Investigação

Abin paralela monitorou homônimo de Alexandre de Moraes, diz PF

Agente da inteligência teria espionado informações de um homem como mesmo nome do ministro do STF, um morador de SP que trabalhava como gerente de uma loja

Ministro Alexandre de Moraes durante sessão plenária do STF -  (crédito: Fellipe Sampaio/STF)
Ministro Alexandre de Moraes durante sessão plenária do STF - (crédito: Fellipe Sampaio/STF)

Em relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal apontou que um agente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) pode ter monitorado por engano um homônimo do ministro Alexandre de Moraes. A informação consta na investigação da chamada Abin paralela. O magistrado era um dos alvos da espionagem ilegal — que tinha como objetivo favorecer o ex-presidente Jair Bolsonaro e perseguir pessoas consideradas como “inimigas”. 

De acordo com o inquérito, há elementos que indicam que um agente de inteligência da instituição, identificado como Thiago Quinalia, teria usado o sistema First Mile e efetuado três pesquisas sobre uma pessoa chamada Alexandre de Moraes Soares, que mora em São Paulo, cidade natal do integrante da Suprema Corte.

"O registro, por exemplo, associado à pesquisa de 'ALEXANDRE DE MORAES SOARES' não apresenta nenhuma justificativa, levando à plausibilidade de terem sido realizadas 3 pesquisas do homônimo do excelentíssimo ministro relator no dia 18/05/2019. O homônimo alvo da pesquisa, ainda, reside no Estado de São Paulo", afirma o relatório da PF.

No entanto, trata-se de um homônimo do ministro do STF. De acordo com a investigação, o homem monitorado por engano pela Abin paralela sequer atua no Poder Judiciário e trabalhava como gerente em um estabelecimento comercial. 

Os investigadores também descobriram que o servidor responsável pelo monitoramento foi enviado à França como auxiliar de adido de inteligência e não retornou ao Brasil. 

Ele alegou "perseguição" e encerrou a a missão no exterior em abril de 2024, mas não embarcou de volta e acabou sendo demitido por "abandono de cargo" público. Em uma carta enviada ao atual diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, afirmou que não retornaria ao Brasil por "estar sendo perseguido".

“O servidor, que foi demitido por abandono de cargo, enviou uma carta ao diretor-geral LUIZ FERNANDO CORRÊA afirmando que não retornaria ao Brasil por afirmar estar sendo perseguido e que somente cumpria ordens em um setor responsável pela realização de pesquisas. Tal fato também é reflexo da posição da Direção-Geral acerca da presente investigação, classificando-a como política e com interesse de prejudicar os servidores”, diz trecho do relatório. 

Abin paralela 

A Polícia Federal concluiu, na terça-feira, o inquérito que investiga se a Abin foi usada de forma ilegal pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ao todo, 36 pessoas foram indiciadas pelo esquema criminoso, entre elas, o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL-RJ) e o atual diretor-geral da agência, Luiz Fernando Corrêa.  

Também foi investigado o funcionamento de uma organização criminosa montada para monitorar indevidamente autoridades públicas e produzir notícias falsas usando a estrutura da Abin. Oficiais, servidores e funcionários da Abin invadiram celulares e computadores sem autorização judicial. 

Eles teriam usado software FirstMile para espionar desafetos do governo Bolsonaro. Segundo a investigação, o sistema de monitoramento é capaz de detectar um indivíduo com base na localização de aparelhos que usam as redes 2G, 3G e 4G. Entre os alvos da Abin paralela, estavam ministros da Suprema Corte, políticos, jornalistas, além do ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), e membros da CPI da Covid, concluída em 2021.

A PF afirma que houve "uso reiterado de recursos humanos e materiais da Agência Brasileira de Inteligência para fins ilícitos, diversos das finalidades institucionais do órgão"  com liderança de “figuras de alto escalão” da gestão de Bolsonaro — responsável por definir diretrizes de espionagem e ataques a opositores políticos. 


postado em 18/06/2025 21:58
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