Trama golpista

Bolsonaro: "Não queria passar a faixa para um cara com o passado do Lula"

Réu por tentativa de golpe, o ex-presidente disse que estava fora do país quando seus apoiadores destruíram as sedes dos Três Poderes no 8 de janeiro

O ex-presidente defendeu o projeto de anistia, criticou o ministro Alexandre de Moraes e negou que tenha tentado dar um golpe  -  (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)
O ex-presidente defendeu o projeto de anistia, criticou o ministro Alexandre de Moraes e negou que tenha tentado dar um golpe - (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)

Depois de ser declarado réu pela 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado nesta quarta-feira (26), o ex-presidente Jair Bolsonaro admitiu que deixou o país no fim de 2022 para não passar a faixa presidencial a Luiz Inácio Lula da Silva. Ele argumentou que, por estar ausente do Brasil, não tem ligação com os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

"Graças a Deus eu saí aqui dia 30 de dezembro. Porque eu não queria passar faixa para um cara com passado como Lula tem. Não há crime nenhum em não passar a faixa. Não tá escrito que é proibido (não) passar a faixa. Fui para Estados Unidos", alegou.

"Pelo amor de Deus. Eu sou golpista? Em 8 de janeiro eu estava nos Estados Unidos. Uma das cinco acusações contra mim é destruição de patrimônio. Só se for por telepatia. Fizeram pesca probatória, reviraram a vida de todo mundo, três buscas e apreensão em casa. Não acharam nada a meu respeito. O próprio (Mauro) Cid falou que os militares estavam de férias no início de janeiro", emendou Bolsonaro.

Assista ao pronunciamento de Bolsonaro logo após ser declarado réu:


O ex-presidente disse ainda que “discutir hipóteses de dispositivos constitucionais” — a Polícia Federal concluiu que havia parte do seu entorno que defendia o uso do artigo 142 da Constituição para dar sustentabilidade legal ao golpe — não é crime. Quando foi questionado por um jornalista se ele de fato discutiu o assunto, evitou responder.

“Você não vai me tirar do sério”, disse. “A maioria aqui já sabe como eu ajo. Se começarem a tumultuar como você fez, eu vou embora”, afirmou Bolsonaro.

Bolsonaro nos EUA

A ida de Bolsonaro aos EUA se deu depois de dois meses de raras aparições públicas após a derrota eleitoral para Lula em 2022. A primeira delas foi em 9 de dezembro, quando disse que as Forças Armadas eram “o último obstáculo para o socialismo”.

Na ocasião, ele também criticou o uso da expressão “eu autorizo”, usada por apoiadores para pedir um golpe. “Não é ‘eu autorizo’, não. É o que eu posso fazer para a minha pátria. Não é jogar responsabilidade para uma pessoa, sou exatamente igual a cada um de vocês, de carne, osso, sentimento”, enfatizou.

Naquele dia, o então presidente também disse que é o povo quem decide para onde vão as Forças Armadas e que o país estava em um “momento crucial, uma encruzilhada”.

Antes disso, seu vice na chapa eleitoral, general Braga Netto (que está preso), disse aos apoiadores de Bolsonaro em frente ao Palácio da Alvorada para que se mantivessem esperançosos. “O presidente está bem, está recebendo gente. Vocês não percam a fé. É tudo o que eu posso falar para vocês agora”, comentou o militar em 18 de novembro de 2022.

A fala foi relembrada pelo ministro Alexandre de Moraes em seu voto na 1ª Turma hoje. Para o magistrado, tanto Braga Netto quanto Bolsonaro incentivaram os acampamentos golpistas que resultaram no 8 de janeiro de 2023.

Israel Medeiros
postado em 26/03/2025 16:36 / atualizado em 26/03/2025 16:41
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