid já havia prestado um novo depoimento ao STF em 22 de março daquele ano, negando a alegação de coação. Na ocasião, afirmou que os áudios foram um “desabafo” feito em um momento difícil: “Todo mundo acaba dizendo coisas que não eram para serem ditas”, disse. E afirmou que não se lembrava exatamente para quem havia enviado as mensagens.

Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

Neste ano, a defesa do militar, comandada por Celso Vilardi, reforça que a delação premiada deve ser mantida e pede a rejeição da denúncia feita pela PGR contra ele, alegando falta de justificativa para o prosseguimento da ação penal.

Do outro lado, a defesa de Bolsonaro argumenta que a delação de Cid foi conduzida de forma irregular e está “viciada pela absoluta falta de voluntariedade”. O ex-presidente e seus advogados sustentam que há contradições nas declarações do militar e classificam seu relato como um conjunto de “mentiras e omissões”.

Danandra Rocha
postado em 07/03/2025 15:07 / atualizado em 07/03/2025 15:09
x